[1]
Para compreender melhor o contexto histórico e político da época e o sistema
político da República Popular da China, ver os artigos publicados em
http://portugaldiarioilustrado.blogspot.pt/ e http://philoetichal.blogspot.pt/
[2]
Consultar Sun Yat-sen. Three Principles of the People, 1923 Mínzú (民族主義, Mínzú Zhǔyì); Mínquán (民權主義, Mínquán Zhǔyì); Mínshēng (民生主義, Mínshēng Zhǔyì). Este
livro constitui o testamento político de Sun Yat-sen. Na tradução oficial chinesa para
inglês: l. The principle of Nationalism. 2.
The principle of Democracy. 3. The principle of
Livelihood.
Sempre
que tivermos acesso à tradução oficial chinesa para inglês, usaremos a
transcrição nesta língua, na busca de maior rigor de expressão.
[3] Consultar o ensaio, abundantemente
documentado, do professor de Oxford Rana Mitter, Forgotten Ally: China's World War II, 1937-1945 Sep 2, 2014. Mariner
Books, Houghton Mifflin Harcourt, Boston, Massachsetts.
[4]
Esta ocupação remonta à primeira guerra sino-japonesa e marca o início da
transformação do Japão em potência imperialista. A Primeira Guerra
Sino-Japonesa (1894-1895) foi um conflito entre o Japão e a China,
fundamentalmente pelo controle da Coreia. Em Março de 1895, os dois países
assinaram o tratado de Shimonoseki e a China aceitou a cedência de Taiwan, das
Ilhas dos Pescadores e de Liaodong (na Manchúria) ao Japão. A Coreia ficou
sobre dominação japonesa.
[5] Cnsultar Red Star Over China. By Edgar Snow. 1937
- London - Victor Gollancz Ltd, 464 pp.
[6] Consultar a obra de Israel Epstein,
I. (2005). History Should Not Be Forgotted. Chapter 7: Soong Ching
Ling, in the Anti-Japanese War. Pekin, China Intercontinental Press, pp. 91-104.
...“Believe me that the dignity they will tell you so much about is nothing but that joy that comes from being alive and knowing that anytime someone is less alive or suffers or dies for that one of you resist a little more to the death that is of all and will come.” ... tudo se perde onde se perde a paz, e primeiro que tudo se perde a liberdade... ...everything is lost when we lose peace, and first of all freedom is lost.." Jorge de Sena
Páginas
- “ A new alliance, environnemental tourisme and cultural landscape”.
- Campos de Deméter: Da impossibilidade de separar a ciência, a ética e a estética na hermenêutica da paisagem
- Turismo de paisagem
- Aquilino Ribeiro e a Filosofia da Natureza e do Ambiente
- Os Museus e o Novo Paradigma do Turismo
- Innovation in the Tourism Enterprise: Scientific Corpus of Tourism Studies. Tourism Routes and Circuits and the New Tourism Economy
- "Visiting the Past, Meeting the Limes".
- Página inicial
Soong Ching-ling. A mulher que chegou a Presidente da República Popular da China
Revista Faces de Eva nº 38 (Dezembro de 2017)
A
vida e a obra de Soong Ching-ling identificam-se com a fundação e a construção
da moderna China, desde os tempos sombrios do estertor da dinastia imperial até
ao seu renascimento para a República e para a Nova Democracia e o Socialismo
com caraterísticas chinesas.
1 - A revolução democrática de 1911
A Inglaterra do séc. XIX e da segunda Revolução
Industrial, na demanda de mais matérias-primas a baixos preços e de mercados
consumidores para os seus produtos industrializados, ocupou a Índia mas, na
China, apenas conseguiu forçar a abertura do porto de Cantão. A economia deste
país era, não só autossuficiente, como exportava para o ocidente chá, seda e
porcelana, o que lhe assegurava um elevado superavit nas trocas comerciais, de
tal modo que o seu PIB superava em 8 vezes o da potência inglesa. Esta, com os
EUA e depois com todas as outras potências da época, recorreu, primeiro, à
exportação ilegal do ópio para o mercado chinês, o que se tornou numa
calamidade nacional e, depois, através de duas guerras conduzidas pela sua
marinha naval, forçou a abertura ao comércio da droga dos portos de Fuzhou, Xiamen, Ningbo e Xangai.
Além disso, ocupou Hong Kong e, mais tarde, outros cinquenta portos,
apoderando-se dos segredos de produção do chá, que disseminou pelas suas colónias, para fazer concorrência à China..
