Diálogos Interculturais Portugal-China 2 (e.book)



O pensamento político de Xi Jinping para uma nova era do socialismo com caraterísticas chinesas e para a paz e o desenvolvimento comum da Humanidade

 习近平新时代中国特色社会主义思想迈向人类的共同和平与发展 . . . . . . . .VOL. 1  PÁG. 267 

António dos Santos Queirós

Ficheiros de acesso livre

 
Diálogos Interculturais Portugal-China 2 - Vol.01.pdf

Vol. 1: Rotas e raízes de um diálogo distante. 480 p.
Vol. 2: Literaturas, artes e línguas em diálogo. 508 p.

Diálogos Interculturais Portugal-China 2 -   Vol.02.pdf


O pensamento político de Xi Jinping para uma Nova Era do Socialismo

com caraterísticas chinesas

E para a paz e o desenvolvimento comum da Humanidade

习近平新时代中国特色社会主义思想

迈向人类的共同和平与发展

António dos Santos Queirós, professor e investigador

Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa

Secretário-Geral da Câmara de Cooperação  e Desenvolvimento Portugal-China_ CCDPCh

 

葡萄牙-中国合作发展协会总秘书长

 

Resumo

A China, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e O Socialismo Para Uma Nova Era:

A China cofundadora da Declaração Universal dos Direitos do Homem _DUDH. Análise crítica dos seus princípios ético-políticos e do seu do Artigo 21°. O Artº 17º da DUDH e a Reforma Agrária na República Popular da China_ RPChina. A evolução da sociedade chinesa de 1949 a 2018, à luz da Declaração Universal dos Direitos do Homem e o objetivo de erradicar a pobreza.

 

Fundamentos teóricos do pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Caraterísticas Chinesas para uma Nova Era:

O contributo teórico de Hu Jintao, “A perspetiva científica como base do desenvolvimento _2002”. e a questão da contradição principal na sociedade chinesa. Os 5 princípios da coexistência pacífica, de Zhou Enlai e a estratégia da Nova Rota da Seda para a Paz proposta por Xi Jinping. O pensamento de Deng Xiaoping sobre a Reforma e Abertura e as tarefas históricas de construção do socialismo ao longo de mais de 100 anos. A estratégia dos “dois centenários” de Xi Jinping. A evolução do Partido Comunista da China segundo a Teoria das 3 representações de Yan Zemin (2000), e a teoria de Xi Xinping sobre os “quatro integrais” e a luta contra a corrupção.

A dimensão da militância nos partidos como fator comparativo da qualidade das democracias., o caso do Partido Comunista Chinês e dos oito partidos da frente popular.

 

No caminho da Nova Era:

O desenvolvimento do conceito de “economia socialista de mercado” e os princípios de orientação das relações governo e mercado, teorizadas por Xi.

A crise ambiental e a responsabilidade da China. A teoria do socialismo ecológico e da ecocivilização proposta aos 18º e 19º congressos do PCCh.

A estratégia da Rota da Seda em África, mitos e fatos.

 

6 razões porque iniciar uma guerra comercial com a China é uma má ideia!

 “Sem a China a economia mundial cairia em recessão” (Relatório do FMI e do BM, 2016)

 

I.                   A China cofundadora da Declaração Universal dos Direitos do Homem

 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU em 10 de dezembro de 1948 (A/RES/217), esboçada inicialmente por J. P. Humphrey, do Canadá, teve no Dr. P.C. Chang, representante da República Popular da China_RPCh e das posições dos países asiáticos, o principal mediador dos consensos estabelecidos nos seus 30 artigos.

Devo sublinhar que em nenhum dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos se consagra o modelo de democracia liberal como o modelo ideal da democracia política. E tão pouco a questão da democracia pode ser reduzida à questão das “liberdades políticas” formais. O que o seu Artigo 21º prescreve é o caminho para a cidadania e para a diversidade dos regimes democráticos.

 

Artigo 21°

1.           Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios públicos do seu país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.

2.           Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.

3.       A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

 

Essa visão política, da diversidade dos regimes democráticos, nascidos em diferentes condições histórias, tem continuidade no pensamento político de todos os líderes chineses e agira em Xi Jinping:

 

A China oferece uma alternativa ao modelo ocidental de modernização e aumenta a confiança e a determinação de muitos países em desenvolvimento, que procuram encontrar o seu próprio caminho para a modernidade.[1]

 

No ato de fundação da República Popular da China (em 1949) já foi esse o caminho proclamado, o de uma Nova Democracia, que  depois ficou consagrada no artigo 6º da Constituição, onde se define o conceito original de “Socialismo com caraterísticas chinesas”, baseado no  Sistema de Cooperação Multipartidária e Consulta Política e na substituição do sistema económico de exploração do homem pelo homem pelo desenvolvimento conjunto da economia de propriedades diversificadas,  com o predomínio da propriedade pública.

