O Futuro da Europa…de Portugal (e dos PLP), Riscos e Desafios

 

"Existe a possibilidade de podermos (Portugal) ter um modelo próprio dentro da União Europeia? Ou seja, de Portugal criar um espaço diferenciado no quadro da UE, com base, nomeadamente na valorização do território e das cidades e na atração de talentos? Pode Portugal, por exemplo, ser a «Irlanda» da China? Que relações próprias podemos procurar ter com os E.U.A.?"

07:48:32 2025-04-17  Link para a notícia:

O Futuro da Europa…de Portugal (e dos PLP), Riscos e Desafios

https://portuguese.cri.cn/2025/04/17/ARTI1744872509307302       

Texto completo:

A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, CCP, que filia cerca de uma centena de associações, distribuídas em três categorias: Regionais, Sectoriais e de Serviços, realizou (em 9 de abril) uma Conferência, sobre o “O Futuro da Europa…e de Portugal, Riscos e Desafios”, Através das suas associações a CCP representa mais de 200 mil empresas, gerando 1,4 milhões de postos de trabalho. 

Foi uma iniciativa orientada para as elites políticas, económicas e científicas, (governantes, líderes empresariais/financeiros e das universidades) _ referimos, sem menosprezar outras personalidades_ as intervenções de anteriores ministros da Economia como Augusto Mateus e Manual Caldeira Cabral, António Ramalho (ex-CEO do Novo Banco, etc…. O foco do debate foi o Relatório Draghi e as taxas impostas pelo governo dos EUA, unanimemente consideradas como um imposto descarregado sobre as nações e os cidadãos; e o papel de Portugal no âmbito da União Europeia e dos Países de Língua Portuguesa, das relações com o Sul Global, a China e o Fórum Macau, no sentido de fazer ouvir a voz do mundo empresarial no atual contexto de eleições, que conduzirão a um novo governo.

Das intervenções e do debate, podemos evidenciar que a importância de reforçar as relações com a China, representou uma ideia consensual. Esta tomada de consciência, tem sido objeto de recentes e múltiplas declarações políticas na comunicação social e nelas se destaca a do antigo ministro António Costa e Silva (2020), responsável pelo Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-30”, que preconizou mesmo “a viragem” para a cooperação com a China.

Na conferência emergiram ideias inovadores e que vão fazer o seu caminho na nação portuguesa e nos países que partilham a sua língua e cultura, as quais, na opinião do autor desta crónica, convergem com a visão da China para um futuro comum da humanidade e uma Nova Era de Paz e cooperação. A paz como condição da cooperação, a cooperação como um instrumento que consolida e pavimenta o caminho pacífico do progresso da humanidade.

                           

Uma questão central foi colocada no documento orientador dos trabalhos:

Existe a possibilidade de podermos (Portugal) ter um modelo próprio dentro da União Europeia? Ou seja, de Portugal criar um espaço diferenciado no quadro da UE, com base, nomeadamente na valorização do território e das cidades e na atração de talentos? Pode Portugal, por exemplo, ser a «Irlanda» da China? Que relações próprias podemos procurar ter com os E.U.A.?

O próprio documento assinala, na sua crítica ao modelo económico e político para onde resvalou a governança de Bruxelas, os caminhos a evitar:

_ O país para ser competitivo tem, em particular, que priorizar as políticas de território – em especial ao nível das políticas de cidade – e de recursos humanos (o conhecimento) que, no Relatório Draghi e nos documentos da UE., são claramente secundarizados.

Na sua intervenção, o subscritor desta notícia, respondeu àquela questão afirmando que nos últimos anos o Brasil, Angola e os restantes países de língua oficial portuguesa, com a China, têm vindo a contruir um polo comum do multilateralismo, com uma crescente influência na política mundial, convergindo na defesa da paz e do desenvolvimento sustentável.,

Sublinhando que se Portugal não se integrar, cada vez mais, nesse polo (sem ter de excluir a UE e outras parcerias internacionais), nos planos cultural, político e económico, nos próximos decénios, a sua diplomacia global tornar-se-á completamente irrelevante. Apelou ainda para a análise da realidade da China, a partir da perspetiva de que a sua República Popular representa uma nova experiência histórica da democracia e do socialismo, em relação com a qual o quadro conceptual ocidental da hermenêutica política não é o adequado para compreender a Nova China e para a necessidade de conhecer e estudar os documentos originais e verdadeiros que constituem os pilares da política internacional da RPChina, omitidos ou truncados na mídia ocidental.

