In Beira(s) - Imagens do Ambiente Natural e Humano na Literatura de Ficção (Carvalho & Vieira, 2023), disponível em:
https://run.unl.pt/handle/
António dos Santos QUEIRÓS
Centro de Filosofia
da Universidade de Lisboa
In memoria de Vasco Martins Costa,
o último Diretor da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais _DGEM,
que dedicou a sua vida à defesa e valorização do património material e
imaterial das nossas paisagens urbanas e rurais.
Resumo
Portugal cria em 1971 a Comissão Nacional do Ambiente _CNA, em paralelo
com o PN da Peneda-Gerês e logo no ano da Conferência o seu Serviço Nacional de
Parques e Reservas, mais tarde o ICN e o
Instituto Nacional do Ambiente, sob a ação destacada dos professores José de Almeida Fernandes e João Evangelista
na área da Educação Ambiental, onde este ensaio também se inscreve.
Fica então traçado o contorno desta reflexão: Tornar visíveis as pistas
que possam conduzir à revelação dos contributos dos escritores portugueses
deste período de um século para a génese
da moderna consciência ambientalista e à redescoberta das suas obras nesta
perspetiva, os quais, permanecem na sombra enquanto mentoras da consciência
ambiental. Evidenciando o valor intrínseco_ estético, ético, científico e económico
dessas paisagens.
Palavras-Chave: Ecologia da paisagem. Metafísica da paisagem. Antropocentrismo. Etnocentrismo. Património material. Património Imaterial.
Abstract
The revelation of
Portuguese literature as mediator and resource of the environmental issue, is
the article object, in the form of a short essay, but in the context of a
broader philosophical, social, and political reflection, framed by the category
of the environment.
This book is dedicated to
Beiras, reason why we must focus our
analysis on the authors that first understood
the aesthetic and ethical values of the cultural landscapes of this
province. Crossing a literary space-time marked, in the West, between the
awakening to the need for nature conservation, with the emergence of
naturalistic thought and the creation of the first Parks and Reserves
(Yellowstone National Park, 1872, USA);
and the evolution of the Philosophy of Nature to Environmental
Philosophy and its Ethics, which led to the international recognition of the
environmental crisis and the need to create a new model of ecological
civilization. The first steps in this pathway will be done from the realization
of the United Nations Conference on the Human Environment, Stockholm, in 1972
In 1971 the National
Commission of the _CNA Environment was created in Portugal, in parallel with
the National Park of Peneda-Gerês and soon in the year of the Conference its
National Park and Reserve Service was also organized, later the ICN and the
National Institute of the Environment, under the prominent action of professors
José de Almeida Fernandes and João Evangelista around Environmental Education, for
which this essay wants to give a contribution.
The perimeter
of this essay is then drawn: To make
visible the clues to understanding the contributions of Portuguese writers to
the genesis of modern environmental awareness. which remain in the shade as
mentors of that environmental consciousness. And
the intrinsic value, aesthetic, ethical, scientific, and economic
(Environmental Tourism) of those landscapes.
Keywords:
Landscape
ecology. Landscape metaphysics. Anthropocentrism. Ethnocentrism. Tangible
heritage. Intangible heritage.
1. Introdução
Natureza e paisagem
são dois conceitos diferentes, já elaborados pelo “nosso” filósofo Bento de
Espinosa (Séc. XVII). Por Natureza se prende representar a paisagem selvagem,
onde a intervenção humana é reduzida ou praticamente inexistente. E por
Paisagem, a natureza humanizada. Com o desenvolvimento civilizacional e os
ciclos de globalização, raras são as paisagens que não têm uma forte presença
do trabalho e da vivência humana. Por isso os franceses criaram o conceito de
“terroir”, paisagem cultural.
A Filosofia Ambiental reintegra o
homem na Natureza, mas sem nenhum estatuto de soberania ou privilégio, como predador,
mas também como construtor de habitats e biótopos. Daí a necessidade de uma
reflexão filosófica, no planos dos princípios éticos e dos normativos morais,
das relações entre o Ser Humano e a Natureza.
A esta luz, filosófica, a conceptualização
de “paisagem” tem nos nossos escritores uma dupla dimensão, que pudemos definir
como “ecologia da paisagem” e “metafísica da paisagem”.
Definimos ecologia da
paisagem conceptualmente, como uma visão sistémica interdisciplinar de carácter
científico, que engloba os grandes quadros naturais, caracterizados e
diferenciados, seja pelos diversos domínios da ciência - que vão das ciências
do ambiente às ciências exatas; seja pela presença transformadora do homem no
seu esforço de agricultor, pastor e arquiteto da paisagem e daí também o
concurso das ciências históricas e humanidades. Visão científica, física, plurissensorial,
da paisagem humanizada, mediatizada pela arte literária, ou seja, ecologia da
paisagem. Paisagem que desde o advento da Humanidade deixou de ser,
progressivamente, paisagem selvagem, para se tornar paisagem cultural.
E conceptualizamos metafísica
da paisagem, como o domínio da “espiritualidade”, da “alma” das coisas, dos
sentimentos estéticos da “beleza” e do “belo” ou do “sublime”, e das
correspondentes categorias estéticas positivas (belo, sublime, maravilhoso,
monumental, épico, trágico, dramático…) e das categorias estéticas negativas
(feio, horrível, repugnante…), que compreendem também uma valoração moral e
ética.
