Aquilino Ribeiro e a Filosofia da Natureza e do Ambiente


Projecto de investigação — FILOSOFIA E ARQUITECTURA DA PAISAGEM— FILARQPAIS (FCT PTDC/FIL-FIL/100565/2008)
«Representações da Natureza no Pensamento Português Contemporâneo»

Seminário Permanente VIII 
27 de Maio de 2011

Introdução

O epíteto de escritor regionalista ficou colado a Aquilino Ribeiro desde o prefácio de Carlos Malheiro Dias ao seu “Jardim das Tormentas”colectânea de Contos.
Na verdade, Aquilino utilizou como matéria-prima da sua escrita o falar dos homens e mulheres das Terras do Demo, com a liberdade poética que a criação literária permite e tornou-o inteligível com a linguística e a gramática portuguesa. De facto, criou um nova escrita, não com a subversão da norma contemporânea, mas pela re-estruturação do seu corpo morfológico com um vocabulário vernáculo, que nos conduz às primitivas representações da relação entre o ser humano e a natureza.
-- Sol, Sol! -- trauteiam os pardais,
tordas, melros e verdiais.
-- Sol, Sol! -- pede o tuinho na balsa
e o auricu que apagou o candil na salsa.
(...) O Livro de Marianinha

Manhã cedo, rompe a cantata,
nas árvores de fruto e pela mata.

Peto verdial, ou cavalinho, palavra de origem vernácula, provavelmente pré-latina, onomatopeica, “…o seu canto _ um forte grito matraqueado_ lembra o relinchar de um cavalo. “ (J.I. Louro) . Biodiversidade complexa.
O alcaravão ou piroliz ou preluiz. Burhinus oedicnemus
Aquilino Ribeiro escreve (em “Aldeia_Terra, Gente e Bichos”_1946), que, ao erguer, “soltam um grito lamentoso, voz campainhada, preluis! preluis! Que lhes valeu o nome” (J.L. Louro)
Procuraremos revelar ao longo do estudo dos escritos de Aquilino Ribeiro a sua visão da ecologia e da metafísica da paisagem, gerando propostas de mudança social e política e de fundação de uma nova ética.

Ecologia e Metafísica da Paisagem

Na sua obra, como em Torga ou Ferreira de Castro, o pensamento filosófico desenha-se na escrita literária como o veio atravessa ou impregna o filão mineral, numa linha de pensamento que remonta ao primeiro renascimento hispano-árabe e se desenvolveu em contacto com a diversidade natural que a época da expansão marítima proporcionou.
Incorpora progressivamente uma dimensão científica plural
a  Ecologia, enquanto ciência da relação dos seres com o meio biótico e abiótico
Geografia e a História quando estudam a humanização dos grandes quadros naturais a Biologia que revela a importância da diversidade dos seres vivos
Geologia que revela as condições paleo-ambientais geradoras dos ciclos de extinção e expansão da biodiversidade
Matemática que fornece modelos de gestão do ambiente
a Física e a Química quando analisam a qualidade dos elementos naturais do ambiente e os factores de poluição ou investigam os fenómenos de mudança climática ...
ao mesmo tempo que remete para a necessidade de avaliar o nosso modelo de crescimento nos planos da ética e da moral
Metafísica da paisagem, que é do domínio da “espiritualidade”, da “alma” das coisas, dos sentimento estéticos, da “beleza”  e do “belo” ou do “sublime” , do “épico e do” trágico”, do “maravilhoso” e do “misterioso”, da Literatura e da Arte, do imaginário individual e colectivo
Esta concepção científica ao conduzir a uma Filosofia nascida da observação e da leitura da paisagem e da síntese da Terra e do Homem que a habita e transforma (que designamos como «paisagem cultural»), mas ao mesmo tempo a ameaça degradar ou destruir, fundamenta a necessidade de uma ética ambiental.
Crítica ao antropocentrismo. Crítica ao etnocentrismo

A conservação dos valores ambientais da paisagem:
Camponeses, pastores, silvicultores
Ética ambiental e cultura camponesa

Tomemos os versos de Irene Lisboa.

Quem não sai da sua casa,
Não atravessa povos, montes , vales,
Não vê as cenas bíblicas das eiras,
…Cria mil olhos para nada...” [1]

