Revista Diplomatic
28.09.2017
Prof. António dos Santos Queirós
Secretary General of CCDPCh Chamber of
Portugal-China Cooperation and Development
O Sistema Político
A visão adotada pelos
observadores ocidentais sobre a República Popular da China, procurando sobrepor
á realidade chinesa as suas próprias categorias políticas e económicas,
constitui fator decisivo para explicar erros e incapacidade analítica. Foi
assim com o epíteto de “vulnerable economy”, lançado pela revista The
Economist, aquando do auge da crise financeira
e é assim quando a Revista Times lhe chama “hybrid model of quasi-state
capitalism and semi democratic authoritarianism”.
Após a Fundação da República
Popular da China (1949), o PCCh levou a cabo a transição da Nova Democracia
para a primeira etapa do “socialismo com caraterísticas chinesa”, estabelecendo
as suas bases teóricas e desenvolvendo-o, económica, política e culturalmente.
Trata-se de um sistema político
original, cooperativo, consultivo e democrático, assente nas Assembleias
Populares e no sistema de Conferências Políticas Consultivas do Povo Chinês,
que emerge durante a consolidação da frente única contra a ocupação e o
imperialismo japonês, na fase final da II guerra mundial. Após a derrota do
Japão, a China dividiu-se entre os partidários do Kuomitang, que pretendiam
restaurar a hegemonia de uma classe dominante de senhores da guerra, grandes
proprietários fundiários e comerciantes associados às empresas estrangeiras e,
do outro lado, a burguesia nacional, empresários e intelectuais e, sobretudo
centenas de milhões de camponeses pobres que exigiam a reforma agrária e dela
já desfrutavam parcialmente nas regiões libertadas. A guerra civil, que se
agudizou entre 1946 e 1949, colocou do lado do PCCh os oito partidos
democráticos emergentes, incluindo uma parte do Kuomitang que cindiu com a sua
direção e dividiu igualmente os aliados internacionais, conduzindo as potências
ocidentais a apoiar militarmente o Kuomintang e a URSS o PCCh e a aliança
política pela Nova Democracia.
A aprovação da Constituição que
fundou a República Popular da China (1954) instituiu a aliança política entre o
PCCh e os 8 partidos democráticos, garantindo-lhe a presença nos comités
dirigentes dos principais órgãos do estado, base da nova democracia.
O Sistema Económico
O Artº 6º da Constituição da
República Popular da China (revisão de 1999), postula como base do sistema
económico socialista da República Popular da China a propriedade pública
socialista dos meios de produção, designadamente a propriedade de todo o povo e
a propriedade coletiva do povo trabalhador, mas admite outras formas de
propriedade e de distribuição da riqueza.
Analisemos agora, sumariamente, a
sua evolução concreta, no quadro do processo de Reforma e Abertura:
A propriedade do estado predomina
nos setores fundamentais da economia, transformando-se em corporações:
Transportes ferroviários e aéreos, correios, telecomunicações, abastecimento de
carvão, água e eletricidade às zonas urbanas, investigação científica,
educação, defesa nacional e finanças….
As empresas de propriedade não
pública predominam no desenvolvimento sectorial da economia, representando
entre 50 a 70% em 26 dos 40 setores da indústria.
A linha geral da economia
socialista de mercado
O Partido deve defender e
melhorar o sistema económico básico, com a propriedade pública desempenhando um
papel dominante e diferentes setores económicos desenvolvendo-se lado a lado,
bem como o sistema de distribuição sob o qual a distribuição de acordo com o
trabalho é dominante e uma variedade de modos de distribuição coexistem,
encorajar algumas áreas e algumas pessoas a tornarem-se ricas primeiro,
gradualmente eliminar a pobreza, alcançar a prosperidade comum, atender
continuamente às crescentes necessidades materiais e culturais do povo com base
no crescimento da produção e da riqueza social e promover o desenvolvimento
geral das pessoas.