Neste quadro teórico,
o conceito de ambiente engloba tudo o que respeita à diversidade natural e à
cultura humana plasmadas nessa paisagem, que é um lugar físico, mas também
espiritual onde se sobrepõe o devir do pensamento e a multiculturalidade das
nossas civilizações. Ambiente é, assim, também um conceito diferente do de
natureza, sendo, em síntese dialética, natureza mais cultura.
Completemos este
quadro conceptual com uma breve síntese do pensamento de Vasco Costa sobre o
conceito de património:
A noção de monumento histórico engloba a
criação arquitetónica isolada, bem como o sítio, rural ou urbano, que constitua
testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de
um acontecimento histórico. (Carta de Veneza,1964) Este conceito postula a
conservação e valorização do monumento e da sua paisagem envolvente. Esta noção
aplica-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas do passado
que adquiriram, com a passagem do tempo, um significado cultural. (Carta de
Veneza,1964)
Este outro conceito
ultrapassa as visões não científicas e ideologicamente preconceituosas, acerca
da superioridade de uns objetos culturais sobre outros, tal como sobre a
existência de culturas superiores e inferiores e, numa perspetiva histórica, de
períodos de esplendor e decadência das artes, assim, o período clássico seria o
expoente da arte e o período medieval, por exemplo, de ocaso e por aí em
diante.[i]
2. Filosofia e
Literatura
Frederico Nietzsche
considerava a arte como sendo“...a missão superior e a atividade propriamente
metafísica desta vida ”[ii]
Veremos como os princípios que presidem à sua conceção da “tragédia
ática” parecem irromper na obra de Aquilino Ribeiro quando nos retracta a alma
profunda dos seus concidadãos perdidos nas Terras
do Demo, seres humanos reduzidos à dupla condição de sátiros (os faunos
Aquilinianos) e anacoretas (condenados ao martírio), que afogam nos prazeres da
carne e na bebedeira alcoólica ou mística o terror da existência, sonhando não
com o Olimpo mas com uma vida sem míngua de sustento e de paz, sem carência de
terra para cultivar e, no entanto, capazes também de perseguir o sonho apolíneo
(Volfrâmio, Uma Luz ao Longe), pelo
qual atravessam oceanos, escavam montanhas, carregam o diabo às costas em busca
do seu individual e libertário destino, longe do fausto e da nobreza dos gregos
(sem nada de comum com o novo homem, que a filosofia alemã elevou á condição de
“espectador estético,” mas com um autêntico sentido de dignidade,
consubstanciada na procura da material espiritualidade que a
luta pela terra, a casa e o pão representam.[iii]
Simples seres humanos
carentes dos benefícios da civilização, mas que lá, onde os Lobos Uivam não conseguirão sobreviver sem a
conservação do ambiente sublime das montanhas agrestes, lugar onde a alma
serrana se une ao espírito universal.[iv]
A Cidade e as Serras
O primeiro protesto do século XX, face ao emergir da crise
ambiental, vem do próprio Eça de Queirós e da sua obra A Cidade e as Serras (1901).
A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz, dá-nos o testemunho dos
malefícios da civilização, representada pelas grandes metrópoles, onde o
consumismo excessivo conduz ao tédio, depois ao pessimismo e ao vazio
existencial. Só o regresso à Natureza, que a paisagem humanizada da Beira Douro
e as serras simbolizam, pode fazer renascer a natureza humana que existe em
Jacinto, como uma segunda pele liberta dos artifícios da vida urbana.
A cidade representa,
tradicionalmente, a passagem da natureza à cultura. Mas a cultura da cidade
começara a ser entendida como artificial, responsável por uma desnaturalização
do homem.
Estamos em presença, no plano social e político, de uma
consciência conservacionista, de uma visão específica do mundo rural, que
corresponde à camada intelectualizada dos proprietários deslocados para a
cidade.
Testemunhos partilhados pelo grupo da Renascença
Portuguesa e a sua revista A Águia, em torno da qual se aglutinaram Teixeira de Pascoaes, o seu diretor
literário entre 1912 e 1917, António Correia de Oliveira, Afonso Lopes Vieira,
Afonso Duarte, Augusto Casimiro, Mário Beirão e Jaime Cortesão, entre outros.[v]
De Pascoaes, o seu
guia, doutrinador e poeta maior, vai emergir uma outra emoção estética e uma
nova leitura da paisagem, através do retorno metafísico à natureza, como
paradigma reencontrado; filiar-se-á numa linha espiritualista, que sonha e
deseja a comunhão dos homens com a terra-lar; símbolo original de Pascoaes que
é reminiscência dos afetos e da função protetora do lar, associada ao eterno
retorno ao seio da terra, de onde se nasce e sob a qual se deposita a morte. E
a comunhão surge da “romaria espiritual ao Tâmega”, às montanhas e rochedos que
são o lugar sagrado da união cósmica do ser individual com o universo.
Mas é sobre as Beiras que este texto deve falar
e por isso voltemos à Beira Douro Na descrição dos céus noturnos do Douro na
Quinta de Tormes, feita por Jacinto ou nos versos daquele poeta sobre o Marão,
emerge um turbilhão de sensações onde “brilha” a reminiscência platónica da
harmonia e da beleza que o filósofo atribui á imanência das coisas: “E é
impossível não sentir uma solidariedade perfeita entre esses imensos mundos e
os nossos pobres corpos.”[vi]
Assim, neste texto, se retoma a “metafísica a
paisagem” e se partirá, para a “ecologia da paisagem”, num processo analítico
encadeado ao longo de todo o percurso temático deste ensaio.