A economia chinesa caiu em ruína e todas as classes sociais sofreram duramente, dando início aos
movimentos políticos que derrubaram o sistema imperial e fundaram a República
Democrática, em 1911.[1]
Seguiu-se um período de guerra civil contra os
caudilhos militares e os grandes proprietários acantonados no Norte e Nordeste
da China e noutras regiões remotas, como o Tibete, que sobreviveram à queda do
seu imperador.:
A Revolução Democrática de 1911 foi liderada por Sun-yat Sen, fundador
do partido Kuomintang. Este partido federou comunistas e outras forças
democráticas, até à morte do líder, em
1927.
Soong Ching-ling, com apenas 20 anos, após sete anos nos EUA onde
obteve a graduação de Bachelor of Arts degree e conhecido o Japão, tornou-se,
em 1913, a secretária pessoal de Sun Yat-sen, com quem viria a casar dois anos
depois.
A
família Soong, constituída por um casal metodista formado nos EUA, que enriqueceu
na atividade bancária e empresarial, marcaria no seu percurso político a
história da China do século XX: o irmão serviu o governo de Sun Yat-sen como
responsável pelas finanças e depois o Kuomitang; já na fase militarista e autoritária deste partido, a
terceira irmã casou com o próprio Chiang Kai-shek (ou Jiang Jieshi), o líder
que abandonou os três princípios da revolução liderada por Sun Yat-sen: nationalism, democracy, and the livelihood
of the people.[2] A partir daí, como companheira
inseparável do líder fundador da I República da China, acompanhou-o em todas as
suas iniciativas políticas, participou nas reuniões e viagens políticas, resistiu com ele às conspirações e sedições
militares.
Os quatro irmãos só voltariam a caminhar
juntos durante a guerra de resistência à invasão japonesa e apenas Soong Ching-ling
prosseguiria o ideal de uma China Nova e de uma nova democracia.
Soong Ching-ling na defesa da Constituição de 1912 e a
militarização do Kuomitang
No
interior do Kuomitang tinham crescido profundas divergências sobre a
possibilidade de realizar o programa democrático da Constituição de 1912.
Em
1925, quando Sun Yat-sen adoeceu e morreu, Soong
Ching-ling assumiu o trabalho de edição da sua obra e de defesa dos três
princípios da revolução democrática, tal como da continuidade da política do
Kuomitang, que incluía a aliança com o
Partido Comunista e a União Soviética e o apoio aos camponeses e trabalhadores.
No segundo Congresso Nacional do Kuomitang, um ano depois, foi eleita membro da
sua direção executiva e posteriormente integrou o comité unificado que, à época,
liderava a luta pela República contra “os senhores da guerra” e os grandes
proprietários feudais, ainda dominantes numa grande parte da China.
O
ano de 1927 assinalou uma nova viragem na História da I República chinesa. Soong
Ching-ling foi eleita para o presidium nacional do Kuomitang e integrou o governo, sedeado em Wuhan. Por sua
iniciativa, foi criado o primeiro Instituto para a Formação Política das Mulheres,
em Hankon, na província de Hubei, assim como a Sociedade da Cruz Vermelha, para
cuidar dos soldados. Viajou para a União Soviética, cumprindo uma das missões
que o marido deixou no testamento político e para a Bélgica para participar no
Congresso da Liga Mundial Anti-imperialista, onde foi eleita presidente
honorária.
A morte
de Sun Yat-sen
facilitou a ascensão no Kuomitang das forças militaristas e antidemocráticas,
sob a liderança de Chiang Kai-shek,
que quebrou a aliança com o partido comunista e as forças democráticas,
teorizando, mais tarde, a impossibilidade de implantar a democracia na China.
Soong
Ching-ling pronunciou-se publicamente contra o abandono pelo Kuomitang da linha
política traçada por Sun Yat-sen e prosseguiu, no estrangeiro (Alemanha,
França), a luta pela democracia na China
e contra a eminência de uma nova guerra mundial de carácter imperialista. Foi
reeleita, na Alemanha, como presidente da Liga Mundial Anti-imperialista.