A cultura camponesa com a qual Aquilino e Torga, Ferreira de Castro e Raul Brandão, Redol ou Namora conviveram, na primeira metade deste século, conservava nas relações com a terra, os animais, a paisagem humanizada, nos costumes e no imaginário mágico e religioso, uma ética antiquíssima que a luta pela sobrevivência e o conhecimento empírico da vida moldaram contraditoriamente.
Os fojos dos lobos são armadilhas que remontam à pré-história e permitiam o extermínio sistemático das alcateias, mas as peças de caça pejadas estavam interditas aos caçadores; as grandes aves de rapina, como os grifos, verdadeiros agentes sanitários que limpavam as serranias dos cadáveres e miasmas doentios eram respeitadas, mas as mais pequenas, como os milhafres, acusados de rapinar as capoeiras, eram perseguidos nos ninhos.
A proximidade entre os vizinhos, tal como do criador e do consumidor dos animais, quando as economias de subsistência resistiam ainda ao mercado único e capitalista, conduziam à permanência de laços de solidariedade social e de afectividade com os animais, hoje totalmente estranhos ao cidadão urbano que não convive com seu parceiro de condomínio e consome a carne iconizada (hamburger-cachorro-prego-rissol etc.) de exemplares completamente desconhecidos.
Paradigmas dessa afectividade perdida (e contraditória) são, por exemplo, a partilha social da dor da morte ou da alegria do casamento, com os rituais de velório e do funeral colectivos, ou a oferta de guloseimas aos vizinhos. São as lágrimas da mulher que criou o porco quando a matança se inicia, mesmo sabendo que esse sacrifício é essencial à subsistência do lar e a entrega dessa tarefa a um especialista estranho à família, chamado a executar impessoalmente o golpe fatal. São as canções de incitamento dos bois quando lavram e o corte diário de erva fresca para o "vivo" da casa... mas também o uso da vergasta e do aguilhão apenas quando já não há outro meio de conduzir o animal...
Os processos de domesticação conduziram a uma ética animal empírica que a produção moderna desprezou completamente:
A regra de aviar primeiro os animais domésticos e só depois servir a ceia.
A prática de criar os animais em territórios amplos, permitindo-lhes utilizar o espaço segundo as suas necessidades e ritmos biológicos, alimentares, de acasalamento e de pisoteio. O dever de ajudar as crias a nascer e a percorrer longas distâncias.


A preocupação de renovar regularmente as camas dos animais. O tratamento higiénico, os cuidados e afectos, prestados quotidianamente aos animais de locomoção.
A conservação dos exemplares envelhecidos ou diminuídos, já sem interesse económico. A morte piedosa de animais gravemente doentes ou aleijados por imperativo de pôr fim ao seu sofrimento visível e insuportável...
Constituem exemplos concretos, entre muitos outros, dessa ética imanente. Na verdade, não são apenas razões estritas de ordem económica ou de pragmatismo funcional que explicam a construção secular dessas práticas. Os animais possuem códigos de comunicação e resposta afectiva que interagem com o tratamento humano. E esse capital afectivo entrelaçou-se nas memórias e atitudes da consciência colectiva das comunidades rurais, transmitidas de geração em geração. O seu imaginário reconhece a transcendência ética destes factos e não apenas em função do imperativo religioso, por isso o antigo inimigo tira o chapéu na passagem do funeral e o camponês endurecido enterra o seu cão sem conseguir esconder os sentimentos de desgosto.
A mecanização do quotidiano anónimo das cidades e das suas práticas de consumo, a urbanização maciça do espaço rural, traduziram-se não apenas na redução do património biogenético dos campos mas também da sua herança ética secular, favorecendo o amoralismo e o indiferentismo deste fim de século. Veremos como os nossos escritores deram testemunho da existência daqueles valores e escreveram para os preservar e transmitir às gerações futuras, quando estas questões ainda não preocupavam as elites intelectuais dos países mais desenvolvidos.
Assim sendo, no quadro da Filosofia da Natureza e do Ambiente, a ecologia da paisagem conduz-nos à sua interpretação e leitura pela via das ciências.
A metafísica da paisagem parte desta epistemologia científica e articula-a com uma ontologia estética e cultural plasmadas na história, na vivência contemporânea e na prospectiva de futuro dos seus povoadores.

A Ética Ambiental

É igualmente notável e surpreendente encontrar na obra de Aquilino Ribeiro a constante presença dessa  “Via Sinuosa (1918)”  ambiental, desde os contos de  “Jardim das Tormentas”  (1913) até ao  “Livro da Marianinha”  (1963), com destaque para alguns escritos de onde emerge uma premonitória e nítida temática ambientalista.[2]
Tais são as obras de reflexão sobre a ética antrópica e a ética animal, do ciclo animalista que inclui  O Romance da Raposa  (1923), Arca de Noé, III Classe  (1935) e O Livro de Marianinha (1963).[3]

Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável

Os romances nos quais se analisa o impacto no mundo rural da expansão do capitalismo internacional, onde se pugna pela conservação da natureza e a favor do desenvolvimento sustentável, em  Volfrâmio (1944) e  Quando os Lobos Uivam  (1958).

Ecologia

E aqueles outros em que se revela uma aguda concepção da ecologia global, da infinidade das relações entre os seres vivos e a terra, que percorre a totalidade da sua obra, e atravessa claramente os livros  Terras do Demo (1919) e  A Casa Grande de Romarigães  (1957).

A Paisagem Cultural: O Santuário da Senhora da Lapa, nas Terras do Demo

Celebradas na sua biodiversidade, são as Terras do Demo, em que...”Quando se ergue uma lancha em terra húmida de lameira, acontece fervilhar aos nossos olhos toda uma fauna prodigiosa multicor.”[4]E a sua gente.