Esta abordagem permitir-nos-á reconhecer, ao
longo das diversas obras e autores, as grandes questões colocadas pelo emergir
da crise ambiental no texto literário e procurar, paralelamente, as raízes que
determinam a configuração da cultura contemporânea e prenunciam as suas linhas
evolutivas. Apreciaremos ainda a sua influência na questão social e como o
ambiente determina decisivamente o devir da nossa sociedade globalizada, desde
a ciência à política e à ética.
Virgílio Ferreira, com a alma na Estrela
A obra de Virgílio Ferreira estrutura-se em torno de uma
única e reiterada questão: o sentido da existência pessoal num universo sem
sentido.
Quando o autor aborda a natureza é como
alegoria, da vida ausente na paisagem coberta de neve que cobre a aldeia da
Beira Baixa, definitivamente deserta, consubstanciando a única alegria breve
(título da sua obra maior) que é permitida ao homem, mas com a particularidade
de, para além da persistente metáfora da angústia existencial, emergirem da
própria estética do texto as imagens realistas… da neve na serra natal, dos
estorninhos voando a uma figueira, da morte piedosa de um cão…
Enfim, angústia existencial perante a morte de
todos os deuses, mesmo daquela ideia do divino imanente ao devir da natureza e
da natureza humana para o Bem, que em Antero de Quental substituiu os cultos
religiosos e que significa o fim do esplendor que “…irradiava da criação vivida
como obra de Deus.”[vii]
Torga, Pascoaes e o sublime das
serranias
A Beira e a sua Serra da Estrela, espelho da relação
telúrica entre as pedras e os seres...
Há rios na Beira? Descem da Estrela. Há queijo
na Beira? Faz-se na Estrela. Há vento na Beira? Sopra-o a Estrela. Há energia
elétrica na Beira? Gera-se na Estrela. Tudo se cria nela, tudo mergulha as
raízes no seu largo e materno seio. Ela comanda, bafeja, castiga e redime.
Gelada e carrancuda, cresta o que nasce sem a sua bênção; quente e desanuviada,
a vida à sua volta abrolha e floresce. O Marão separa dois mundos - o minhoto e
o transmontano. O Caldeirão, no polo oposto de Portugal, imita-o como pode. Mas
a Estrela não divide: concentra. O muro cresceu, alargou, e transformou-se na
extensão que teria de partilhar. O pouco que ficou desse abraço, são flancos,
abas, encostas e escorrências de aluvião.[viii]
Numa
viagem lunar entre o Vouga e o Douro, agora com Teixeira de Pascoaes,
encontramo-nos em presença do seu arquétipo da união espiritual com a
montanha-mãe, mediuna do próprio universo: “Em derredor da montanha tudo é
sonho, silêncio e crepúsculo, espraiando-se numa onda circular, até às estrelas
remotas do horizonte. Todo o vasto mundo é feito de matéria imponderável;
mágoas nublosas formas espirituais, cingindo a densa cristalização da serra.”[ix]
Aquilino Ribeiro, notável e premonitório escritor ambientalista
É igualmente extraordinário e surpreendente
encontrar na obra de Aquilino Ribeiro a constante presença dessa Via Sinuosa ambiental, desde os contos de Jardim das
Tormentas (1913) até ao
Livro da Marianinha (1967),
com destaque para alguns escritos de onde emerge uma premonitória e nítida
temática ambientalista.[x]
Tais são as obras de reflexão sobre a ética antrópica e a ética animal, do
ciclo animalista que inclui
O Romance da Raposa (1923), Arca de Noé,
III Classe (1935) e O Livro de Marianinha.
Os romances nos quais se analisa o impacto no
mundo rural da expansão do capitalismo internacional, onde se pugna pela
conservação da natureza e a favor do desenvolvimento sustentável, em Volfrâmio (1944) e Quando os
Lobos Uivam (1958).
E aqueles outros em que se revela uma aguda
conceção da ecologia global, da infinidade das relações entre os seres vivos e
a terra, que percorre a totalidade da sua obra, e atravessa claramente os
livros Terras do Demo (1919) e
A Casa Grande de Romarigães (1957). Este romance conta a história de três séculos de paisagem
humanizada do Noroeste, retomando a tese aquiliniana de 1923”…A natureza não
tem simpatias especiais por nenhum dos seus seres”, inscrita no seu comentário
ao Romance da Raposa e desenvolvida no posfácio do segundo destes
livros, quando a precariedade da vida e da obra do homem se confronta com a
neutralidade da natureza “…em matéria do bem e do mal, sem privilégio de
carinhos para ninguém,” traduzindo neste postulado o princípio filosófico que
sustenta toda a crítica coeva ao antropocentrismo egocêntrico.
Ou seja, Aquilino afirma que o ser humano não
possui nenhum estatuto de superioridade que lhe permita reinar sobre a restante natureza e dela dispor
sem limites, ideia em que a Filosofia Ambiental fundamenta a crítica ao
antropocentrismo. A “razão ambientalista” moderna formula um novo imperativo
categórico para a ação do homem, mais além da máxima kantiana de conformação
dos atos individuais com o princípio de uma lei universal, um novo quadro
ético, o qual resulta da necessidade de configurar a conduta humana nos limites
que salvaguardem a continuidade da vida e a sua diversidade. Esta mesma ideia
serviu de base à formulação de “imperativo da responsabilidade”, que é um
contributo das Éticas Ambientais e ao desenvolvimento do conceito de Razão
Ambiental. (Ver na Bibliografia as obras citadas de Hans Jonas e António dos Santos
Queirós).