Quando o Japão, uma das potências estrangeiras
instaladas nas concessões coloniais, ocupou a região da Manchúria, em
1931, a China encontrava-se
em plena guerra civil, confrontando os comunistas e outros grupos e
personalidades democráticas, não apenas com os
senhores feudais e caudilhos militares, que resistiam ao exército da República, mas, também, com o novo Kuomitang, anticomunista e
antiliberal. Este integrara muitos dos antigos senhores feudais e fazia do Exército Popular de
Libertação, do seu programa de Reforma Agrária e da Nova Democracia para a
China, o principal inimigo.
2 - A origem do
socialismo com características chinesas e a grande estratégia para a paz
Soong Ching-ling na Guerra de Resistência do Povo
Chinês contra a Agressão Japonesa e na II Guerra Mundial [3]
Em 18 de Setembro de 1931, o exército japonês,
acantonado no Nordeste da China[4],
iniciou uma campanha militar que lhe permitiu ocupar as províncias de Liaoning,
Jiling e Heilongjiang, ricas em madeira, minerais e petróleo e ameaçar Shangai,
criando a república fantoche do Manchukuo.
De regresso à China,
Soong Ching-ling com With
Yang Quan, He Xiangning e outros, criou o Kuomintang Hospital. A sua atividade
política intensificou-se nos anos imediatos: fundou, em Shangai, a “China
League for Civil Rights”; tomou a palavra na conferência fundadora da “National
Selfsalvation Association in Resisting Foreign Aggression”: protestou no
consulado alemão de Shangai contra as perseguições dos judeus pelos nazis;
continuou a escrever contra a repressão e o assassinato dos democratas pelo
governo autoritário e militarista do Kuomitang e contra o imperialismo. Aquando da
realização da “Far East conference of the world committee against Imperialist
War”, em Shanghai, pronunciou um discurso que se tornaria famoso: "China's
Freedom and the Fight Against War."
Com He Xiangning e outras 1777 individualidades
democráticas, subscreveu o "The Basic Program of the Chinese People in the
War of Resistance Against Japan."
Tornou-se fundadora e presidente do “National Armed Self-Defense Committee
of China.”
A ofensiva japonesa de 1937 e a constituição
da frente-única contra a agressão japonesa
Em 1935, explorando a política de não resistência
do Kuomitang, inspirada e apoiada pelas potências coloniais, Inglaterra e EUA,
que continuavam a controlar a maior parte das exportações chinesas,
os militaristas japoneses passaram ao assalto de todo o norte da China,
contando com a colaboração dos sectores mais retrógrados da sociedade chinesa. O povo chinês passou à resistência e criou a Frente Única Nacional
Anti Japonesa. As potências ocidentais, na Europa como na China, prosseguiram
uma política de cedências e apenas a URSS, que assinara com o governo nacional
da China um pacto de não-agressão, enviou em sua ajuda assessores militares e
esquadrilhas aéreas voluntárias, recursos financeiros e materiais.
Em 7 de Julho de 1937, dois anos antes da ocupação
da Polónia, as forças armadas japonesas avançaram sobre Pequim e Tianjin para
conquistar toda a China. Uma vez mais, foi necessário acertar o calendário da História
da II Guerra Mundial. O Japão imperial definiu como objetivo da sua estratégia
nacional “estabelecer uma nova ordem na Ásia Oriental” e desdobrou-a para a
China sob a consigna de “combater os comunistas”, visando assim obter a
neutralidade benevolente das potências democráticas ocidentais.
A estratégia militar japonesa tinha como objetivo
converter a China na base de retaguarda para a Guerra no Pacífico. Esta
estratégia, que visava aterrorizar o inimigo e impedir qualquer resistência,
atingiu o horror no massacre de Nanquim, a capital do Kuomitang, a 13 de
Dezembro de 1937. Durante seis semanas, após bombardeamentos massivos e
indiscriminados, mais de 300.000 soldados e civis chineses foram massacrados,
fuzilados e enterrados vivos, o dobro das baixas que resultaram do lançamento
das bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui. Nas áreas que controlavam,
procuraram organizar uma administração fantoche, recrutando sectores do
Kuomintang e formando milícias, anexaram as empresas, controlaram todos os
recursos estratégicos e prosseguiram o terror com a política de
“responsabilidade solidária de dez lugares”, a pena de morte para dez famílias
por cada uma que se envolvia na luta de resistência, recorrendo mesmo à
utilização de gases tóxicos e à guerra biológica, acontecimento único em todos
os teatros do conflito mundial, que ainda hoje mortifica os descendentes das
vítimas
O Governo do Kuomitang nunca implantou, nas regiões
sob a sua autoridade, um regime democrático e, sistematicamente, prosseguiu as
suas campanhas militares para cercar e aniquilar as bases do Exército Popular
de Libertação. Os seus líderes, ligados aos sectores exportadores e financeiro,
acumularam gigantescas fortunas de guerra, enquanto a inflação dos bens
essenciais e dos impostos esmagava o povo. Em nenhuma região implementaram as
medidas de reforma agrária.