“É o mesmo povo, que vive em terras onde ... nunca Cristo ali rompeu as sandálias, passou el-rei a caçar, ou os apóstolos da Igualdade em propaganda. Bárbaras e agrestes, mercê apenas do seu individualismo se têm mantido, sem perdas nem lucros, à margem da civilização…”[5]

Subindo a serra da Lapa encontramos a capela de Nossa Senhora da Lapa, construída já no século XVII pelos jesuítas. Mas o culto remontaria ao século X, quando as investidas dos mouros obrigaram a população cristã a esconder uma imagem da Virgem numa gruta ou "lapa".
Era, segundo o Abade Moreira "grandioso, com escadaria cavada na rocha viva que alto arco sobrepuja".A igreja compõe-se de duas partes que se completam: o corpo e a capela-mor. Aquilino Ribeiro, fez os primeiros estudos no seu Colégio religioso, que imortalizou, e às suas romarias, na obra Terra do Demo.
As fundações do Santuário da Senhora da Lapa estão totalmente erguidas sobre uma laje de granito de ariz, o mesmo granito onde se anicha a imagem de Nossa Senhora da Lapa.
O Santuário guarda na capela-mor o rochedo milagroso com a imagem da Senhora da Lapa. No seu romance, Aquilino testemunha a crença de que a passagem entre rochas, por detrás do altar, só deixa passar quem não cometeu pecados graves. Merecem destaque a cenografia dos altares da Crucificação e da Morte de S. José, que comovia até lágrimas, a atracção pelo Presépio implantado no rochedo. Tal como o  altar da Virgem Adormecida, a Casa dos Milagres, cheia de quadros pintados, balanças pesando meninos de trigo, e o terrível "lagarto da Lapa", preso ao tecto por uma cadeia de ferro, fonte de outros contos e histórias do imaginário popular. O altar foi erguido no local onde, segundo a lenda, a pastora Joana encontrou a imagem escondida pelas religiosas e ali se venera há cerca de quatro séculos. 

A lenda da pastora Joana

Era uma vez uma menina pastora, muda, que encontrou uma imagem da Virgem nos montes e levou-a para casa. A mãe não ligou à estátua e lançou-a para a lareira. Nesse instante, a menina começou milagrosamente a falar e pediu à mãe que não queimasse a imagem. Deste modo se explica que a estátua da Virgem que está no santuário apresente marcas de queimaduras.

O Lagarto do Santuário da Lapa

Outra história ligada ao santuário conta que uma menina se entretinha a fiar lã enquanto pastoreava os rebanhos, quando foi atacada por um enorme lagarto que aterrorizava a região. Para se salvar, invocou a Virgem enquanto atirou os novelos de lã para a boca do monstro que assim ficou engasgado. Arrastou-o então pela ponta de um fio até casa, onde foi morto e empalhado.
Na realidade, entre as dádivas de peregrinos, há no tecto do santuário um enorme e estranho "lagarto". Segundo consta, era um enorme crocodilo que teria vindo da Índia ou do Brasil. Reza a história que um emigrante nascido na zona teria sido atacado por um grande caimão. Nesse momento, de mortal aflição, o homem evocou a Senhora da Lapa para que lhe desse forças para matar o crocodilo, tendo-o conseguido. Em sinal de reconhecimento e gratidão pela ajuda, trouxe a carapaça dorsal e a pele e com elas reconstitui o "bicho", que foi oferecido ao Santuário como ex-voto. Com o passar dos anos a traça comeu a pele enquanto a outra parte se manteve. Mais tarde alguém o restaurou, cobrindo a carapaça com uma tela oleada.
A existência do "sardão" deu origem a outra lenda popular. Ela conta que uma mulher que vinha da aldeia da Forca (hoje Santo Estevão), a caminho de Quintela com novelos de linho para tecer, a meio da encosta da serra num local que tem o nome " Cova do Lagarto", se viu atacada por um enorme sardão que abriu a goela para a comer. A mulher, aflita, encomendou-se à Senhora da Lapa e logo lhe veio a ideia de lançar ao monstro os novelos que levava no saco ficando com as pontas dos fios seguras nas mãos. Engolidos os novelos, o bicho engasgou-se e a mulher foi puxando os fios, até sufocar o animal. Em sinal de gratidão, ofereceu a sua pele ao Santuário da Lapa.

O pensamento dos paisagistas

“É tempo de afirmar que se a cidade é indispensável à organização da sociedade e ao progresso da humanidade, se a indústria muito tem contribuído para facilitar a vida e lhe dar conforto, é da paisagem rural que depende a sobrevivência da humanidade, porque é ela com o mar, a única fonte de alimentos, a única fonte de água potável, e o último suporte de actividade biológica autónoma e equilibrada, indispensável à continuação da vida na terra. Por isso a actividade da Sociedade Rural é a única que continua a ser obrigatória, sendo todas as outras facultativas, quer a sociedade urbana-industrial se aperceba ou não desse facto.”[6]

A revalorização do mundo rural surge assim depurada de qualquer sentimento atávico  e enquadrada pela preocupação de introduzir no campo, de forma harmoniosa, toda a mais valia científica da época. Encontramos na literatura uma forma particular dessa cosmovisão, a do reencontro com a terra e o homem do campo, como em Irene Lisboa e Miguel Torga.