Regressemos
à reflexão filosófica e poética de Aquilino: a vida, não sendo mais que um
momento de equilíbrio que fulge”…nos laboratórios de integração e desintegração
da Natureza , é, …com a sua beleza e o
seu drama, uma razão suficiente, por assim dizer, para o Mundo existir .”[xi]
A génese da floresta surge-nos, no início de A Grande Casa de Romarigães, como esplendor desse nascimento e fundamento ecológico do
sortilégio (da diversidade) da vida:
Do pinhão, que um pé de vento arrancou ao
dormitório da pinha-mãe, e da bolota, que a ave deixou cair no solo, repetido o
ato mil vezes, gerou-se a floresta. Acudiram os pássaros, os insetos, os
roedores de toda a ordem a povoá-la. No seu solo abrigado e gordo nasceram as
ervas, cuja semente boia nos céus ou espera à tez dos pousios a vez de
germinar. De permeio desabrocharam cardos, que são a flor da amargura, e a
abrótea, a diabelha, o esfondílio, flores humildes, por isso mesmo trofeus de
vitória. Vieram os lobos, os javalis, os zagais com os gados, a infinita
criação rusticana…[xii]
Enfim, o quadro da evolução da vida, ou o
retrato poético da floresta mediterrânica, vista como um ecossistema suporte da
diversidade biológica.[xiii]
A tomada de consciência, na escrita literária,
da perda da biodiversidade, em consequência da urbanização cega, que não
poupava os melhores solos, aprofundou-se perante o desenvolvimento da
industrialização primária dos campos, para a extração de minérios com valor
estratégico e militar. A II Guerra
Mundial deu origem à proliferação intensiva da mineração do volfrâmio, com
empresas inglesas e alemãs revolvendo as terras de Norte a Sul na procura desse
mineral estratégico, provocando impactos brutais no interior do país, mas que o
final da confrontação se concentrou nos coutos mineiros de Aljustrel e S.
Domingos, Panasqueira, Borralha e Nordeste Transmontano. Deste processo
retiraram os livros Minas de S. Francisco, de Namora, e Volfrâmio, de Aquilino, a sua matéria poética. Obras contemporâneas do romance
singular de Soeiro Pereira Gomes, Engrenagem, que as precedeu na narrativa dramática do processo de
industrialização do velho Portugal, limitado e contraditório, e que Ferreira de
Castro prosseguiu no romance A Lã e a Neve, paradigma das transformações modernas do mundo
rural, simbolizado na expansão e influência dos lanifícios da corda da Serra da
Estrela sobre o modo de vida e os costumes das aldeias serranas, dos seus
rebanhos, agricultores e pastores ancestrais.
Como veremos, é a saga destes heróis proletários
ou dos seus novos senhores, que está no centro das transformações profundas da
paisagem humanizada portuguesa estigmatizada pelo conflituoso avanço da industrialização e das
relações de produção capitalistas no mundo rural, e que dariam origem ao
romance proibido de Aquilino Ribeiro, Quando
os Lobos Uivam.
Industrialização e conservação da natureza, o emergir do conflito.
Contra essa engrenagem política, económica e
social, escreveu Soeiro Pereira Gomes.
Mas
o que queremos destacar no livro Engrenagem (1944) é o surgimento direto, na nossa
literatura, do conflito entre o desenvolvimento industrial e a conservação da
natureza e do ambiente, personificado na recusa do camponês Zé Lérias em vender
a sua terra aos donos da fábrica e no intercalar na narrativa de painéis
dramáticos denunciando os efeitos nefastos da poluição, a destruição caótica da
paisagem natural, marcada pelas cicatrizes das grandes obras de engenharia,
numa narrativa pontilhada pelos desabafos dos rendeiros-operários que lamentam
o abandono das suas courelas e, finalmente, no trágico desenlace do romance,
com a crise da indústria e o seu encerramento, deixando apenas um ambiente de
desolação e ruína.
O impacto das campanhas do volfrâmio, não apenas
na transformação da paisagem, mas ainda e sobretudo no plano ético, emerge das
obras Volfrâmio (Aquilino Ribeiro) e as Minas de S. Francisco ( Fernando Namora ), esta em
terras do latifúndio.
Podemos reler hoje esses romances e a trilogia
do Ciclo Port Wine (Alves Redol), como paradigmas reveladores do
modelo atual das relações económicas desiguais entre os países do Norte
desenvolvidos e os países do Sul dependentes e subdesenvolvidos e do caracter
volátil do investimento que visa apenas o lucro.[xiv]
Mr. Hinckser, o poderoso alemão (como podia ser
Mister Corbert, o representante do império britânico, enfatizava a missão
“ecuménica” do capital nazi, que fundia e destilava nos altos-fornos das
indústrias de guerra, o níquel da Finlândia, o ferro norueguês, francês e
espanhol, o volfrâmio de Portugal, o petróleo romeno, a bauxite de Itália,
Hungria e Croácia, e o carvão do Ruhr.[xv]
O “volfro“, na expressão de Aquilino…
… significava para as populações do Norte,
deserdadas de Deus, o que o maná foi para os Israelitas no deserto faraónico.
Imagina-se o que seriam os impulsos da horda esfaimada diante do alimento
providencial, no afogo do dejejum…”[xvi]
As aldeias ancestrais mudavam de fisionomia.
