A SITUAÇÃO DOS
MUSEUS E CENTROS DE CIÊNCIA DE PORTUGAL
E a sua missão
social, na educação e na nova economia
Em finais de 2019 a direção da
MC2P, dando continuidade ao ciclo de
reuniões alargadas dos seus órgãos sociais, debateu a situação dos museus e
centros de ciência de Portugal.
Os participantes constataram a
persistência de graves problemas, quer ao nível da tutela institucional e dos
quadros de pessoal, quer ao nível da missão dos museus e centros de ciência,
concluindo:
O exercício da tutela dos museus
e dos museus e centros de ciência, em particular, pressupõe que as administrações
reconheçam plenamente a sua função
social, como estruturas orgânicas do Ensino e da Educação Não-Formal.
Mas também como estruturas
orgânicas do Turismo Cultural, o paradigma turístico em ascensão e já
hegemónico.
A metodologia própria das práticas educativas do ensino e da educação não formal _observação, participação, experimentação e interatividade, embora implicando esforço e aquisição de conhecimentos científicos, como nas escolas que estruturam a educação formal, apela particularmente para o despertar da curiosidade científica, cria o gosto pelo estudo experimental e faculta a alegria e a recompensa moral da descoberta. A educação não formal é complementar do sistema de educação formal e deve ser desenvolvida em articulação permanente com a educação formal e a educação informal, ao longo da vida, como recomendam a UNESCO e o Conselho da Europa.
Consequentemente, os quadros dos
museus devem ser plenamente preenchidos com técnicos qualificados e carreiras
institucionalizadas (preceito igualmente válido para os seus diretores) _ sem
prejuízo da mobilidade em contexto de ascensão profissional, que permitam
conservar e passar o testemunho da sua cultura museal, herdada dos primeiros
diretores e equipas fundadoras.
Mas igualmente necessitam adaptar a sua estrutura funcional à comunicação
moderna da sua museografia, competência que não é do domínio do marketing, mas
da cultura e da cultura (e literacia) científicas, das ciências da educação, da
economia do património, da filosofia ambiental e das suas éticas. Cabem às
ferramentas de marketing potenciar a comunicação em ciência, intrinsecamente
cultural.
A Relação Museu-Escola
Sem negar a relativa importância dos aspetos lúdicos na
educação científica, creio que uma aprendizagem sólida, que perdure, exige
sempre, da parte de quem aprende, que se faça algum esforço de compreensão e
retenção. Assim, em minha opinião, não se trata de afirmar que tudo pode ser
apreendido sem esforço, mas de convencer as crianças e os jovens que vale a
pena dar esse esforço pelas recompensas intelectuais e emocionais que isso lhes
traz. É qualquer coisa de semelhante ao que se passa com a prática desportiva:
não se obtêm bons resultados sem despender esforço; apenas pelo interesse que
se tem por ela se está disposto a fazê-lo. Penso que o papel essencial dos centros
de ciência perante a juventude não é dar-lhe a ilusão que ali se aprende
ciência sem esforço, mas comunicar-lhe o interesse para que vença os bloqueios
que sente na aprendizagem de certas matérias científicas e se disponha a
estudá-las alegremente e sem o sentimento de hostilidade que, a esse respeito,
até aí a dominava.(FBG)
As 7 cadeias de
valor da economia do património
A construção de uma relação
cooperativa e complementar com a escola, e os seus docentes, constitui também a
melhor alavanca para criar novos públicos e fomentar a visita organizada aos
museus e centros de ciência, atividade geradora das mais valias que criam
valor para a economia do património (e, especialmente. do turismo).
Mas não são os museus, monumentos
e afins, que recolhem diretamente as principais mais-valias, mas sim as 7
cadeias de valor da economia do turismo: alojamento, restauração, lojas e merchandising, transportes,
guionamento, animação e agenciamento.
No entanto, esse valor é gerado
pela capacidade que as instituições museais possuem de atração de viajantes, internacionais,
os de maior valor acrescentado e nacionais: Comparemos números, de antes da
pandemia. Total de espetadores em todos os campos de futebol do país, no ano de
2018/19_ 4,3 milhões.Com, 15,5 Milhões de visitantes nos Museus, +
de 12 Milhões nos Monumentos; ainda 9 Milhões nas exposições das galerias de
arte, + 6 Milhões nos espetáculos culturais. (Fontes: FPF, INE). Comparemos os
500 mil euros anuais investidos pelo estado no orçamento do Museu de
Conimbriga, com os 8 milhões de euros que os seus turistas e excursionistas
gastam nas 7 cadeias de valor para o visitar!
Tais externalidades, dos museus,
monumentos e afins, traduzem-se em valor acrescentado, incompreendido pela
maioria das entidades tutelares, que não o incluem na contabilidade do turismo,
iludidas e iludindo-nos com as aparências
e através da comunicação social.
O Cefop.mc2p
Neste contexto, o Centro de
Formação de Professores da MC2P, foi criado para a formação contínua de docentes e acreditado
pelo Conselho Científico Pedagógico de Formação Contínua, entidade do
Ministério da Educação, construindo já
um vasto programa que certifica os
professores nos domínios pedagógico e científico para a progressão na carreira,
com um dos seus polos nos museus e centros de ciência nacionais e extensão transfronteiriça. A parceria com o
Cefop.Conimbriga, permite-lhe alargar essa certificação a todos os domínios profissionais.
A MC2P conclama as instituições
museais de ciência em Portugal a prosseguir o seu trabalho de cooperação e
internacionalização, para promover o potencial educativo dos museus e centros
de ciência, mas também o diálogo intercultural e a coesão social, que permitiu
criar a sua Rede Nacional, o Roteiro dos Museus e Centros de Ciência, o
Encontro Nacional para a Cultura Científica e o Contributo para o Debate
Nacional pela Educação, promovido pela Assembleia da República.
Ou seja, constituir-se como
interlocutor autónomo preferencial no âmbito da literacia científica, a nível
nacional e das instituições de tutela e, como
ponto focal cívico e cultural do país a nível internacional.
Faço votos que nos voltemos a
reunir no III Encontro, com saúde.
Lisboa, 21.10.2021
António dos Santos Queirós-
Presidente da Direção da mc2p, em representação do Cefop.Conimbriga
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