Na Constituição chinesa o socialismo é definido como um período longo e faseado onde

 

A base do sistema económico socialista da República Popular da China é a propriedade pública socialista dos meios de produção, designadamente a propriedade de todo o povo e a propriedade coletiva do povo trabalhador.

O sistema de propriedade pública substitui o sistema de exploração do homem pelo homem e aplica o princípio «de cada um conforme as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho»

No período inicial do socialismo, o Estado persiste no sistema económico fundamental, tendo como principal a propriedade pública, mas com o desenvolvimento conjunto da economia de propriedades diversificadas, e, no sistema de distribuição, tendo por principal «a cada um segundo o seu trabalho» com a coexistência de meios diversificados de distribuição. (Artigo 6º)

 

Um regime político original, nascido da história moderna do China, baseado no Sistema de Cooperação Multipartidária e Consulta Política, nas Assembleias Populares como fundamento do estado, no respeito pela identidade das 56 etnias que constituem o povo chinês e na aspiração a um mundo pacífico e próspero.

 Una democracia nova e um socialismo com caraterísticas chinesas, simbolicamente representados na sua bandeira: vermelha com uma estrela amarela que representa o Partido Comunista, em constelação com quatro estrelas, que simbolizam a união das quatro classes da nação chinesa: os camponeses, os operários, a pequena burguesia e a burguesia urbana.

A República da China, fundada em 1911 pela revolução democrática dirigida por Sun Yat Sen e o seu Kuomintang, permaneceu até 1949 como uma semicolónia dos imperialismos estrangeiros, incluindo as democracias ocidentais e a ocupação japonesa de grande parte do seu território, através de uma brutal guerra de conquista. Nesse período, agravou-se o extremo atraso econômico da China, provocado pelo domínio dos feudais e dos imperialistas e a destruição resultante da guerra, mas, nasceu igualmente uma vasta frente única nacional, que uniu todos os partidos e forças democráticas.

A revolução chinesa não expropriou a burguesia nacional nem a pequena burguesia, nas cidades e nos campos apoiou o desenvolvimento de sua economia e a cooperação econômica e política com o novo estado, construiu uma democracia representativa de toda a nação chinesa, como sonhara o fundador da primeira república, Sun Yat Sen.

A República Popular da China confiscou a propriedade dos monopolistas_ o capital burocrático das "quatro famílias", acabou com os privilégios do capital estrangeiro que se apoderara de três quartos da indústria e dos transportes da China, reverteu as requisições, ocupações e expropriações que a ocupação japonesa impusera aos empresários e proprietários rurais e aboliu a exploração feudal no campo.

O Partido Comunista, na altura da sua fundação em 1921, contava com apenas 50 membros; nos anos seguintes, sem perder a sua autonomia, integrou o Kuomintang democrático de Sun Yat Sen y Soong Ching Ling, até à sua transformação num partido militarista e antiliberal, em 1927, com o massacre de Xangai e as campanhas de cerco e aniquilamento lideradas por Chiang Kai-shek (Jiang Jieshi) contra os comunistas e outras forças democráticas. Nesse ano, já contava com 60.000 militantes.

A política do PCCh, de defesa da frente única contra a agressão japonesa, de reforma agrária e guerra popular, o seu projeto de nova democracia, tal como a ajuda da então URSS, o único país que se opôs à ocupação japonesa fornecendo ao governo nacional ajuda financeira e militar, atraíram às suas fileiras militantes e simpatizantes de todas as classes sociais: em 1933_400 mil; em 1945_1 milhão e 500 mil; em 1947_ cerca de 3 milhões; em fins de 1950_ 5 milhões e 500 mil.

Regressemos à Declaração Universal dos Direitos do Homem: Todos os outros 29 artigos, que consagram os direitos democráticos fundamentais, com são o direito ao trabalho e à proteção social, à igualdade perante a lei ou de género, possuem a mesma dimensão política e estão subordinados a dois imperativos éticos que a Declaração proclama, o imperativo da dignidade e o imperativo da paz:

 

…o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;

 

Essa dignidade será protegida através de…”um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão.” E só será defendida com…”o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações”.