A Grande Casa de Romarigães: A natureza, a vida e os ecossistemas da floresta mediterrânica

Este romance conta a história de três séculos de paisagem humanizada do Noroeste, retomando a tese aquiliniana de 1923”…A natureza não tem simpatias especiais por nenhum dos seus seres”, inscrita no seu comentário ao Romance da Raposa e desenvolvida no final do segundo destes livros, quando a precariedade da vida e da obra do homem se confronta com a neutralidade da natureza “…em matéria do bem e do mal,
sem privilégio de carinhos para ninguém,” traduzindo nesta atitude o princípio filosófico que sustenta toda a crítica coeva ao antropocentrismo. Mas em que a vida, não sendo mais que um momento de equilíbrio que fulge”…nos laboratórios de integração e desintegração da Natureza , é,  …com a sua beleza e o seu drama, uma razão suficiente, por assim dizer, para  o Mundo existir .”[7]

A génese da floresta surge - nos, no início de A Grande Casa de Romarigães, como esplendor desse nascimento e fundamento ecológico do sortilégio (da diversidade) da vida:

 “ Do pinhão, que um pé de vento arrancou ao dormitório da pinha-mãe, e da bolota, que a ave deixou cair no solo, repetido o acto mil vezes , gerou-se a floresta. Acudiram os pássaros, os insectos, os roedores de toda a ordem a povoá-la. No seu solo abrigado e gordo nasceram as ervas, cuja semente bóia nos céus ou espera à tez dos pousios a vez de germinar. De permeio desabrocharam cardos, que são a flor da amargura, e a abrótea, a diabelha, o esfondílio, flores humildes, por isso mesmo trofeus de vitória. Vieram os lobos, os javalis, os zagais com os gados, a infinita criação rusticana…”[8]

Enfim, o quadro da evolução da vida, ou o retracto poético da floresta mediterrânica vista como um ecossistema suporte da diversidade biológica.[9]    

Eduardo Lourenço, tal como antes Óscar Lopes e Mário Sacramento, revela-nos a analogia entre o nascimento e a evolução da ficção neo-realista e o utopismo realista e onírico da literatura americana da grande crise dos anos 30, aquele que nos deu As
Vinhas da Ira e, sobretudo, a  Estrada do Tabaco, a qual coloca no centro da sua poética a relação entre a Terra e o Homem.
A expulsão dos colonos das suas quintas no Texas e Oklahoma, para dar lugar às grandes explorações da agricultura capitalista, dita racionalizada e moderna, que ocorreu na década de 20 e constituiu o drama real sobre o qual Steinbeck montou a sua trama romanesca, viria a dar origem em 1932 a uma das maiores catástrofes ecológicas da nossa época, quando violentos tufões varreram literalmente o solo desprotegido, motivando em seguida uma verdadeira revolução tecnocientífica nos EUA com a criação pelo Estado Federal do Instituto de Estudo dos Solos, seguindo o exemplo da União Soviética. De facto o nascimento da ecologia global, espantoso para a época, deveu-se ao biólogo soviético Vladimir Vernandsky (1863-1945 ), o criador da biogeoquímica e autor da obra Biosfera, publicada em 1926 em Leninegrado, que permanece ainda hoje no esquecimento. Contudo, foi nos seus trabalhos que se inspirou George Hutchinson, o fundador da escola superior de ecologia científica de Yale, base do ensino actual das novas Ciências da Terra e do Homem, de onde sairam cientistas notáveis como Raymond Lindeman, Eugene e Howard Odum. Depois da tragédia ambiental de 1932, os EUA levaram a sério a contribuição vanguardista da União Soviética e adoptaram sem preconceitos ideológicos os seus ensinamentos, nomeadamente passando a considerar o solo como um elemento vital e vulnerável dos ecossistemas da Biosfera.

Volfrâmio: Desenvolvimento Sustentável

O impacto das campanhas do volfrâmio, não apenas na transformação da paisagem, mas ainda e sobretudo no plano ético, emerge das obras Volfrâmio ( Aquilino Ribeiro )  e as Minas de S. Francisco ( Fernando Namora ).
Mr. Hinckser, o poderoso alemão (como podia ser Mister Corbert, o representante do império britânico) enfatizava a missão “ecuménica“ do capital nazi, que fundia e destilava nos altos fornos das indústrias de guerra, o níquel da Finlândia, o ferro norueguês, francês e espanhol, o volfrâmio de Portugal, o petróleo romeno, a bauxite de Itália, Hungria e Croácia, e o carvão do Ruhr.[10] O “volfro“ na expressão de Aquilino,”… significava para as populações do Norte, deserdadas de Deus, o que o maná foi para os Israelitas no deserto faraónico. Imagina-se o que seriam os impulsos da horda esfaimada diante do alimento providencial, no afogo do dejejum…”[11]As aldeias ancestrais mudavam de fisionomia. Em suma:“…Formava-se uma moral nova com a nova indústria. Dolo, roubo, mentira, falsidade, desde que constituíssem processos de promover o negócio do volfrâmio, tornavam-se ordinários, por conseguinte, de prática corrente, discutível ainda, mas admitida. Resultava de tal consenso que procuravam todos empulhar-se uns aos outros o mais conspicuamente possível, e que falsificar o minério, fritando-o, desencantando-lhe substitutos falaciosos, era um recurso industrial como outro qualquer…”[12]
Mas este protesto dos escritores, solidários com a terra e a vida dos camponeses, retratados como conservadores e agricultores da paisagem, atingiria um eco nacional, num outro romance.