A sua estratégia de guerra convencional conduziu à
perda das principais cidades e províncias da China, que caíram sucessivamente
sob o domínio japonês
Soong
Ching-ling e a Unidade da China contra o imperialismo japonês
Soong Ching-ling
prosseguiu, nas regiões controladas pelo Kuomintang, a luta pela unidade do
povo chinês contra a brutal ocupação dos militaristas japoneses e pela nova
democracia. Ajudou a financiar a resistência liderada pelos comunistas e procurou,
junto dos aliados, o apoio internacional à causa chinesa.
Neste contexto, apoiou a
perigosa jornada do jornalista americano Edgar Snow, que em 1936, e durante
cinco meses, conseguiu atravessar as linhas da frente e acompanhou o Exército
Vermelho na sua “Longa Marcha”. Esta consistiu numa manobra militar de retirada
estratégica que permitiu ao Exército Popular de Libertação escapar à mais
perigosa “campanha de cerco e aniquilamento” montada pelo Kuomitang. Snow deu a
conhecer a vida e o sofrimento do povo chinês e o papel histórico dos líderes
comunistas, até então retratados como “bandidos vermelhos”.
A obra de Snow, Red Star Over China (1937), desprezada pelas
elites políticas ocidentais, mas com um vasto impacto na opinião pública da
Inglaterra e na Europa, revelar-se-ia verdadeiramente premonitória no quadro da
história contemporânea da China e do mundo.[5]
Soong Ching-ling acolheu o médico americano de
origem libanesa, George Hatem (Dr. Ma Haide) que se integraria nos serviços
médicos do Exército Popular de Libertação e seria um dos construtores do
Serviço Nacional de Saúde na Nova China, já na condição de cidadão chinês,
tornando-se, depois da proclamação da República Popular (1949), um dos membros
democratas independentes do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular, o
órgão superior do estado da República Popular da China.
Soong Ching-ling, com Shen Junru e outros democratas fundou a “all-China
Federation of National Salvation Associations in Shanghai”, e foi eleita para o
seu Comité Executivo. Apoiou os “sete patriotas”, presos à ordem do governo de Chiang Kai-shek. Quando
ocorreu “o incidente de Xi’an” (1936), em que Chiang Kai-shek se viu
sequestrado pelos líderes dos seus próprios exércitos, que exigiam a suspensão
das campanhas contra o Exército Vermelho
e a unidade na luta contra o exército japonês de ocupação, apoiou a posição dos
comunistas que agiam para salvar a vida
do generalíssimo e para unir toda a China na guerra de resistência à agressão
japonesa.[6]
Com
He Xiangning, Feng Yuxiang e outros patriotas do Kuomitang, levou ao seu Comité
Central a proposta de retomar a linha política de Sun Yat-sun - “Three Major
Policies of Alliance with Soviet Russia, Cooperation with the Chinese Communist
Party and Assistance to the peasants and workers be restored”, que constítuiu o
conteúdo essencial do seu discurso "To Carry Out Sun Yat-sun's will."
Deslocou-se então para
Hong Kong para fundar a “China Defense League”. Escreveu artigos, como “A general Mobilization of Overseas Chinese" e
usou a rádio local para enfrentar o avanço japonês que ameaçava Guangzhou (Cantão).
Quando a liderança do Kuomitang vacilou na resistência ou agiu contrariamente
à unidade da frente única contra o Japão, Soong Ching-ling ocupou o primeiro
lugar na sua denúncia.
3 - China, o aliado esquecido
Na ofensiva no Pacífico, contra os EUA e as
colónias inglesas, o Japão lançou 400.000 soldados, deixando em reserva, para
defesa do seu território, outros tantos. Para conquistar a China e enfrentar a
resistência do povo teve de concentrar neste país a maior parte dos seus
soldados, um exército de 1.300.000 militares. Os invasores japoneses e as
tropas que recrutaram localmente sofreram na China mais de 1.714.000 baixas,
das quais 524.000 soldados japoneses. Aquando da rendição, em 2 de Setembro de
1945, 1.280.000 efetivos do exército japonês depuseram as armas.