O Programa Comum, fundador da RPChina em 1949 e depois a Constituição da República Popular da China, integraram todos os artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, dos quais merece destaque o Artº 17ª:

Artigo 17.º

1. Toda a pessoa, individual ou coletivamente, tem direito à propriedade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

 

O desenvolvimento por etapas da Reforma Agrária na China, permite-nos compreender melhor as raízes do socialismo com caraterísticas chinesas: a Reforma Agrária, iria  permitir  a 350 milhões de camponeses o usufruto da terra que durante milénios cultivaram como servos e constituir a base económica inicial da Nova Democracia, permitindo reconstruir a China devastada pela II Guerra Mundial e libertar a nação chinesa da ocupação japonesa e de outros impérios, do domínio feudal e dos senhores da guerra.

Em setembro de 1947, o Partido Comunista da China propôs aos seus aliados uma conferência agrária nacional. Nela foi aprovada a Lei Agrária de 10 de outubro de 1947, que orientava os governos das regiões libertadas na condução da reforma agrária nos territórios onde viviam 160 milhões de pessoas_ um terço da população da China. O campesinato trabalhador das regiões libertadas recebeu 37 milhões e 500 mil hectares de terra.

Mas os grandes agricultores e os camponeses ricos não foram expropriados; mesmo os que viviam da exploração das rendas, viram apenas estas serem reguladas, tendo direito de participar na direção dos Conselhos Locais que eram eleitos pelas Assembleias Populares, constituídos segundo a regra de três terços criada durante a guerra de resistência ao japão: um terço de comunistas, um terço de representantes dos partidos democráticos, incluindo na altura o Kuomintang e um terço de outros representantes populares e democráticos.

Logo a seguir à vitória sobre o Japão e crente da sua superioridade militar e apoio dos EUA, Chiang Kai-shek recusou a constituição de um governo de unidade nacional e retomou a guerra civil. Para o derrotar, constitui-se uma nova frente popular, que reuniu os comunistas e oitos partidos democráticos, incluindo um setor do próprio Kuomitang, liderado por Soong Ching Ling (a viúva de Sun Yat Sen, que mais tarde chegaria à presidência da República Popular da China), Em representação dessa frente popular, que em 1949 fundara a RPCh, o Conselho Permanente da Conferência Política Consultiva do Povo Chinês propôs ao Conselho Central do Governo Popular, a Lei da Reforma Agrária de 30 de junho de 1950.

O artigo primeiro da lei afirma:

 

O sistema de propriedade e de exploração feudal da terra pela classe dos latifundiários fica abolido, sendo instituído o sistema de posse da terra pelos camponeses a fim de libertar as forças produtivas rurais, desenvolver a produção agrícola e abrir caminho à industrialização da nova China.

 

A segunda parte da lei indica que

 

…a terra, os animais de tração, os instrumentos agrícolas e o excedente da produção dos latifundiários, bem como os imóveis excedentes que possuírem no campo serão confiscados...

 

E continua o legislador: Se os latifundiários desejam viver do trabalho no campo, são-lhes concedidos lotes de terra em pé de igualdade com os camponeses e os instrumentos de produção correspondentes. Ficam isentas de confisco as empresas industriais e comerciais e também as explorações mecanizadas modelo, de propriedade dos latifundiários. Os latifundiários conservam os seus capitais em dinheiro e podem empregá-los na indústria e comércio.

A terra de propriedade de agricultores ricos e trabalhada por eles mesmos ou com a ajuda de força de trabalho assalariado e também o restante de suas propriedades continuam invioláveis. As pequenas parcelas de terra cedidas em arrendamento por camponeses ricos também serão conservadas em poder dos mesmos.

Entretanto, em algumas regiões parte da terra ou toda a terra arrendada por agricultores ricos pode ser tomada dos mesmos com a aprovação das autoridades populares superiores ou provinciais

Estão sujeitas a confisco as parcelas de terra cedidas em arrendamento por semi-latifundiários que ultrapassam pelas suas proporções as parcelas de terra trabalhadas por eles próprios ou então com a ajuda da força de trabalho assalariado.

Continuam invioláveis a terra e o resto da propriedade dos camponeses médios.

Fundamentando esta política de compromisso político, Liu Chao Tsi, secretário do CC do Partido Comunista da China e vice-presidente do Conselho Central do Governo Popular, afirmou em informe apresentado à Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, em 14 de junho de 1950:

 

A necessidade de manter a economia dos agricultores ricos só deixará de existir quando amadurecerem condições para uma ampla utilização das máquinas na agricultura, para a organização de explorações coletivas e para reformas socialistas nas regiões agrícolas e para isso é necessário um tempo suficientemente prolongado.[2]

 

A terra confiscada dos latifundiários, dos semi-latifundiários e de instituições é distribuída gratuitamente entre os camponeses sem terra e os que possuem pouca terra, isto é, entre os camponeses pobres, os arrendatários e os assalariados agrícolas. Os lotes recebidos sob essa forma tornam-se propriedade privada dos novos donos que recebem documentos especiais de propriedade.