Quando os Lobos Uivam: desenvolvimento sustentável

A obra de Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam, partindo do conflito, gerado nos anos 50, entre a economia dos povos serranos e a florestação dos baldios para abastecer as novas indústrias das madeiras e da celulose, procedeu a um amplo confronto de posições, questionando os interesses em presença e colocando, no centro do debate, o impacto no ambiente rural do modo de produção do capitalismo contemporâneo. Assinalemos os dois momentos nucleares da confrontação. O primeiro, na Câmara, antes da revolta. E o segundo, já no Tribunal. Basta-nos seguir aquele para nos apercebermos da actualidade das questões.[13]
O Engenheiro Streit dos Serviços Florestais vem defender a superioridade técnica e económica do modelo de exploração florestal monoespecífica. Na segunda parte do seu discurso, utiliza mesmo argumentos de natureza ambientalista, acerca dos benefícios do regime hídrico.
Responde-lhe o advogado dos serranos, Dr. Rigoberto, contrapondo-lhe, em primeiro lugar, o valor da liberdade e do livre arbítrio das comunidades, contra a prepotência da burocracia centralizadora e dos seus títeres e, depois, o da racionalidade, ecologicamente sábia, do modo de produção camponês.
Neste discurso, ressaltam duas ideias novas: A proposta do governo rompe o equilíbrio da relação homem-ambiente; e ao provocar uma mudança global no ciclo de renovação da natureza impede o modo de vida dos serranos de se reproduzir pondo em causa a sua sobrevivência.
A resposta vem brutal e estranhamente familiar aos argumentos esgrimidos nos debates da questão ambiental”...O progresso não é um ferro de engomar. Alguma coisa vai cilindrando na sua marcha. Sempre assim foi.(sublinhado nosso) O comboio matou o almocreve; o autómovel está a matar o comboio; amanhã o automóvel, será vítima do avião. Entravar a renovação do mundo em nome de coisas que apenas têm de recomendável a poesia de que as cerca a madureza dos nossos hábitos não é de admitir...2[14] Nada pode entravar o progresso e quem assim não pensa é “lírico“,  "louco”! Rigoberto contra ataca, não apenas com a defesa de que o homem é o produto e o construtor sábio do meio, mas também com o argumento das "almas", do respeito pela dimensão espiritual, ética e moral, do ser humano. E a voz do camponês, João Rebordão, irrompe à coima do debate, como se viesse do fundo dos tempos medievais, com o preceito moral de que o direito à vida se sobrepõe a todos os direitos. É então que toma a palavra Manuel Louvadeus, o emigrante regressado do Brasil e do Mundo. A traço grosso, teoriza o que chamaríamos hoje como a defesa do biótopo serrano ou, até, do desenvolvimento sustentável, retoma o argumento da espiritualidade e trata a natureza como o espelho da alma,“...imagem das mais ricas e um dos temas mais fecundos da metafísica do cristianismo.”[15] Encerra o confronto, de um lado, o argumento  da moral cristã em favor da igualdade e do direito à revolta contra as leis anti-naturais. E, do outro, a ameaça de retaliação pelo poder. O debate alonga-se no texto e o engenheiro Streit recorre ao argumento da rentabilidade económica, segundo a perspectiva de desenvolvimento tão cara ao neo-liberalismo. Em vão lhe opõe Manuel Louvadeus o apelo humanista, usando o paralelo da colonização americana. E surge o paternalismo autoritário, concluído por uma frase lapidar: “Coitados dos serranos, defendem as suas conveniências!  Tenho muita pena deles, mas nada posso fazer! Eu, no lugar deles, também não sei se me conformaria! Mas o interesse geral faz o Direito”![16]
Foram talvez longas as referências analíticas desta obra. E nenhuma ainda sobre a narrativa do julgamento, onde o confronto ideológico se prolonga e acentua. Mas porventura suficientemente reveladoras e perturbantes: É que hoje, cinco décadas após e em plena vivência democrática, as questões em polémica parecem ser ... as mesmas!