Senão vejamos: Ao todo, as trocas comerciais entre os países de língua portuguesa e a China (no início, eram de 11,3 B) atingiram 220,9 mil milhões de dólares em 2023 (203 biliões de euros). Mas foi a República Popular da China que registou um défice comercial de 74,1 mil milhões de dólares (68,3 mil milhões de euros, em 2023) com o bloco lusófono, desmentindo a ideia falaciosa de que as relações comerciais com a China conduzem à dependência e à dominação económica, graças sobretudo ao desenvolvimento da atividade do Fórum Macau, que não se limita ao comércio entre a China e os países lusófonos e, sobretudo, às contribuições do Brasil e Angola.

No plano internacional, o autor lembrou as diferentes estratégias da RPCh e dos EUA face às crises globais, expressas em 2021 quando surgiram dois documentos fundamentais para compreendermos a atual crise internacional: A "Iniciativa de Desenvolvimento Global da China" e o "Plano de Ação Estratégica do DHS para Combater a Ameaça Representada pela República Popular da China".. O principal objetivo da iniciativa da China foi superar os desafios colocados pela pandemia e acelerar a implementação da Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável. Em sentido contrário evoluiu a política dos EUA.

A Eurásia como terra prometida do hegemonismo do século XXI

A Estratégia de Segurança Nacional dos EUA (para a hegemonia), reelaborada durante o século XX, pode ser resumida em quatro documentos doutrinários:

Século XIX Doutrina Monroe: “A América (O Continente) para os Americanos (USA)”.

Século XX: Doutrina da Heartland, Mackinder: “Quem governa a Europa de Leste, governa o mundo"

_ A Teoria de Rimland, Spykmam “:: quem controlar os países ao redor da Eurásia, domina a Heartland”, graças ao poder aéreo-naval moderno.

_A doutrina Brzezinski:” …o controlo sobre a «Eurásia» implicará automaticamente a subordinação de África [...] a «Eurásia» representa cerca de três quartos dos recursos energéticos mundiais conhecidos... 75% da população."  (Zbigniew Brzezinski, "O Grande Tabuleiro de Xadrez: Hegemonia Americana e Seus Imperativos Geoestratégicos", 1997).

É neste quadro geoestratégico, que se deve entender o apoio e financiamento dos governos dos EUA ao Brexit, o fomento da divisão da União Europeia entre a Velha Europa (a Ocidente) e a Nova Europa (a Leste) e o alargamento da NATO, que está na origem do triplo conflito na Ucrânia: golpe de estado, guerra civil e invasão. Uma política intervencionista e de militarização, que tem uma dupla face: impedir a aliança entre a Alemanha (a potência tecnológica) e a Rússia (a detentora de imensos recursos humanos e naturais) e opor-se à Iniciativa de Segurança Global para a Paz, enunciada pelo Presidente Xi Jinping (2022). O seu princípio fundamental e inovador é "o princípio da segurança indivisível", que rejeita o caminho da construção da própria segurança em detrimento da segurança dos outros, em consonância com os princípios da Carta das Nações Unidas, que a China propõe assumir de vez o seu papel de fórum mundial da paz e do desenvolvimento partilhado e sustentável.