A lei prevê a concessão de terra às famílias dos que pereceram pela causa da revolução, aos militares desmobilizados, aos desempregados que voltam ao campo e em casos isolados também aos empregados, comerciantes e servidores de cultos religiosos. Parte da terra confiscada (florestas, reservatórios d’água, explorações-modelo, etc..) pode ser nacionalizada por determinação especial dos órgãos do poder não inferiores aos de distrito.

As uniões camponesas realizam a reforma agrária sob o controle de comitês e grupos de inspeção, eleitos ou indicados pelos órgãos do poder.

O governo popular estabeleceu prazos para a efetivação da lei de reforma agrária: no ano agrícola de 1950-1951 a reforma é realizada nos territórios onde vivem cerca de 100 milhões de pessoas, em 1951-1952 em territórios onde vivem aproximadamente 170 milhões de pessoas. Assim, em 1952 estará realizada no fundamental a grande transformação do campo chinês.

Nas regiões povoadas pelas minorias nacionais e nas zonas adjacentes às grandes cidades a reforma agrária será posta em prática na base de disposições particulares.

 

O caso do Tibete

Regressemos ao Artigo 4° da Declaração Universal dos Direitos do Homem:

 

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

 

É neste contexto que se inscreve a questão do Tibete:

Em 23 de Maio de 1951, em Pequim, após a derrota do exército tibetano armado pelos EUA, o Exército Popular da China suspendeu as operações e os delegados do governo central e do Dalai Lama assinaram o Acordo dos 17 Artigos, reconhecendo a unidade da China e a autoridade do governo popular sobre todo o território nacional, comprometendo-se esta a manter os governantes e as instituições do Tibete até que fosse negociada a reforma democrática pacífica da região, acordo apoiado pelo décimo quarto e atual Dalai-Lama.

Em 1954, o Dalai-Lama participou na primeira Assembleia Nacional Popular da China, a qual elaborou a Constituição da República Popular, tendo sido eleito como um dos vice-presidentes do Comité Permanente dessa Assembleia. Em 1956, assumiu a presidência do comité organizador da Região Autónoma do Tibete.

Desde essa data que o Tibete viu consignados na Constituição Chinesa o respeito pela sua língua, cultura, costumes e crenças, inclusive o budismo tibetano.

O conflito ressurgiu quando se iniciou a reforma democrática do Tibete, com a separação entre  a religião e o Estado laico, as medidas de abolição da servidão rural e da escravidão doméstica e, sobretudo, a distribuição de terras e rebanhos aos camponeses tibetanos até então sujeitos a um anacrónico feudalismo dominado pelos aristocratas e pela camada superior dos monges. O Dalai Lama abandonou as suas funções e fugiu para ao EUA, onde tem tido o apoio dos governos americanos, em troca do qual retribui com o apoio crítico à sua política internacional.[3]

Caracterizemos brevemente este Tibete, idealizado pelos romances e pela filmografia ocidental:

Segundo o censo de 1959 ( e leia-se a biografia do atual Dalai Lama e as suas emissões e páginas temporais em branco, para confirmar este quadro ), os monges da camada superior e a nobreza  representavam 5% da população; 400 famílias repartiam entre si a quase totalidade das  terras agricultáveis e rebanhos: o governo local detinha 38,9%; os mosteiros, 36,8%; a aristocracia, 24%. Aos pequenos camponeses cabiam os 0,3% restantes. Os servos, 90% da população, eram forçados a pagar aos nobres e mosteiros uma corveia ou renda em trabalho, uma renda em produtos, e às vezes em dinheiro, além de pesados tributos e taxas em serviços e em numerário. Sem recursos suficientes, pediam emprestado aos nobres e aos mosteiros, pagando elevados juros. Se morriam sem saldar a dívida, ela passava aos descendentes ou aos vizinhos. Estes, podiam cair na escravidão. Para os escravos, 5% da população, ficavam os serviços domésticos e públicos mais pesados, como a limpeza, o despejo de fezes, o transporte de carga e o transporte de nobres e funcionários, em liteiras ou nas próprias costas. Servos e escravos podiam ser trocados, doados, emprestados ou mesmo vendidos. Para os pobres, não havia hospitais, nem escolas. Os monges da camada superior e os nobres mais influentes repartiam os cargos políticos. A Seita Amarela, do Dalai-Lama, era privilegiada em relação às outras seitas e o budismo tibetano, em relação às demais religiões.[4]

Terminemos este passo com a transcrição das diretrizes políticas, à época, sobre a Reforma Agrária:

 