A contribuição estratégica da China para a
derrota do fascismo mundial foi decisiva e custou ao seu povo 35 milhões de
baixas, que podemos comparar com as baixas americanas de 340.000 mortes,
japonesas, 2.630.000, alemãs, 6 milhões e soviéticas, 25 milhões (sem contar
ainda as baixas colaterais) ou o holocausto de 6 milhões de judeus… Isto se
usarmos os critérios atuais que incluem as baixas colaterais, sobretudo como
resultado da penúria, da fome e das doenças epidémicas, da guerra química e
biológica a que o Japão recorreu em larga escala
Soong Ching-ling, diplomata da paz, da solidariedade e do Nova Democracia
Quando os japoneses ocuparam Hong Kong (1941), Soong
Ching-ling regressou à frente de combate
político e humanitário no interior da China. Com Rewi Alley, um neozelandês que se tornou defensor e militante da causa
chinesa, apoiou o desenvolvimento do “Industrial Cooperatives Movement in
China” e assumiu ativamente a presidência da “All-China
Children's welfare Association.”, mobilizando a solidariedade internacional
para cuidar dos órfãos e de outras vítimas da guerra. Dirigiu-se em particular
ao povo Americano, pela rádio e pela imprensa, e o seu apelo “A Message to American
Workers" tornou-se panfletário entre os aliados.
Regressou a Shangai para refundar a “China Defence League” como “China
Welfare Fund” (1938), criando assim o embrião do sistema de segurança social
com características chinesas, que
associou à ação política e social das forças democráticas do partido
comunista e do Exército Popular de Libertação, nas regiões já libertas do domínio
japonês; ali se organizaram os primeiros serviços de apoio à maternidade, de
saúde materno infantil, educação e cultura e outros apoios sociais.
Quando a guerra se aproximava do fim reuniu com Mao Zedong e em 1946 a guerra civil ameaçou destruir os
frutos da vitória da frente única anti- japonesa, juntou-se ao apelo do partido
comunista para a formação de um governo de coligação com o Kuomitang, instando
os EUA a não apoiarem a solução militar do conflito, através da continuação do
apoio militar exclusivo a este partido.
Quando a guerra civil se tornou inevitável e a cisão do Kuomitang também,
posicionou-se ao lado do seu setor democrático, tornando-se presidente
honorária do Comité Revolucionário do Kuomitang, um novo partido que procurava
resgatar a herança de Sun Yat-sen.
Retomou então a sua atividade política internacional, em torno da
salvaguarda da paz mundial e como publicista dirigiu-se sobretudo aos jovens:
"Message to the World Federation of
Democratic Youth".
Avaliou e celebrou a aliança histórica dos partidos democráticos chineses
com o partido comunista, publicando o texto "A Monumental Period!".
Discursou nos gigantescos comícios que prepararam a proclamação da República
Popular da China, a Nova Democracia.
Soong
Ching-ling, fundadora e vice-presidente da República Popular da China
A aliança política forjada na resistência contra o Japão e depois na luta
pela Nova Democracia, levou à convocação da Conferência Consultiva Política do
Povo Chinês, em Pequim, entre 21 e 30 de Setembro de 1949, que assumiria as
funções da Assembleia Popular Nacional, antes da sua eleição por sufrágio
universal.
Na China da primeira república de Sun Yat-sen, durante a guerra de
resistência contra o Japão e na guerra civil de 1946 a 1949, os partidos
democráticos e uma fração do Kuomintang aliaram-se ao Partido Comunista e, após
a sorte das armas lhes ser favorável, acordaram no programa e na constituição
de uma nova forma de regime a que chamaram República Popular da China.
A Conferência Consultiva Política dos Povos da China reuniu representantes
do partido comunista e dos oito partidos democráticos que constituíram a frente
única contra o Japão e depois a aliança pela Nova Democracia, incluindo
delegados de todas as forças sociais e económicas da China, e das suas 56
nacionalidades. Soong Ching-ling participou a título de presidente honorário do
Comité Revolucionário do Partido Komingtang da China. A Conferência aprovou a
Constituição da República Popular da China e elegeu como seu presidente o líder
comunista.
A República Popular da China foi proclamada a 1 de outubro, por Mao Zedong;
ao seu lado, na praça Tiananmen (da Paz Celestial), estava Soong Ching-ling.