A Crítica ao Relatório Draghi

A Conferência da CCP, ao analisar o Relatório Draghi e as orientações produzidas pela UE, constata o esgotamento do atual modelo económico europeu; a necessidade de elevar o investimento até 3% do PIB comunitário, mas recorrendo como instrumento preferencial a emissão de dívida por parte da União; subscreve a crítica do Comité Económico e Social Europeu ao Relatório, o qual, embora salientando a ligação entre a competitividade e o modelo social europeu, parece questionar o papel estratégico da política de coesão no âmbito do atual QFP 2021-2027; a Conferência  discorda .do foco da inovação continuar confinado à indústria transformadora e à produção material;  questiona o  “Plano para Rearmar a Europa”, criticado por ser ilusória a prometida autonomia da industria de defesa, e tal significar agora e a médio prazo, mais importação de armamento ( 2/3 deste gasto traduz-se hoje em compras aos E.U.A.), sem que esteja desenhado. sequer o conceito europeu de estratégia de defesa e segurança.

O Acordo Global UE-China sobre Investimento/CAI foi boicotado no Parlamento Europeu, por ação do lobby americano e volta a estar na ordem do dia. Países como a França, ignoraram a imposições da burocracia de Bruxelas e avançaram autonomamente para a sua concretização.

 Servilização do “país do meio”, entra a terra e o oceano

A Conferência apontou que não podemos continuar a definir prioridades e a conceber projetos apenas em função do “menu” da UE, que não cobrem as nossas reais necessidades. Que Portugal deve privilegiar os projetos de eficiência coletiva, nomeadamente aqueles em que o público e o privado se combinam. O objetivo estratégico do investimento deve reduzir o peso das componentes importadas nas nossas exportações, aumentando o valor acrescentado nacional daquilo que exportamos. Abandonar o discurso obsoleto da «reindustrialização» e defender que a «política industrial» que cria valor e nos torna competitivos tem que ter por base uma economia de serviços (servitização”  com uma visão integrada das cadeias de valor), incorporando as componentes imateriais (e não apenas o ciberespaço), e isso significa, atrair talentos e empreendedores (pessoas) mais do que grandes empresas internacionais; enquadrando-os  num ambiente urbano (e de renascimento do mundo rural), “verde”, seguro, limpo e cuidado_ a transição ecológica (mas também reorganizar o país como  a Porta Atlântica da Rota Marítima da Seda, com a economia sustentável do mar e a Rota da Seda Ferroviária da Eurásia nos horizontes). Uma economia de transição para Projetos que diminuam a periferização do país na geografia da Europa e que recentrem Portugal no quadro das relações desta com o resto do mundo ( Portugal é hoje “o país do meio”), em especial, por via das ligações atlânticas com África e o continente americano e que reforcem o nosso relacionamento económico com países não europeus (nomeadamente na Ásia). E não foi nesta visão estratégica que se assinaram os acordos de cooperação impulsionados com a visita de presidente XI Jinping a Portugal?

As ofensivas dos governos dos EUA estão condenadas ao fracasso, porque são falsos os fundamentos invocados para a  sua crise existencial. Assentam em 3 falácias: A decadência do império americano seria causada pelos maus acordos com o Canadá e o México. Pelos custos das políticas ambientais e sociais. Pela concorrência desleal da União Europeia e de outros aliados da NATO, tal como da RPCh, a grande ameaça.

Outras são as causas estruturais:

_ A Inteligência Artificial, num regime de capitalismo desregulado, é a principal fonte do desemprego. 20 milhões de empregos extintos.   A China recicla e inova, homens, máquinas e tecnologias, a América destrói forças produtivas.                  

_A Automação e Robotização são a causa maior do empobrecimento das classes trabalhadoras, do soldador ao advogado. À China alivia o trabalho, inova a produção, retira da pobreza 800 milhões de cidadãos e eleva a classe média a centenas de milhões, redistribuindo a riqueza

_ A Autonomia energética com base na produção intensiva de combustíveis fósseis, avolumados pela extração altamente poluidora do gás e petróleo de xisto, conduz ao excesso de produção intermitente, que o ciclo de pandemias financeiras e virais transforma em surtos ruinosos, cada vez mais frequentes e mais prolongados.