A reforma agrária deve ser cuidadosamente preparada em cada região. As seguintes medidas constam do trabalho de preparação: trabalho multiforme de esclarecimento entre todas as camadas da população, diminuição e limitação do preço do arrendamento (até 25 a 35% da colheita) e da percentagem de juros dos empréstimos, anulação das dívidas dos camponeses e dos velhos contratos, desarmamento das quadrilhas de bandidos, criação e fortalecimento das uniões camponesas e da milícia popular e preparação de quadros especialistas para a realização da reforma.[5]

 

Representam bem a amplitude dos trabalhos de preparação da Reforma Agrária, os dados publicados a respeito da parte oriental, central e meridional da China, onde em princípios do verão de 1950 havia 24 milhões de membros das uniões camponesas, cerca de 1 milhão de pessoas na milícia popular e 180 mil pessoas que estudavam a realização da reforma.

Ao contrário da ideia disseminada pela propaganda da Guerra Fria, os registos económicos da época mostram que a agricultura da China desenvolveu então as suas forças produtivas, com um sistema diferente da URSS, mas ainda assim com semelhanças à NEP (Novaya Ekonomiceskaya Politika) proposta por Lenine, após a guerra civil e o cerco económico das grandes potências a este país.

Na República Popular da China da primeira Reforma Agrária, somente para o trigo, a superfície de semeadura aumentou para 2 milhões de hectares, representando um crescimento anual da sua colheita nas diferentes províncias de 10 a 30%, tal como o arroz, algodão e outras culturas, realizando-se imensos trabalhos de irrigação e de melhoramento do solo.

Pela primeira vez, em cem anos, a China não ficou dependente das importações de géneros alimentares e a fome foi contida nas vastas regiões outrora dominadas pelo regime do Kuomintang e pela ocupação japonesa, onde, agravada pela tragédia da guerra, causava anualmente muitos milhões de vítimas. Ao mesmo tempo, surgiram as primeiras instituições agrícolas científicas, os centros de máquinas e tratores e os centros de luta contra as pragas da agricultura.[6]

Difunde-se pelo campo chinês a primeira forma de cooperação agrícola_ as brigadas de ajuda mútua no trabalho, as quais lavram em conjunto a terra com a manutenção da propriedade privada da terra e dos instrumentos de produção.

 

II.                 O pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com caraterísticas Chinesas para uma Nova Era                            

 

O pensamento político de Xi Jinping inscreve-se nessa tradição democrática e humanista da filosofia política que nasceu da tragédia da II Guerra mundial, quando reafirma, internamente, que a contradição principal na sociedade chinesa é agora entre o crescimento das necessidades materiais e culturais do povo e o baixo nível de produção (que anteriormente Hu Jintao enfatizara no seu contributo teórico denominado “A perspetiva científica como base do desenvolvimento _2002).

Ao mesmo tempo que Xi Jinping defende, como orientação para a política internacional, que cada país tem o direito de escolher o seu caminho para a modernidade, proclama a via da paz para a construção de um destino comum para a humanidade, prosseguindo e atualizando assim os 5 princípios da coexistência pacífica, outrora anunciados ao mundo por Chu-En-Lai.[7]

No Relatório de Xi ao XIX Congresso Nacional do PCCh ( Pequim, 18 de outubro de 2017),  enfatiza o sonho de um mundo inclusivo e chama as pessoas em todo o mundo a cocriar uma comunidade global de futuro compartilhado, que no plano da economia se traduz na nova Rota da Seda para a Paz

 

A Nova Rota da Seda para a Paz, proposta por Xi Jinping

A estratégia internacional da China integra: “Uma estratégia militar de autodefesa”, que recusa e se opõe à hegemonia, às políticas intervencionistas, à corrida ao armamento ofensivo e às alianças militares e determina a integração do poder político e militar, sob a direção daquele.[8]

”Uma estratégia operacional” de cooperação que recusa a subalternização da ONU, preconiza a aplicação integral da sua Carta e a passagem para esta instância internacional da mediação e decisões sobre todos os conflitos

“Uma estratégia de defesa nacional” assente já não apenas na prosperidade geral da nação, mas na transição ecológica da economia e da sociedade, recuperando o património natural da China, sob a consigna, “A China Formosa”. E que assenta na construção da paz e prosperidade mundial, servidas pela criação de uma nova Rota da Seda, numa lógica de cooperação e partilha internacional do comércio que atrevesse todos os continentes. Esta visão política de conjunto realiza “O Sonho Chines” da plena soberania nacional, com a reintegração pacífica de Hong Kong, Macau e Taiwan.