Temos procurado demonstrar como os nossos poetas e escritores, antes dos cientistas e políticos, souberam ver e revelar os dramas e contradições ambientais da nossa civilização.
Julgo termos começado a demonstrar que muito antes da generalidade dos políticos, dos cientistas e das próprias organizações ambientalistas, em paralelo ou antecedendo as descobertas dos primeiros investigadores e dos pioneiros da causa ambiental, conotados geralmente com a cultura dos países ricos da Europa e da América, os escritores portugueses trouxeram também eles para os seus textos a questão ambiental, dela extraindo todas as consequências enquanto crise multilateral da nossa civilização, no plano cultural, económico, político, social e ético.
Num mercado mundial da cultura e informação globalizadas e monopolizadas, a dimensão cultural do nosso país e a inexistência de um trabalho sistemático de investigação, neste domínio, constituem razões suficientes para que aquele contributo continue a ser praticamente desconhecido. Mas a verdade é que, por toda a parte, a par das obras de autores consagrados pelos seus trabalhos directamente ligados às áreas científicas e técnicas do ambiente, os simples cidadãos, as associações ambientalistas e a opinião pública, começam a descobrir e a rever-se na obra filosófica, política, educativa, etc., de outras personalidades, que não partindo das ciências da Terra e da Vida, chegaram à questão ambiental por ínvios e inesperados caminhos, que se diz serem os da própria sabedoria divina.
E nenhuma cultura pode hoje ser rotulada de menor ou inferior. É que, se o emergir da consciência cívica ambiental depende da promoção da educação ambiental no sistema educativo e na comunidade, do aprofundamento da democracia participada pelos cidadãos e da abertura da comunicação social às mensagens que transporta, a sua génese, por ser produto de todos esses diversos e singulares contributos, não é propriedade de ninguém em particular.
Neste contexto, tomámos como referência analítica a obra de Konrad Lorenz, ao enfatizar a importância da razão e da ética social, no seu papel de controlar o instinto animal. Evoquemos agora o pensamento de Lévi-Strauss, assinalando, previamente, as diferentes perspectivas sobre a relação entre natureza e cultura que os diferenciam, situada numa linha de  continuidade, para o primeiro e de rotura, na óptica do segundo. Mas é a sua complementar contribuição para a crítica do antropocentrismo ocidental e eurocêntrico que nos interessa aqui ressaltar, em confronto com a visão característica dos nossos escritores.
Reconhecendo os contributos da Biologia para a compreensão dos processos de evolução das culturas, Lévi Strauss introduz os conceitos de árvore e de trama para visualizar a diversidade dos seus caminhos de evolução e desmistificar os conceitos de culturas superiores e inferiores, demonstrando que elas correspondem apenas a diferentes concepções do mundo e das relações do homem com a natureza, que se traduzem, em muitas das culturas indígenas, em práticas e valores que as modernas ciências do ambiente e as éticas ambientais identificam como justas e susceptíveis de servir de paradigma para o tratamento das doenças da nossa civilização. É da ordem desta grandeza o contributo dos nossos escritores.[17]
A visibilidade da questão ambiental, que passou do domínio dos cientistas, dos filósofos e criadores literários para a opinião pública, a sua peculiar visão sistémica da paisagem humanizada, da relação homem-natureza, conduziria  ao questionar do nosso modo de produção social, das suas estruturas económicas, sociais, políticas e ideológicas e à elevação da controvérsia filosófica ao domínio ético. Vamos procurar seguir a nossa investigação a partir do surgimento, à escala universal, de novos factores de crise do ambiente, nomeadamente a poluição e a guerra, que vieram colocar em debate a questão crucial: crescimento ou desenvolvimento sustentável? Deixaremos para o último capítulo a reflexão sobre a nova ética social, confrontando ali a obra dos nossos escritores com os escritos ambientalistas que constituem referência internacional.
O Sermão da Humildade, de K. Lorenz, enuncia o princípio que“…o nascimento de uma forma superior de vida a partir de um antepassado mais simples significa para nós um acréscimo de valor, ”esclarecendo que não se pode resumir a vida a um conjunto de processos físicos e químicos, resultantes das leis científicas do devir filogénico,“…porque uma matéria viva é qualitativamente mais do que o processo orgânico”.[18]
Neste contexto e como mostraremos adiante, a propósito do Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro, o homem é encarado nos planos da epistemologia e da ética. [19]

O Romance da Raposa


A propósito desta obra, publicada em 1924 como literatura infantil, Aquilino Ribeiro produziu o seguinte comentário.

“…Os meus assuntos vou buscá-los à história natural racionalizando-os.  Nós inventamos, para explicar a mecânica da nossa inteligência, esta palavra mágica: razão. Ao complexo de fenómenos, de que o nosso cérebro é Teatro, preside esta espécie de deusa, ou melhor, fada.  Que mais não seja é um expoente.  Para os animais, o instinto é a origem e faculdade acima dos seus actos.  Mas eu, por experiência, tenho verificado que há actos da vida animal, o homem à parte, que superam o âmbito de tal potência.  Ora são esses actos  que eu transponho, humanizo, no que imagino tais bichos movidos pelos mesmos móbiles vitais que nos animam a nós.…”[20]

Sublinho a afirmação de Aquilino, baseada na sua experiência, de que há actos da vida animal que superam o instinto e a aproximam da vida humana. E atente-se na reflexão posterior, acerca da raposa Salta-Pocinhas.

“…É evidente que a minha personagem tem este encanto: existir, ser conhecida, e eu pôr à vista a sua relojoaria íntima, engenhosa e arteira, e cada criança admirar nela as habilidades da nossa espécie para subsistir e impor-se na natureza, que não tem simpatias especiais para nenhum dos seus seres.…”[21]