Governance, as relações entre
o governo e o mercado
Princípios: O governo pretende
que o mercado decida, mas não lhe concede todo o poder. O governo assegurará a
estabilidade da macroeconomia. Continuará a prestar os serviços públicos.
Defenderá a justa competência no mercado. Procederá à supervisão do mercado.
Manterá um mercado ordenado. Promoverá o desenvolvimento sustentável. Intervirá
quando o mercado falhar.
Diagnóstico: O mercado está
subdesenvolvido. Há uma excessiva intervenção governamental. Predomina o
protecionismo departamental e governamental. A supervisão do mercado é débil.
Orientação: Seguir as leis
fundamentais do mercado. Desenvolver a concorrência. Reconhecer o primado do
mercado sobre o governo, no que respeita à afetação dos recursos e à eliminação
das fraquezas da economia.
O socialismo de caraterísticas
chinesas para uma Nova Era
A China retirou da pobreza 800
milhões de cidadãos e em 2020 completará o objetivo de a erradicar. Traçou como
orientação para os próximos 30 anos alcançar a prosperidade de uma nova classe
média de mil milhões de cidadãos, com base na completa transição ecológica da
sua economia e sociedade e na construção de uma Nova Rota da Seda para a Paz.
O Presidente Xi nas tribunas do
19ºCongresso do PCCh, da 13ªAssembleia Nacional Popular e da 13ª Conferência
Política Consultiva do Povo Chinês, clarificou as orientações económicas e
políticas que traduzem essa Nova Era: Existem ainda várias restrições para o
desenvolvimento do país, tais como a numerosa população, o baixo rendimento per
capita, a fraca base ecológica… e novos desafios, o envelhecimento da população
e a baixa de natalidade, o insuficiente abastecimento de energia, entre outros.
Somente com o progresso dos países em desenvolvimento e dos países menos
desenvolvidos do mundo, a China pode crescer. Somente com a prosperidade dos
países em desenvolvimento, a China pode ser mais próspera.
BRICS, Relações SuL-SuL e
Portugal
Os BRICS, representam 40% da
população, 25% do PIB e mais de 50% das reservas internacionais, possuem o seu
próprio banco e são credores dos EUA.
Cooperação Sul-Sul: A assistência
da China desenvolve-se nas áreas das infraestruturas, agricultura e
desenvolvimento de recursos humanos bem como através da isenção de direitos
aduaneiros e o “perdão da dívida” concedido aos países menos desenvolvidos
(PMDs). A partir de janeiro de 2009, foram aplicadas tarifas preferenciais
unilaterais para 41 países menos desenvolvidos. As autoridades pretendem
aumentar a cobertura deste esquema para 95% das importações dos PMDs.
Os países da Eurásia, desde o
leste da China até ao ocidente da Europa, estão a constituir um mercado
contíguo que cobre 60 países e 60% da população, 75% dos recursos energéticos e
60% do PIB, do mundo. Estima-se que dentro de dez anos o comércio em toda esta
região poderá superar US $ 2,2 triliões por ano.
Foi criado o AIIB The Asian
Infrastructure Investment Bank (2015), a China anunciou que já foram planeados
mais de 1 trilião de yuan (US $ 160 bilhões E.U.) de projetos de
infraestruturas. O Banco tem um capital autorizado de US $ 100 bilhões, dos
quais 75% serão provenientes de países asiáticos e da Oceânia. A China, detém
26% dos direitos de voto.
Portugal ocupa o lugar
estratégico de porta atlântica da Rota Marítima da Seda para a Europa, ligando
os seus portos ao Corredor Ferroviário Atlântico, que atravessa o continente
atá à República Popular da China.
http://diplomaticmagazine.pt/2018/06/14/a-economia-socialista-de-mercado-da-republica-popular-da-china-para-uma-nova-era/?fbclid=IwAR33_tkEPf5M06GXlq6YZ73V-fofxVXWwT9dgKQNsB6PHoFhv5KOqDjbO3I
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