A República Popular da China é a primeira potência mundial da história moderna da humanidade cuja economia não depende das indústrias de guerra para o seu crescimento e sustentabilidade, e encontra na promoção da paz, da cooperação internacional e do desenvolvimento comum, a fonte da sua prosperidade, por isso escrevemos que a proposta de Xi Jinping de construção conjunta da Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota marítima da Seda do Século XXI, é a Nova Rota da Seda para a Paz.

A superioridade desta proposta sobre os tratados internacionais em vigor reside, em primeiro lugar no acesso ao crédito a juros baixos para todos os países, segundo, no respeito pela decisão soberana de cada um sobre a escolha dos seus projetos estratégicos e, terceiro, na posição da China como parceiro que não procura a hegemonia.

 

Os dois centenários                        

O pensamento de Deng Xiaoping, herdeiro do pensamento de Mao Zedong sobre o socialismo com caraterísticas chinesas, enfatizou que a China está na primeira etapa do socialismo e permanecerá assim por um longo tempo. Esta é uma fase histórica que não pode ser ignorada no caminho da modernização socialista da China, que era um país atrasado economicamente e culturalmente. Assim sendo, Deng previu que tal percurso vai durar mais de cem anos, estabelecendo três tarefas históricas para avançar na modernização socialista:

_  alcançar a reunificação nacional, pacificamente e aplicando o conceito de um país dois sistemas.

_  salvaguardar a paz mundial

_  promover o desenvolvimento comum

Xi Jinping, teorizou as duas etapas mais próximas, designadas como “dois centenários”, o do partido, fundado em 1921, cuja meta é a construção integral de uma sociedade moderadamente próspera e o centenário de fundação da República Popular da China, em 2049, que realizará a construção de um país socialista moderno em todas as regiões da China e para as suas 56 nacionalidades.

 

800 milhões retirados da pobreza. China, 1949-2019 e o paradigma da inovação

O que significa então entrar numa Nova Era? Significa, no plano social, deixar para trás a fome, a falta de instrução e de cuidados de saúde, a economia atrasada, as profundas desigualdades sociais e entre a cidade e o campo, e erradicar a pobreza, conforme o quadro seguinte documenta, realizando o maior feito social da história moderna_ um imenso país sem pobres nem analfabetos!

A população, que era de 542 milhões……cresceu para 1.376 milhões de cidadãos.

A esperança de vida passou de 36,5 anos…para 76,34 anos.

O rendimento per capita elevou-se de 51 USD…… para 7.939 USD.

As “foreing-exange reserves”, anteriormente inexistentes… elevaram-se até 3,2 “triliões” de dólares, as maiores do mundo desde 2006.

O número de estudantes no ensino superior passou de 112.000… para mais de 86.563.000 cada ano letivo. Incluindo 440.000 estudantes de outros países. E 801.000 a estudar no estrangeiro.

O analfabetismo, que atingia 80% da população… caiu para um valor inferior a 4%.  E o ensino obrigatório de 9 anos apresenta uma taxa de cobertura de 99,7%.

A mortalidade infantil caiu de 150… para 8 por 1.000 nascimentos.

 

A economia chinesa entrou num novo paradigma_ substituiu a alta velocidade do crescimento por uma  velocidade médio-alta... deslocando o eixo do investimento em factores de produção para a alavanca da inovação.[9]

.

O país irá perseguir um crescimento mais lento nas de alta qualidade, o que no discurso político do PCCh tem vindo a ser chamado de socialismo ecológico, como adiante veremos..

A contribuição do PIB da China para o crescimento da economia global e para  evitar a recessão mundial, continuará a ser decisiva: USD 8.5 triliões, 11,1% , em  2012, $11.2 triliões, 14,8%  em 2016. 

O Partido Comunista da China    

 

O Partido Comunista da China evoluiu de acordo com a Teoria das 3 representações de Yan Zemin (2000), segundo o qual “..as razões pela qual o nosso partido  contou sempre com o apoio do povo durante os períodos históricos da revolução, construção e reforma, são:

Sempre representou as forças produtivas mais avançadas de China,

Guiou-se pela cultura mais avançada

Defendeu os interesses fundamentais da esmagadora maioria do povo chinês.”

Tornou-se assim no maior partido político que a nossa época conheceu, crescendo sempre entre todas as camadas sociais e etnias da China, ao mesmo tempo que cresciam com ele os 8 partidos democráticos da Frente Popular.

Certamente, a participação popular na militância partidária é um dos índices mais seguros da qualidade da democracia moderna. A RP China, com uma população de 1.354.000.000, tem inscritos no Partido Comunista da China 89.500.000 militantes. Os mais de 89 milhões de comunistas chineses, representam um rácio de 1 para 15 habitantes, sem paralelo no mundo e que se podem comparar com os rácios dos maiores partidos portugueses, para uma população de 10.514.844 habitantes:

PS          83.000             1 para 127      habitantes

PSD       112.009           1 para 94         habitantes

CDS      29.655            1 para 354       habitantes

PCP       60.484            1 para 173       habitantes

BE         9.600               1 para 1.095    habitantes

Se consideramos também o conjunto dos 8 partidos democráticos, com 1.090.000 militantes, o rácio de participação na vida política melhora ainda mais.