Retenhamos aqui o pensamento final: “… A natureza não tem simpatias especiais para nenhum dos seus seres .”
Eis uma conclusão notável, do ponto de vista científico, sobre as relações entre a natureza e o homem de consequências revolucionárias para fundar uma nova visão ética, onde a capacidade de sentir (alegria e tristeza, dor e felicidade, prazer …) enfim, toda a dualidade do ofício de viver, se transforma num critério com relevância moral.
Penetremos com Aquilino na mente da velha comadre, idosa e acabada, no pino do terrível inverno das Beiras.“…recordava as doces horas levadas juntos, as suas núpcias, os seus folguedos na relva orvalhada do rocio da alva, pelas manhãs de sol…”[22] “…A arrotar de fartos estiravam-se sobre as quatro patas; vagarosamente lambiam o beiço, o colo, as mãos…”[23]
As duas epopeias, a da luta pela sobrevivência da espécie humana e das outras espécies animais, assumem um paralelo filosófico e uma dignidade ética, que questiona ao homem o papel de rei tirano da natureza. A audácia suprema que o impele para a luta é aqui retractada como a astúcia de  “Ulisses, havida, sob determinados aspectos, como a boa e admirável e por extensão a velhacaria social” .
É nesta outra linha de leitura simbólica que o autor nos transporta paralelamente e através de diversas alegorias à nossa própria sociedade, seja com a indiferença para a condição dos pobres, dos velhos e dos esfomeados, seja no retrato da hipocrisia nas relações políticas. Como se vê na reacção dos bichos à morte simulada do vizo-rei da floresta, o lobo Brutamontes.[24] Ou na recusa dos da sua espécie, em partilhar lauto banquete com a velha raposa esfomeada.[25]
Mas há ainda um outro plano de interpretação do texto: Aquilino Ribeiro traça-nos um vasto e pormenorizado fresco da biodiversidade das florestas endógenas do nosso país, semeadas de carvalhos e castanheiros, que garantiam aos bichos alimento e abrigo. Como na cena da leitura da sentença do vizo-rei, contra a nossa heroína.“…Lá estavam doninhas e arganazes, roedores e répteis, e, pelas árvores, a águia, o abutre, o bufo, o nebri e mais povo dos céus e matas de Portugal'.  A desbanda, como quem ali não é chamado, via-se erguido sobre as patas, grandão, paspalhão, o urso Mariana…”[26] A sua preocupação com as espécies ameaçadas leva-o a aproveitar o ensejo para denunciar a ameaça de extinção que pesa sobre o lince, sessenta anos antes da campanha nacional para o salvar, no último reduto da Malcata ! “…Ora um bicho de vista penetrante, ao
qual saem das orelhas pincéis de barbear, subira acima dum penedinho. Era o lince, nomeado também lobo-cerval, animal que, de batido e perseguido, caçado e fuzilado, vai rareando nos bosques…”[27] E a própria figura, aparentemente estranha, do urso Mariana, que na trama narrativa é um fugitivo do cativeiro das feiras onde um húngaro o exibia, funciona como denúncia da liquidação e aviltamento de uma espécie nobre (o urso aquiliniano é sábio) que compartilhou com todas as que o livrinho descreve, os bosques do nosso país, até ao séc. XVII.[28]
Um fresco animado pelas vozes e cânticos da natureza. O Bufo Real, que parece querer dizer: “Viram bois! Viram bois,  O cavaleiro do inverno”, que se “ouvia por detrás das montanhas a relinchar! Os gritos dos lavradores conduzindo a junta: …eh lá moirisco!” Os grilos que repetem “Sou livre! Sou livre!” E as rãs nos charcos e as rolas nas clareiras, respondendo . “Vem cá para fora! Vem cá para fora.” O piar lúgubre do mocho: “ Que fizeste tu! Que fizeste tu!” E o trinado cortante do tentilhão “charim….chrimm…..charimm”.
Onde o bicho-homem, animal das clareiras e plainos, segundo inimigo da raposa, depois do inverno rigoroso e antes dos cães traidores, volta a ser bicho.
É a dona raposa quem nos ensina:

I
“O inverno é a estação do ano em que a madre-natureza nos veste de bom pelote mas despeja a terra de frutos.
Muitos insectos e passarinhos voaram para o céu dos pardais e coelhos e perdizes são diabretes de finura. A raposinha arranjou saia nova, mas se não tem bom abrigo, se não é fina da vista e ligeira do pé, nunca mais torna a ver a Primavera que lhe despe o pelote e lhe enche o fole.”
II
“0 homem é aquele bicho de duas pernas que parece que não tem medo de nada e tem medo de tudo, que quer saber tudo e não sabe nada, e por isso é mau, cruel e caprichoso. Inferior a nós na corrida, no faro, e no ardil, inventou para nos combater as armas de fogo, as ratoeiras de ferro e os cães ensinados. “

A aproximação à filosofia lorenziana, que lhe foi posterior, é também aqui sugerida: o homem encarado na sua ligação umbilical com o comportamento dos animais superiores, mas sem as capacidades naturais que esses seres adquiriram na sua relação com o meio ambiente.
III
“Os cães - alguns classificam de sabujos e rafeiros-são para nós, seres livres, os bichos mais justamente odiados do Universo.  Sem eles, o homem era um cego à nossa beira, a tocar berimbau.  Sem eles, a terra ficava o paraíso dos raposos; dançávamos nas capoeiras e em paz trincaríamos os ossos dos anhos novos.  São escravos do homem; o dono bate-lhes, e lambem a mão que os fere; o dono corre-os à pedra, e vão, humildes, no rasto dele.  Não há maiores feras para quem não seja o amo. Louvado seja o lobo que, se os pilha a jeito, fá-los em almôndegas…”[29]
           
Transportemos esta metáfora para o plano social e encontramos os corpos especiais da repressão estatal, as cadeias burocráticas de controle da produção e da administração pública e o elogio libertário que sai da pena de Aquilino tão coerentemente como da  sua prática de cidadania.