Em suma:
… Formava-se uma moral nova com a nova
indústria. Dolo, roubo, mentira, falsidade, desde que constituíssem processos
de promover o negócio do volfrâmio, tornavam-se ordinários, por conseguinte, de
prática corrente, discutível ainda, mas admitida. Resultava de tal consenso que
procuravam todos empulhar-se uns aos outros o mais conspicuamente possível, e
que falsificar o minério, fritando-o, desencantando-lhe substitutos falaciosos,
era um recurso industrial como outro qualquer…[xvii]
Do Ciclo Port Wine, e de um outro olhar sobre a Beira Douro, selecionámos uma
passagem do primeiro volume, Horizonte
Cerrado, reveladora da
trama de sujeição que atinge os pequenos produtores durienses, um diálogo entre
o agente intermediário dos exportadores e um dos seus homens de mão…
O Dr. Freitas deu uma gargalhada.
_ Pois de quem queria que fosse?… Nosso?!… Você
tem coisas!…O lavrador é o burro e o comércio português a albarda; mas quem vai
às cavaleiras é o beef. Pois então!…E sem risco de cair, porque o
burro é manso e a albarda vai bem presa.”[xviii]
O povoamento histórico da terra “... áspera,
nua, seca...”, surge poeticamente transfigurado no esforço e sofrimento dos
homens na construção da paisagem, que a poesia de José Gomes Ferreira evoca.[xix]
Assim chegamos ao romance de Ferreira de Castro,
A Lã e Neve, construído como um fresco clássico, esculpido
num frontão aberto sobre as naves da Estrela, de onde emergem os rebanhos e a casa
dos homens. É exatamente
no Pórtico que fica registado o percurso histórico da manufatura dos lanifícios
e se destaca o papel da evolução tecnológica na transformação da natureza e das
relações sociais.
A lenta transformação da paisagem rural, pelo
esforço camponês de arroteamento da terra inculta e o esbulho desse património
secular, em proveito dos novos proprietários capitalistas, das monoculturas
industriais e do mercado das rendas fundiárias, que marca a viragem económica e
social dos anos 50, de fomento do capitalismo nos campos, encontrou a sua
primeira expressão na narrativa
dramática do Romance A Noite e a
Madrugada, de Fernando
Namora, sob o pano de fundo da saga dos camponeses e pequenos contrabandistas
da raia fronteiriça.
Todos os símbolos elementares da sua relação
patriarcal com a terra estão aqui representados: A laranjeira plantada no
quintal, que um comerciante de palavra enviara pelo caminho-de-ferro. A seara
familiar e o forno comunitário. A lenha roubada do pinhal do novo senhor e
transportada furtivamente pela mulher, dona da casa e responsável pela alimária
e pela criação doméstica.
Relação patriarcal, mas também anúncio do fim
brutal de um período histórico, pressentido na violência crescente que percorre
o diálogo entre o camponês e o feitor, cortado abruptamente com a morte a tiro
do cão de guarda, alegoria da morte próxima de um mundo antigo que Ti Parra
protagoniza. E se fecha no cruel assassinato do velho, enquanto liderava
a reclamação dos direitos das suas gentes, aparvalhadas e indefesas, chicoteado
até à morte quando pretendia suster o ataque dos mastins açulados pelo feitor.
Mas este protesto dos escritores, solidários com
a terra e a vida dos camponeses, retratados como conservadores e agricultores
da paisagem, atingiria um eco nacional, num outro romance. A obra de Aquilino
Ribeiro, Quando os Lobos Uivam, partindo do conflito, gerado nos anos 50, entre
a economia dos povos serranos e a florestação dos baldios para abastecer as
novas indústrias das madeiras e da celulose, procedeu a um amplo confronto de
posições, questionando os interesses em presença e colocando, no centro do
debate, o impacto no ambiente rural do modo de produção do capitalismo
contemporâneo.
A condição humana: filhos da terra (e do mar) e da sua agricultura
Neste contexto sociopolítico emergiu, em
paralelo com os biólogos, geógrafos, físicos e agrários empenhados na proteção
da natureza, uma nova classe de cientistas e técnicos capazes de entender toda
a complexidade e importância do mundo rural e da sua paisagem humanizada, sob a
designação comum de paisagistas. Recordemos o pensamento de um dos seus mais
ilustres representantes:
É tempo de
afirmar que se a cidade é indispensável à organização da sociedade e ao
progresso da humanidade, se a indústria muito tem contribuído para facilitar a
vida e lhe dar conforto, é da paisagem rural que depende a sobrevivência da
humanidade, porque é ela com o mar, a única fonte de alimentos, a única fonte
de água potável, e o último suporte de atividade biológica autónoma e
equilibrada, indispensável à continuação da vida na terra. Por isso a atividade
da Sociedade Rural é a única que continua a ser obrigatória, sendo todas as
outras facultativas, quer a sociedade urbana-industrial se aperceba ou não
desse facto.[xx]
A revalorização do mundo rural surge assim
depurada de qualquer sentimento atávico e enquadrada pela preocupação de
introduzir no campo, de forma harmoniosa, toda a mais-valia científica da
época. Encontramos na literatura uma forma particular dessa cosmovisão, a do
reencontro com a terra e o homem do campo, como em Irene Lisboa e Miguel Torga.
Tomemos os versos de Irene Lisboa.
