Princípio da Uma Só China: Garantia de cooperação e paz entre China e UE

 

12:54:55 2025-11-14                          https://portuguese.cgtn.com/2025/11/14/ARTI1763124891785883/,         

As autoridades de Taiwan, do líder  Lai Ching-te, eleito pelo Partido Progressista Democrático (PPD) com apenas 40% dos votos, beneficiando-se da divisão da oposição em duas candidaturas, tornaram-se cada vez mais minoritárias no chamado “Yuan Legislativo” da região. Suas tentativas de reverter essa situação por meio de referendos revogatórios terminaram em fracasso retumbante, por isso a estratégia para se manter no poder tem sido de procurar no exterior os apoios dos governos dos EUA, do Japão, da França, da Alemanha e do Reino Unido.

É, neste contexto, que se deve entender a recente visita a Bruxelas da representante de Taiwan, Bi-Khim Hsiao, à margem das instituições da União Europeia (UE) e da denominada conferência da “Aliança Interparlamentar sobre a China” (IPAC), que reúne deputados de predominância liberal e conservadora e define como  missão “Desenvolver uma resposta coerente à ascensão da República Popular da China (RPCh), liderada pelo Partido Comunista da China (PCCh)”. Embora não mencione a origem do seu financiamento, das seis entidades identificadas pelo seu site, três têm sede em Taiwan e uma quarta é o Instituto Republicano Internacional (IRI), instituição dos EUA criada por iniciativa do ex-presidente Ronald Wilson Reagan.

 As lições da crise da Nexperia (Chips)

A empresa, com sede em Nijmegen, nos Países Baixos, é subsidiária da Wingtech Technology, cotada em Shanghai e com parte do capital do Estado chinês. No final de setembro e em outubro de 2025, o governo holandês avançou contra a Nexperia, invocando questões de segurança e ameaças vagas à procura europeia por chips, recorrendo ao raramente postulado "Goods Availability Act". Um tribunal suspendeu o presidente-executivo da Nexperia. Em resposta, a China congelou as exportações de chips, e os construtores de automóveis temeram pela paralisação de fábricas, pois muitos dos semicondutores de gerações anteriores não têm alternativas imediatas.

Mas os sinais mais recentes de distensão entre Beijing e Haia, quanto aos controlos de semicondutores, superaram a crise. Ao repor parte das exportações, o governo chinês eliminou rapidamente o risco de perturbações na produção na Europa, e os fabricantes de carros receberam os primeiros chips da Nexperia, confirmou o responsável da Volkswagen na China, ao jornal alemão Handelsblatt. Ao mesmo tempo, a China suspendeu as restrições de envio aos Estados Unidos de  materiais críticos usados em chips, eletrónica e outros componentes de alta tecnologia. As medidas reduzem custos no curto prazo e aliviam a incerteza para as cadeias de abastecimento e o transporte marítimo. A empresa mãe da Nexperia viu suas ações subirem entre 3,02% e 9,7%.

Na promoção do desenvolvimento global sustentável e pacífico, em que domínios podem a China e a UE cooperar?

Se a Europa ceder às pressões do governo dos EUA, como o fez o Parlamento Europeu ao bloquear a aplicação do Acordo Global de Investimento (CAI), sob falsos pretextos associados a Xinjiang, e incentivar o separatismo em Taiwan, afetará irremediavelmente o futuro das relações entre a UE e a China. Recordemos a história recente: em dezembro de 2020, Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que o CAI permitirá “um acesso sem precedentes ao mercado chinês”. Em março de 2023, o CAI for  bloqueado pelo Parlamento Europeu, invocando as chamadas violações dos Direitos Humanos em Xinjiang. Então, Ursula Von der Leyen classificou a RPCh como um regime de capitalismo de Estado e um rival sistémico (Mercator). Em setembro de 2023, perante sinais crescentes de estagnação e recessão das principais economias europeias, Ursula Von der Leyen admitiu: "Temos de reconhecer que há um elemento explícito de rivalidade na nossa relação. Mas esta rivalidade não tem de ser hostil. Pode ser construtiva". (Mercator)

E, assim sendo, cito o próprio discurso da presidente da Comissão  Europeia, sobre a erradicação da pobreza e a diplomacia da paz da China, que constituem a essência da Declaração Universal dos Direitos do Homem e da Agenda 2030 das Nações Unidas para a transição ecológica e o desenvolvimento sustentável. “Em menos de 50 anos, a China saiu da pobreza generalizada e do isolamento econômico para se tornar a segunda maior economia do mundo e líder em muitas tecnologias de ponta. Desde 1978, o crescimento médio foi de mais de 9% ao ano e mais de 800 milhões de pessoas saíram da pobreza. Esta é uma das maiores realizações do último meio século”… E continua a Srª Von Leyen: “Existem algumas ilhas de oportunidade nas quais podemos construir. Vejam as mudanças climáticas e a proteção da natureza...... Num momento de conflito e tensão global, essas são conquistas diplomáticas notáveis, nas quais a China e a União Europeia trabalharam juntas”, afirmou.

“…ilhas de oportunidade”, segundo Ursula Von der Leyen

Para concluir: “Existem algumas ilhas de oportunidade nas quais podemos construir. A diplomacia ainda pode funcionar, seja na preparação para uma pandemia, na não proliferação nuclear ou na estabilidade financeira global. A China é um parceiro comercial vital. Enquanto os desequilíbrios estão crescendo, a maior parte do nosso comércio de bens e serviços permanece mutuamente benéfico e ‘sem riscos’. Isso mostra o que pode ser feito quando os interesses se alinham”.  Refere ainda a Net-Zero Industry Act como uma parte fundamental do Plano Industrial Green Deal. O seu objetivo não pode ser atingido sem a parceria da China, o único país que pode fornecer (à Europa e aos EUA), em quantidade e segurança, os materiais críticos, como gálio, germânio e antimónio, para  produzir pelo menos 40% da tecnologia limpa de que a UE precisa para a transição verde, como energia solar, eólica e offshore, energia renovável no sentido mais amplo, baterias e armazenamento, bombas de calor e tecnologias de rede.

As pessoas de Taiwan defendem a cooperação e o diálogo com a parte continental da China

O investimento europeu na ilha de Taiwan atingiu US$ 73,4 biliões, superando o total combinado entre os Estados Unidos e o Japão. Os líderes e cidadãos europeus necessitam conhecer a realidade política e escutar os apelos das pessoas em Taiwan. Na recente eleição no seio do Kuomintang (KMT) realizada em 18 de outubro, Cheng Li-wun foi eleita com 50,1% dos votos. Ela baseou a sua candidatura no Consenso de 1992, entendimento entre os dois lados do Estreito de Taiwan de que existe “Uma só China” e que a adesão a esse princípio traria um “século de paz” à nação chinesa. Em questões de segurança, opõe-se à visão do PPD sobre uma Taiwan militarizada e proclama que a “reconciliação” com a parte continental chinesa é a melhor defesa.

 

Por António dos Santos Queirós, professor e investigador. Universidade de Lisboa


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