A TODOS OS QUE
            NÃO DESEJAM FAZER PERPETUAMENTE JUSTA
A FRASE CÉLEBRE DE MONTESQUIEU
            AO DIZER DOS PORTUGUESES
QUE TINHAM DESCOBERTO O MUNDO, MAS DESCONHECIAM A   TERRA EM QUE NASCERAM;
ESTE LIVRO,
INVENTÁRIO DAS RIQUEZAS ARTÍSTICAS QUE AINDA SE NÃO SUMIRAM NA VORAGEM,
E DAS MARAVILHAS NATURAIS
QUE AINDA NÃO CONSEGUIMOS DESTRUIR,
ANTOLOGIA DE PAISAGISTAS, «VADE-MECUM» DE BELEZA, ROTEIRO DOS PASSOS DOS PORTUGUESES  ENAMORADOS,
INDICULO DAS PEQUENAS E GRANDES COISAS,
QUE REQUEREM O NOSSO AMOR
PELO PASSADO, PELO PRESENTE
E PELO FUTURO,_
É OFERECIDO E DEDICADO.
Raul Proença.  Guia de Portugal, 1924.

António dos Santos Queirós,                27 de Maio de 2011


[1] Irene Lisboa - Pequenos Poemas Mentaisin Revista Portugal, nº 3, 1938. Anexo 111.
[2] Como afirma Urbano Tavares Rodrigues: “Não há talvez em toda a literatura portuguesa quem, como  Aquilino Ribeiro , sinta e exprima o campo em todas as suas dimensões, sem cisco bucólico no olhar que lhe tolde a visão das violências, dos  medos, das ferocidades, da terrível luta pela sobrevivência, mas sempre maravilhado ante a beleza ardente de um arrebol ou da erva geada e do caramelo a brilhar nos rios e nas lamas em manhã límpida e azul. Familiar dos animais e das plantas, das amplas carvalhas, das flores subtis, dos próprios alcantis quedos e rudes. Deslumbrado não só perante os quadros que a natureza a todo o passo compõe, para os que sabem vê-los, mas sobretudo perante o milagre da vida a suceder-se, a nascer, a vibrar em alta tensão ou em suave murmúrio, a brotar da próprio morte.” Aquilino Ribeiro, Romances Completos,  A Via Sinuosa, pág. XVIII do Prefácio.
[3] Para o desenvolvimento do nosso tema seria igualmente interessante abordar a literatura para jovens, mas afinal dirigida a todas as gerações, do tipo do  Romance da Raposa  ou dos Bichos, de Torga, mais adiante estudados, de que são exemplo certos contos e novelas de Alves Redol, como o Constantino, Guardador de Rebanhos e de Sonhos e a  História de Uma Sementinha.
[4]  Ibid., pps. 3 e 4 do Prefácio.
[5]  Aquilino Ribeiro, Terras do Demo, pág. 1 do Prefácio, 1918. Anexo 115
[6] Intervenção do Prof. Francisco Caldeira Cabral no Congresso da Federação Internacional de Arquitectos Paisagistas, organizado em Tóquio no ano de 1964, no tempo em que era Presidente da Federação. Contém, ela própria, uma visão prospectiva das modernas ciências ambientais. E ilustra magnificamente a tradição de “humanismo ecologista“ e uma superior visão ética, que emerge na cultura contemporânea nacional  pela obra, insuficientemente reconhecida e divulgada, de um escol de homens sábios e literatos. Recolhida junto do seu filho e continuador, o engenheiro e professor João Caldeira Cabral. Vamos encontrar Francisco Caldeira Cabral, dezasseis anos antes, entre os fundadores da Liga de Protecção da Natureza.
[7]  Aquilino Ribeiro,  A Casa Grande de Romarigães, pág. 285, 1957.
[8]  Ibid.
[9] Carlos de Oliveira, na crónica intitulada  Na Floresta, escrita e reescrita entre 1966 e 1970, publicada em  O Aprendiz de Feiticeiro, traça um largo quadro da utilização da floresta como metáfora e símbolo, na literatura portuguesa.

[10] Aquilino Ribeiro, Volfrâmio, pág. 125, 1943. Anexo 30
[11] Ibid., prefácio. Anexos 31 e 32.
[12] Ibid. Anexo 33.
[13] Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam. Anexos 44 e 45.
[14] Ibid., pág. 66. Anexos 46, 47, 48, 49, 50 e 51.
[15] Pedro Calafate, A Ideia da Natureza no séc. XVIII em Portugal, pág. 56. Ver também os Anexos 52 e 53.
[16] Ibid., pág. 82. Anexos 54, 55, 56 e 57.
[17]  Ver a obra de Claude Lévi-Strauss, Raça e História, 1952.
[18]  Konrad Lorenz, da obra  A Agressãono capítulo Sermão de Humildade, pág. 239.
[19]  Confronte-se com o textos da Conferência transcrito nas pps. 11 e 12.
[20] Aquilino Ribeiro, O Romance da Raposa, 1924, pág. 169.
[21] Ibid., pág. 171.
[22] Aquilino Ribeiro, O Romance da Raposa, 1924, pps. 121 e 122. Anexo 161.
[23] Ibid., pps. 122 e123.
[24] Ibid., pág. 63. Anexo 162.
[25] Ibid., pág. 160. Anexo 163.
[26] Ibid., pág. 44. Anexo 164.
[27] Ibid., pág. 45.
[28] Assim se infere da leitura do II Vol. da  Etnografia Portuguesa  de J. Leite de Vasconcelos.
359  Ob. citada., pág. 45.


1 comentário:

  1. Interessante a sua abordagem. Nela revi a vida de Aquilino e parte da sua obra porque continuo a estudá-la.
    Sou beirão mas só há pouco tempo me virei para o conhecimento da escrita aquiliniana.

    Parabéns pela importante análise.
    Alfredo Anciães

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