Quem não sai da sua
casa,
Não atravessa povos,
montes, vales,
Não vê as cenas
bíblicas das eiras,
…Cria mil olhos para
nada... [xxi]
São os mil-olhos do Poeta e é nesta linha que
evoluiu a ficção neorrealista, mas o seu fio condutor, a Terra e o Homem, não é
exclusivo dessa corrente literária, antes constitui um dos arquétipos que
percorre as obras mais representativas da nossa literatura contemporânea.
Vejamos como se manifesta essa constante, através da diversidade dos autores e
textos.
A propósito do Diário escrito por Torga, a
professora Maria Lúcia Lepecki assinala o “…encontro eucarístico, também ele nutricional
e energético…do escritor… com a Terra Mater”.[xxii]
E enfatiza: Vendo e dizendo a Terra Mater, Torga escreve a sua peculiaridade de
português, continente e conteúdo da sua peculiaridade de pessoa. Faz a ponte da
comunhão com o sofrimento do seu povo, com o que ele foi, é e poderá vir a
ser”.
Com Aquilino… “É o mesmo povo, que vive em
terras onde... nunca Cristo ali rompeu as sandálias, passou el-rei a caçar, ou
os apóstolos da Igualdade em propaganda. Bárbaras e agrestes, mercê apenas do
seu individualismo se têm mantido, sem perdas nem lucros, à margem da
civilização…”[xxiii]
Celebradas na sua biodiversidade, são as Terras
do Demo, em que...” Quando se ergue uma lancha em terra húmida de lameira,
acontece fervilhar aos nossos olhos toda uma fauna prodigiosa multicor.”[xxiv]
Personagens e ambientes que se erguem nas
páginas de Ferreira de Castro como “pão levedado” entre o contraste da paisagem
e as almas que as povoam.“... Apanhei o contraste da paisagem e procurei
surpreender a atmosfera das almas...”[xxv]
O Romance da Raposa
A propósito desta obra, escrita em 1924 como literatura
infantil, Aquilino Ribeiro produziu o seguinte comentário.
… Os meus assuntos vou buscá-los à história
natural racionalizando-os. Nós inventamos, para explicar a mecânica da nossa
inteligência, esta palavra mágica: razão. Ao complexo de fenómenos, de que o
nosso cérebro é Teatro, preside esta espécie de deusa, ou melhor, fada. Que
mais não seja é um expoente. Para os
animais, o instinto é a origem e faculdade acima dos seus atos. Mas eu, por
experiência, tenho verificado que há atos da vida animal, o homem à parte, que
superam o âmbito de tal potência. Ora
são esses atos que eu transponho, humanizo, no que imagino tais bichos movidos
pelos mesmos móbiles vitais que nos animam a nós.[xxvi]
Sublinho a afirmação de Aquilino, baseada na sua
experiência, de que há atos da vida animal que superam o instinto e a aproximam
da vida humana. E atente-se na reflexão posterior, acerca da raposa
Salta-Pocinhas.“… É evidente que a minha personagem tem este encanto: existir,
ser conhecida, e eu pôr à vista a sua relojoaria íntima, engenhosa e arteira, e
cada criança admirar nela as habilidades da nossa espécie para subsistir e
impor-se na natureza, que não tem simpatias especiais para nenhum dos seus
seres.”[xxvii]
Retenhamos aqui o pensamento final: “… A
natureza não tem simpatias especiais para nenhum dos seus seres.”
Eis uma conclusão notável, do ponto de vista
científico, sobre as relações entre a natureza e o homem de consequências
revolucionárias para fundar uma nova visão ética, onde a capacidade de sentir
(alegria e tristeza, dor e felicidade, prazer …) enfim, toda a dualidade do
ofício de viver, se transforma num critério com relevância moral.
A aproximação à filosofia lorenziana, que lhe
foi posterior, é também aqui sugerida: o homem encarado na sua ligação
umbilical com o comportamento dos animais superiores, mas sem as capacidades
naturais que esses seres adquiriram na sua relação com o meio ambiente.[xxviii]
Os Bichos
A ética animal, num enquadramento humanista e a valorização
da experiência do sentir, como critério moral e moralizador das relações do
homem com a sociedade e a natureza, atravessam a obra de Aquilino Ribeiro e
também de Miguel Torga.
Este outro autor prossegue na linha aquiliniana
de humanizar a vida dos Bichos, abordando
todas as emoções e sentimentos que marcam a condição humana nos retratos que
traçam de diversos animais. Vamos reproduzi-los em rápido esboço, escolhendo quatro
deles:[xxix]
Bambo
O sapo que conhecia a ciência da germinação da vida e a
ensinava aos homens… Morto pela ignorância e a estupidez humanas.[xxx]
Cega - Rega
Humilde criatura, nascida num monturo, embrião, larva e
crisálida que se eleva até à crista do castanheiro. Ícone da renovação eterna
da vida, metamorfose da nossa própria existência efémera, transmitindo a
mensagem dos poetas que celebram a dignidade humana perante o grande e supremo
mistério…[xxxi]
Miura
O touro nobre e livre encurralado na arena e que prefere a
morte à humilhação, num combate desigual com a violência irracional do ser
humano.[xxxii]
Vicente
Hiper símbolo da autonomia das criaturas face ao arbítrio
dos deuses, o corvo Vicente encarna todos os arquétipos do esforço de
libertação dos homens dos seus limites naturais. Encurralado na Arca de Noé,
metáfora da Terra fustigada pela cólera de Deus contra a Babel dos Homem.[xxxiii]
Ele desafia o próprio criador, reclamando o direito a decidir o seu destino.[xxxiv]
A paisagem urbana. As cidades
As cidades têm Alma e é a escrita de Miguel Torga que nos
revela as cambiantes das três grandes urbes do Portugal contemporâneo. Situemo-nos
em Coimbra: onde o seu ambiente mediterrâneo, sob o impulso de novos produtos
agrícolas trazidos pela expansão, como o milho, criou condições favoráveis à
produção de excedentes agrícolas, utilizados para erguer os monumentos
renascentistas e pagar o soldo dos artistas estrangeiros. Mas, escreve Torga, à
escala da pobreza e da mediania cultural que marcaram os primeiros séculos da
nossa nacionalidade e, em regra, a conduta das nossas classes dominantes e
círculos do poder: com a expulsão dos judeus, a perseguição dos árabes,
cristãos-novos e estrangeirados e o mau governo das especiarias, do ouro e dos
diamantes, deixando-nos quase sempre afastados ou em atraso face às grandes
revoluções científicas, culturais, económicas e sociais da Europa.