_ A desregulação da banca, a criação de produtos derivados e a impressão de papel-moeda sem valor real, a multiplicação de paraísos fiscais, a manipulação das agências de rating, os fundos abutre, o cartel dos 17 bancos gigantes, as empresas tecnológicas sem regulação, colocaram nos bolsos de 1% da população o valor de 93% do PIB dos EUA. Mesmo o número das famílias multimilionárias caiu de 600.000 para 400.000.  Aos 40 milhões de pobres reconhecidos pelo governo federal, há que somar pelo menos 30 milhões de  não cidadãos, emigrantes residentes a quem não é reconhecido nenhum direito social.

_ Finalmente, e não menos importante, o complexo militar Industrial apoderou-se em cartel do estado, controla os dois partidos únicos e é financiado pelo governo sem concorrência; conduz os governos americanos para o intervencionismo e a expansão da guerra. (Não se pode ligar e desligar um poço de petróleo ou um complexo militar de produção, como uma fábrica têxtil ou um grande hotel em época baixa).

Segundo o FMI e o Banco Mundial, em 2016, a China tornou-se a maior economia do mundo em PPR (O Poder de Compra Comparado) pelo segundo ano consecutivo. Produziu US$ 21,3 triliões.

A União Europeia ficou em segundo lugar, gerando US$ 19,2 triliões.

Os Estados Unidos caíram para o terceiro lugar, produzindo US$ 18,6 triliões.

Segundo a Bloomberg, entre 2024 e 2029, a contribuição para o crescimento da economia mundial será liderado pela China, com 21,7%, seguida pela Índia, com 14,8%, os EUA, com 11,6%, a Indonésia com 3,5%, a Rússia com 2,1%, o Brasil com 2,0%, a Turquia com 1,9%, o Egito e a Alemanha com os mesmos 1,7%, o Japão com 1,7%....

Assim sendo, sem a China o mundo entrará em recessão. A União Europeia tornar-se-á irrelevante. A Federação Russa não possuirá uma base económica para sustentar qualquer estratégia de reconquista do império czarista.

E, questão existencial: sem a oposição da RPCh e das outras democracias liberais ou socialistas, as forças democráticas da grande nação americana serão completamente esmagadas e os 4 cavaleiros do apocalipse cavalgarão á volta ao mundo com os freios nos dentes, em vagas sucessivas de destruição: recessão e crash financeiro, guerra, pandemia, crise geral do ambiente.

 

Lisboa, 10.04.2025

António dos Santos Queirós, professor e investigador. Universidade de Lisboa

2 comentários:

  1. Uma análise certeira e premonitória. A Europa está a definhar, muito graças a politicas sem visão, atadas a conceitos ultrapassados e submissas á vontade da América e do seu líder. A comandita que governa os destinos europeus vive uma espécie de estado de negação, numa constante e ridícula obsessão pela Rússia, e do que esta representa para a cultura europeia, e estão alheados do contributo que a China tem dado para o progresso da humanidade, preferindo aliar-se á agenda dos senhores da guerra e dos interesses de um palhaço que desgoverna o mundo. Estamos feitos com estas elites do sopeiral!

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  2. A economia internacional não é dos meus melhores conhecimentos. Assim não entendo, a seguinte cadeia de informações e conclusões :
    a China tornou-se a maior economia do mundo em PPR, Produziu US$ 21,3 triliões. A União Europeia ficou em segundo lugar, US$ 19,2 triliões. Os Estados Unidos caíram para o terceiro lugar, US$ 18,6 triliões.
    Segundo a Bloomberg, entre 2024 e 2029, a contribuição para o crescimento da economia mundial será liderado pela China, com 21,7%, etc.. seguida pela Índia, com 14,8%, os EUA, com 11,6%, a Indonésia com 3,5%, a Rússia com 2,1%, o Brasil com 2,0%, a Turquia com 1,9%, o Egito e a Alemanha com os mesmos 1,7%, o Japão com 1,7%....
    Então a UE deixou de existir? Assim (é aqui que não percebo pois não está demonstrado) porquê a UE será irrelevante, embora concorde que, sem a China o mundo entrará em recessão. A União Europeia tornar-se-á irrelevante (não demonstrado!).

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