Ao longo da sua vida voltaria a encontrar-se regularmente com o líder da revolução
chinesa, surgindo a seu lado em importantes eventos internacionais, como a
visita de Mao a Moscovo e, como convidada, dirigiu-se diretamente aos
comunistas, tomando a palavra nos seus congressos.
A ação política e
cívica de Soong Ching-ling prosseguiu coerentemente em
torno de três grandes causas:
- A emancipação da
mulher.
Assumiu a
presidência honorária da “All-China Women's Federation”. E participou nos eventos internacionais
sobre o tema, como a” Asian Women's Conference”.
- A construção do sistema de segurança social para toda a China.
Depois de fundar o “China Welfare Institute” (1938), assumiu a presidência
executiva da “People's Relief Administration of China” e reorganizou a” China
Welfare Fund” como a “China Welfare Institute”. Foi eleita presidente da “Chinese
People's Committee in Defense of Children”.
Doou o prémio “Stalin Peace Prize”, atribuído em 1950 e no valor de
100.000 rublos, à “China Welfare Peace Maternity” e ao “ Child Health
Hospital”.
- A defesa da paz mundial e da cooperação pacífica entre as nações
Foi eleita para o executivo da “World Peace Council”. Esteve entre as
personalidades que convocaram a “Peace Conference for the Asian and Pacific
Regions” e foi eleita vice-presidente da “Peace Liaison Committee of the Asian and Pacific Regions”. Liderou a
delegação chinesa ao “Peace Congress in Vienna”.
Fundou a "China Reconstructs" magazine (em inglês).
Visitou os países vizinhos, como a URSS, e foi recebida por Estaline.
Assumiu o cargo de vice-presidente da respetiva associação de amizade (antes da
cisão do movimento comunista internacional nos anos 60, com a China a acusar a
URSS de social-imperialismo). Visitou também a Índia e Burma, o Paquistão e
Ceilão.
A Universidade de Dacca (Paquistão) e de Vitória (Canadá) homenagearam-na
com o título de Doutora. Recebeu, na sua residência, a visita de importantes
personalidades política estrangeiras, como a Srª Bandaranaike, Primeira Ministra do Ceilão, o príncipe Sihanouk,
assim como um grupo de destacadas mulheres americanas ativistas dos seus
movimentos cívicos.
4. “The Struggle for New China"
Em 1952 foram publicadas as suas obras escolhidas,
sobre o título em epígrafe (republicadas em 1966). Em 1954, surgiram os textos “Sun Yat-sen—the
Revolutionary son of the Chinese People" and "reminiscences of Sun Yat-sen". Publicou, em 1962, "Sun Yat-sen and His Cooperation with the Chinese Communist
Party".
No discurso do elogio fúnebre, Deng Xiaoping,
referiu o seu pensamento político, no período crítico da viragem militarista e
autoritária do Kuomitang:
"Only
a revolution that has the support of the masses as and serves the masses can
smash the power of warlords and politicians and shake off the shackle of
imperialism and attain real socialism." (Deng, 1981)
No que respeita à libertação da mulher, no período
conturbado da Revolução Cultural (1966-1976), criticava abertamente a
resistência da ideologia feudal e patriarcal ao acesso pleno da mulher à
liberdade pessoal e aos direitos sociais na Nova China:
History has proved that Women's Liberation in
China—women obtain equal status with men—began with the democratic revolution,
but will be completed only in the socialist revolution. (…). If we ask,
however, whether Women’s Liberation Movement in China has come to its end, the
answer is definitely no.
It is true that the landlord system has been
abolished for nearly twenty years, but much of the feudal-patriarchal ideology
still prevails among the peasants or rather farmers.
This ideology still does yield mischievous things
in the rural places and some of the small towns.
Only when the feudal-patriarchal ideology is
eradicated can we expect the sexual equality fully established. (Soong, 1952)
Apoiou a reforma e abertura de Deng, com o qual
passaria a trabalhar, em nome da modernização da China para o bem-estar do seu
povo e das suas 56 nacionalidades, e da cooperação mundial para a paz.
Soon Chin-ling, vice-Presidente da Assembleia Nacional Popular
Em 1954, o sistema político da nova democracia consolidou-se e foi
convocada a primeira Assembleia Nacional Popular. Soon Ching-ling foi eleita
vice-presidente do seu Comité Permanente, cargo para o qual seria
sucessivamente reeleita.