…Nenhuma outra cidade como Coimbra testemunha
tão completamente, na sua pobreza arquitetónica, na sua graça feita de remendos
e pitoresco, nos seus recantos sujos e secretos, os limites da nossa capacidade
criadora, a solidão da nossa alma, e o jeito camponês com que nascemos para
tirar efeitos cénicos do próprio gesto de erguer uma videira…[xxxv]
Ao mesmo tempo, Afonso Lopes Vieira questionava
os responsáveis municipais sobre a evolução contemporânea do urbanismo,
produzindo reflexões de uma prodigiosa lucidez e dramaticamente atuais. Dirigindo-se aos autarcas de Coimbra, em
particular, recomendava-lhes”… que tivessem cuidado em que a alma da cidade,
que guarda a sua expressão no conjunto panorâmico e arqueológico, se não
embaciasse pouco a pouco, até ficar muito menos expressiva…” Para concluir com uma surpreendente e radical
advertência. De que seria preferível que “…as indústrias de Coimbra se
extinguissem, a que secassem os choupos das margens do Mondego.”
Mais adiante e em defesa do modesto, mas
precioso Arco de Almedina, relíquia das portas medievais da muralha, denunciava
a confraria dos especuladores urbanos”… Mestres destruidores de Coimbra…
delirantemente inspirados no imitar do ideal da civilização hodierna.
A apóstrofe do poeta surgiu nove anos antes das
conclusões da Conferência Internacional de Atenas sobre a Restauração dos
Monumentos, vulgarmente conhecida como Carta de Atenas. Publicada em 1931. A
leitura de alguns dos seus princípios e sobretudo do capítulo dedicado à Valorização dos Monumentos permite-nos evidenciar a lucidez das preposições do poeta Ruben
A. E do seu protesto contra a destruição da Alta de Coimbra, pelo camartelo
municipal do “estado novo”.
… De uma cajadada matavam a casa do Eugénio de
Castro, a velha Associação Académica na Bastilha, o Pirata, as ruas pitorescas
como mais não havia na Europa. Os aselhas e os pataratas de Lisboa, aliados aos
colaboracionistas traidores, avançavam metodicamente na destruição da coisa
mais bela do nosso património - o musgo quente de nomes que por ali viveram e
sentiram. [xxxvi]
Um novo paradigma de
turismo emerge e torna-se hegemónico à escala do mundo: O Turismo Ambiental,
que integra o Turismo Cultural, o Turismo de Natureza e o Turismo em Espaço
Rural.
O património cultural
e natural que esta literatura revela, constitui o recurso crítico que permite
configurar os produtos e a oferta do Turismo Ambiental.
Em tese, os museus,
monumentos e afins, são as estruturas orgânicas do turismo cultural. Os parques
e reservas, os monumentos naturais, constituem as estruturas orgânicas do
turismo de natureza, em conjunto com as paisagens culturais. O turismo em
espaço rural, organizado a partido de casas vernáculas, aldeamentos, quintas…
partilha com o turismo de natureza os recursos existentes nessas paisagens
culturais.
Sem a sua conservação
e valorização, as 7 cadeias de valor da economia do turismo já não conseguem
obter mais-valias sustentáveis, correspondendo à mudança de “gosto” da classe
média, o gosto como categoria económica, mas que integra os novos valores
estéticos e morais da Filosofia Ambiental e das suas Éticas.
3.
Conclusões
A questão ambiental, enquanto crise multilateral, económica,
política, social e ética, desempenha agora um papel vital na transformação da
cultura e da identidade nacionais, assumindo uma dimensão filosófica, social e
política de crítica ao atual status social, ao seu modo de produção e troca de
mercadorias, à sua amoralidade empreendedora, enunciando princípios e linhas de
força de um novo projeto de democracia participada e de desenvolvimento
sustentável, servidos por uma nova ética ambiental que nasce da crítica ao
antropocentrismo e ao etnocentrismo, mas também ao fundamentalismo
anti-humanista.
Acompanhando as tendências mais avançadas da
economia do turismo e para além delas, o testemunho literário dos
nossos escritores convoca a consciência cívica nacional e a razão ambiental, para
o imperativo ético de defesa e valorização das paisagens culturais, hoje
danificadas pela desordem urbana, e, no campo, condenadas ao abandono e à devastação
provocada pelos incêndios, colocando-nos face a uma opção histórica: o
renascimento do mundo rural ou a derrocada da nossa própria civilização.