 

A ética e a moral políticas. A luta contra a corrupção   

Neste campo, destacaremos também os contributos de Xi Jinping para fortalecer a qualidade ética do partido e do estado, “os quatro integrais”, a que poderíamos chamar “os quatro imperativos ético-políticos”: a construção plena de uma sociedade moderadamente próspera, liberta da pobreza; o aprofundamento da reforma e abertura; o império da lei na administração do país e o fortalecimento da disciplina partidária ao serviço da grande nação chinesa, sobretudo na luta contra a corrupção.

 

III.             No caminho da Nova Era

 

A economia socialista de mercado     

O pensamento de Xi Jinping desenvolveu a política de Reforma e Abertura, tendo como eixo um novo conceito da economia política, “A economia socialista de mercado”, melhor teorizada nos Relatórios do 18º e 19º Congresso do Partido Comunista da China. E aqui apresentada em síntese:

 

Princípios de Governação:  as relações governo e mercado

 

O governo pretende que o mercado decida, mas não lhe concede todo o poder

O governo assegurará a estabilidade da macroeconomia

Continuará a prestar os serviços públicos 

Defenderá a justa competência no mercado

Procederá à supervisão do mercado

Manterá um mercado ordenado

Promoverá o desenvolvimento sustentável

Intervirá quando o mercado falhar

Nesses documentos começa a nascer uma nova contribuição filosófica, inovadora, mesmo para a tradição marxista-leninista, a teoria do socialismo ecológico e da ecocivilização, cujos princípios passam a integrar os próprios estatutos do partido comunista e a orientar a governação da China socialista.

 

O problema do aquecimento global: A responsabilidade da China, da Europa e dos EUA                                                                                             

Neste ponto, é preciso analisar à luz da ciência e da história, a ideia generalizada de que a China é o país mais responsável pelo aquecimento global e a crise ambiental. O quadro em presença permite lançar nova luz sobre a questão.

Segundo a agência europeia do ambiente, a NEEA, se todo o CO2 presente na atmosfera hoje fosse dividido entre os países responsáveis por suas emissões, os EUA seriam responsáveis por 27% do total, a União Europeia por 20%, enquanto à China caberiam 8%.

Em 2014, enquanto cada norte-americano emitiu em média 16,5 toneladas de dióxido de carbono, um chinês emitiu menos de metade desse valor: 7,6 toneladas.

O Relatório de 2016 da Comissão Europeia, denominado Emissions data Base for Atmosphere Research_ EDGAR, reconhece os progressos na China no domínio da proteção ambiental:

 

China (with 29% share in global total) and the United States (with 14% share) gave an example by effectively reducing their CO2 emissions by 0.7% and 2.6%, respectively, in 2015 compared to 2014. Also emissions in the Russian Federation (5% share) and Japan (3.5% share) decreased by 3.4% and 2.2%, respectively. However, the European Union (EU-28) (10% share) and India (7% share) report increases of 1.3% and 5.1%, respectively.

 

E se considerarmos que a China recicla grande parte dos resíduos tóxicos do mundo ocidental, do plástico aos computadores, pagando um preço ambiental pesado e, na primeira fase da Reforma e Abertura, assistiu à instalação no seu país de muitas indústrias de investidores estrangeiros que descuravam os problemas ambientais, então a responsabilidade sobre esta matéria tem que ser devolvida, em grande parte, aos países capitalistas mais desenvolvidos.

Na Conferência de Paris sobre a mudança climática, Xi afirmou no seu discurso que a China adotará novas medidas de política para melhorar a atividade industrial, construir o sistema de energia de baixo carbono, desenvolver as construções ecológicas e o sistema de transportes de baixo carbono, construir um mercado nacional de comércio de emissões de carbono. (Xi, cerimónia de abertura, Paris, Climate Change Conference, novembro, 2015).

Sob a consigna, o Partido Comunista da China conduz o povo para a promoção do progresso ecológico socialista, alguns dados desse esforço:

87,8 biliões USD de investimento no sector das energias limpas em 2016.

Líder mundial em termos de capacidade instalada de energia hidroelétrica, energia eólica e energia fotovoltaica, em 2017.

 As emissões de carbono serão reduzidas em 60-65% até 2030.