A Assembleia Popular Nacional (APN) foi enquadrada pela
Constituição da RPCh como órgão do poder nacional supremo. Todos os cidadãos
superiores a 18 anos passaram a ter o direito de eleger e de serem eleitos como
representante da APN.
Os representantes da assembleia popular ao nível de
aldeia e de distrito são eleitos diretamente. Os representantes para os níveis
mais altos são eleitos indiretamente, a partir daquelas assembleias. O seu mandato
á de cinco anos e nenhum dirigente de topo pode ocupar o cargo mais do que dois
mandatos.
As funções básicas da APN incluem a produção
legislativa, a eleição dos órgãos superiores do estado, nomeadamente as forças
armadas e o sistema judicial, a supervisão política do governo, com destaque
para o plano quinquenal.
A Assembleia Popular Nacional (APN) da China eleita
em 2012 era composta por 3.000 deputados, que elegeram, por voto secreto, o
presidente Zhang Dejiang e 13 vice_presidentes: O presidente e 8 vices faziam parte
do PCCh. Os outros 5 representavam os partidos democráticos e as minorias
étnicas.
Soon Chin-ling, vice-presidente da Conferência Consultiva Política do
Povo Chinês
Na estrutura superior
do poder conservou-se a Comissão Nacional da Conferência Consultiva Política do
Povo Chinês e os seus órgãos locais, com funções de consulta política e
supervisão democrática, compostos por representantes do Partido Comunista da
China, partidos democráticos, personalidades não partidárias, entidades
populares, todas as minorias nacionais e todos os sectores sociais, incluindo
as Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau, Taiwan e chineses
regressados do exterior, com mandato de cinco anos.
Em setembro de 1949, a primeira sessão plenária da
Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, funcionando como Assembleia
Constituinte, anunciou, em nome de todo o povo chinês, a fundação da República
Popular da China.
Após a eleição da primeira Assembleia Popular
Nacional da China, em 1954, a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPCh)
evoluiu como órgão supremo de supervisão da democracia popular, avaliando a
conformidade das leis e regulamentos nacionais com a aplicação dos princípios
da Constituição e intervindo para as melhorar e aperfeiçoar (espécie de híbrido
administrativo entre Conselho de Estado, Senado, e Tribunal Constitucional, que
elege desde a base e sectorialmente - 34 setores - os seus delegados e líderes,
representando todas as forças vivas da nação chinesa, mas sem um caráter de
última instância, funcionando como um fórum negocial).
Nessa altura, Soong Ching-ling
foi também eleita vice-presidente do Conselho Nacional da Conferência
Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPCh), cargo para o qual foi sucessivamente
reeleita e que acumulou, até ao fim da vida, com o de vice-presidente da
Assembleia Nacional Popular.
Os Conselhos locais da CCPPC foram criados em três
níveis. No final de 2008, havia 3.118 Comités locais da CCPPC em todos os
níveis, com um total de 632.000 membros.
O Conselho Nacional da 11ª CCPPC era composto por
um total de 2.237 membros, dos quais 895, ou seja 39,99 %, eram membros do partido
comunista (PCCh) e 1.342 ou 60.01%, não eram membros do PCCh. Existiam 393
membros mulheres, representando 17,6%. Havia deputados que representavam os 56
grupos étnicos da China.
A China é um estado de
direito, com um sistema hierarquizado de tribunais populares e uma Procuradoria
independente.
Soon Ching-ling, derradeira homenagem e morte
Em 15 de maio de 1981, o Partido Comunista da China tomou uma decisão sem
precedentes: convidou Soong Ching-ling para seu membro e promoveu-a ao mais
elevado órgão do partido, o Bureau político.
A 16 de maio, o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular conferiu-lhe
o título de Presidente Honorário da República Popular da China.
Morreu a 29 de maio, em Pequim, e as suas cinzas repousam no jazigo da
família Soong, no cemitério internacional de Shanghai Wanguo, hoje o mausoléu
de Soong Ching Ling.
Tomamos como nossas as palavras de despedida de Deng Xiaoping:
“Eternal glory to Comrade
Soong Ching-ling!” A
mulher que dedicou a sua vida à causa da emancipação do seu povo e à defesa de
um mundo pacífico, “de pão e rosas”!
Referências Bibliográficas
Associated Press (1981). Soong
Ghing- Ling Dies in Pekin. New York Times,
Orbituary. Published: May 30
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Outras fontes na Internet:
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