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[i] Consultar o seu último trabalho: Costa,
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Queirós. IGIGlobal, Hershey, USA.2020
[ii] Frederico Nietzsche, Prefácio a
Richard Wagner, da obra O
Nascimento da Tragédia, escrito em 1871, pág. 22
[iii] Referência a Schiller.
[iv] Ver as obras de Aquilino Ribeiro:
Andam Faunos Pelos
Bosques, São Bonaboião, Anacoreta e Mártir, Terras do Demo, Volfrâmio e Uma Luz ao
Longe e a nossa análise do romance Quando os Lobos Uivam, mais adiante.
[v] A partir de 1912
[vi] Contos de Eça de Queirós, Civilização, pág. 269. Este conto é, na estratégia literária de Eça, o ensaio
preparatório de A Cidade
e as Serras.
[vii]Antero, citado por Fernando Catroga e Paulo A. M. Archer de Carvalho,
no Manual da Universidade Aberta, Sociedade
e Cultura Portuguesa II, 1994, pp 294 - 295, afirma que Michelet lhe
ensinou “… a ver e a amar na Natureza
uma existência espontânea, uma vida universal, e não uma sucessão de formas
inertes, e a Humanidade, uma razão e uma consciência coletivas, uma alma e não
um mecanismo ou uma abstração.
[viii] Ibidem, pág. 72.
[ix] Guia de Portugal, Tomo de Entre Douro e Minho, I- Douro Litoral, pág. 507.
[x] Como afirma Urbano Tavares Rodrigues: “Não há talvez em toda a
literatura portuguesa quem, como Aquilino Ribeiro, sinta e exprima o campo em
todas as suas dimensões, sem cisco bucólico no olhar que lhe tolde a visão das
violências, dos medos, das ferocidades,
da terrível luta pela sobrevivência, mas sempre maravilhado ante a beleza
ardente de um arrebol ou da erva geada e do caramelo a brilhar nos rios e nas
lamas em manhã límpida e azul. Familiar dos animais e das plantas, das amplas
carvalhas, das flores subtis, dos próprios alcantis quedos e rudes. Deslumbrado
não só perante os quadros que a natureza a todo o passo compõe, para os que
sabem vê-los, mas sobretudo perante o milagre da vida a suceder-se, a nascer, a
vibrar em alta tensão ou em suave murmúrio, a brotar da próprio morte.”
Aquilino Ribeiro, Romances Completos, A Via Sinuosa, pág. XVIII do Prefácio.
[xi] Aquilino Ribeiro, A Casa Grande de Romarigães, pág. 285, 1957.
[xii] Ibidem,
[xiii] Carlos de Oliveira, na crónica intitulada Na Floresta, escrita e reescrita entre 1966 e 1970, publicada
em O Aprendiz de Feiticeiro, traça um largo quadro da utilização da floresta
como metáfora e símbolo, na literatura portuguesa.
[xiv] Esta dependência aflora também noutras narrativas romanescas, em torno
do ciclo de recessão que acompanha sempre as monoculturas, do cacau, na Nau de Quixibá, de Alexandre Pinheiro Torres, da borracha, em A Selva, de
Ferreira de Castro…
[xv] Aquilino Ribeiro, Volfrâmio, pág. 125, 1943.
[xvi] Ibidem, Prefácio.
[xvii] Ibidem.
[xviii] Alves Redol, do Ciclo Port Wine, o
romance Horizonte Cerrado, pps. 274 e 275, três volumes publicados entre 1949-53. A este
título seguiram-se Os Homens e as
Sombras e Vindima de Sangue.
[xix] José Gomes Ferreira, Heroicas, Poema XXV, pág. 148, 1936/3.
[xx] Intervenção do Prof. Francisco Caldeira Cabral no Congresso da
Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas, organizado em Tóquio no ano
de 1964.
[xxi] Irene Lisboa, Pequenos
Poemas Mentais, in Revista
Portugal, nº 3, 1938.
[xxii] Maria Lúcia Lepecki, Sobreimpressões, pág. 144.
[xxiii] Aquilino Ribeiro, Terras
do Demo, pág. 1 do Prefácio, 1918
[xxiv]. Ibidem, pp. 3 e 4 do Prefácio.
[xxv] Ferreira de Castro, Terra Fria, pág. 3 do Pórtico, 1934.
[xxvi] Aquilino Ribeiro, O
Romance da Raposa, 1924, pág. 169.
[xxvii] Ibid., pág. 171
[xxviii] Konrad Lorenz - A Agressão. Uma História Natural do Mal. Lisboa:
Editor: Relógio D'Água Editores, 1992
[xxix] Miguel Torga, Bichos, pág. 12, 1940.
[xxx] Ibid., pp. 65, 66 e 67.
[xxxi] Ibid., pág. 67.
[xxxii] Ibid., pp. 109, 11, 116 e 117.
[xxxiii] Ibid., pp. 128 e 131.
[xxxiv] Ibid., pp. 133 e 134.
[xxxv] Miguel Torga, Portugal, pág. 87.
[xxxvi] E ampliado depois pela Carta de Veneza (1966) e a Carta Europeia do
Património Arquitetónico, adotada em Outubro de 1975 em Amsterdão, sob a
iniciativa do Conselho da Europa. Fernando Namora identificava-se com os seus princípios e como
por eles se bateu com a sua escrita.
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