 

A teoria do socialismo ecológico e da ecocivilização proposta aos 18º e 19º congressos do PCCh

 

A filosofia ambiental foi definitivamente consignada na Reforma dos Estatutos do PCCh, por ocasião do 18º Congresso, realizado em 2012.

 

The Party must promote all-around economic, political, cultural, social, and ecological progress in accordance with the overall plan for the cause of socialism with Chinese characteristics.

In leading the cause of socialism, the Communist Party of China must persist in taking economic development as the central task, making all other work subordinate to and serve this central task. The Party must lose no time in speeding up development, implement the strategy of rejuvenating the country through science and education, the strategy of strengthening the nation with trained personnel and the strategy of sustainable development, and give full play to the role of science and technology as the primary productive force.[10]

 

Ao lado das referências ideológicas aos fundadores do pensamento marxista-leninista e da sua evolução no maoísmo, das contribuições filosófico-políticas da nova geração de líderes, os princípios ambientais ganharam estatuto de lei do PCCh. Para não atraiçoar o sentido dos textos originais, continuamos a optar por transcrever a sua tradução oficial:

 

The Communist Party of China leads the people in promoting socialist ecological progress. It raises its ecological awareness of the need to respect, accommodate to and protect nature; follows the basic state policy of conserving resources and protecting the environment and the principle of giving high priority to conserving resources, protecting the environment and promoting its natural restoration; and pursues sound development that leads to increased production, affluence and a good ecosystem.

The Party strives to build a resource-conserving, environmentally friendly society; and preserves China's geographical space and improves its industrial structure and mode of production and the Chinese way of life in the interest of conserving resources and protecting the environment.

All this is aimed at creating a good working and living environment for the people and ensuring lasting and sustainable development.

 

Este desenvolvimento ideológico teve impacto imediato, quer na vida interna do PCCh, com a fundação da Escola do PCCh no Ministério do Ambiente, destinada a formar os quadros do partido nas questões ambientais sob a consigna da “China Formosa”, envolvendo os seus 89,5 milhões de filiados, quer na sociedade chinesa, através da convocação da 12ª Assembleia Nacional Popular e da 12ª Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, que estabeleceram as políticas correspondentes.

 

The Party works to balance urban and rural development, development among regions, economic and social development, relations between man and nature, and domestic development and opening to the outside world; adjust the economic structure and transform the growth model.

The Communist Party of China leads the people in building a harmonious socialist society. In accordance with the general requirements for democracy and the rule of law, equity and justice, honesty and fraternity, vigor and vitality, stability and order, and harmony between man and nature and the principle of all the people building and sharing a harmonious socialist society.”

 

A estratégia da Rota da Seda em África, mitos e fatos

Os observadores e críticos do modelo de cooperação da China com o Sul têm geralmente caracterizado essa relação como de investimento extrativo e não produtivo, comprando e vendendo sem produzir riqueza e empregos, e levando à ruína muitas das incipientes indústrias locais como a indústria têxtil.

Concluindo que os programas de ajuda ao desenvolvimento conduzidos por Pequim em África são na sua essência, e continuarão a sê-lo num futuro próximo, meros processos de “trocas diretas” onde as indústrias chinesas recebem petróleo, cobre, cobalto, algodão, madeira e minério de ferro entre outros e fornecem (ou inundam) o mercado local com produtos de baixa qualidade e preço que ameaçam extinguir nalguns casos a residual capacidade competitiva de algumas empresas e indústrias africanas.

Ao mesmo tempo criticam os países africanos por seguirem modelos de desenvolvimento alternativos centrados no Estado e numa lógica de autossuficiência, em detrimento de uma maior integração na economia global, postulando como consequência que África não produz ao preço certo produtos que o mundo queira, perdendo rapidamente terreno face à América Latina e Ásia.

A China é igualmente criticada pela ausência de exigências no âmbito político na forma como Pequim concede os seus empréstimos, não acoplando a estas condições no plano das práticas da boa governação desses Estados recetores, apesar de conferir um apoio retórico à Nova Parceria para o Desenvolvimento de África_ NEPAD. [11]

E as empresas chinesas (identificadas como pertencendo maioritariamente ao estado) são acusadas de apresentar preços bastante mais baixos que a concorrência, graças aos subsídios conferidos pelo governo, de em regra demonstrarem uma inadequada capacidade de gestão e emprego de técnicas e materiais de construção de má qualidade, o que se repercute na maior parte das vezes quer em atrasos de alguma monta nos prazos inicialmente estipulados para a conclusão dos projetos de construção, com as inevitáveis derrapagens financeiras, quer na rápida degradação dos edifícios construídos por algumas dessas empresas.  A que somam impactos ambientais negativos. [12]   

O Modus operandi estratégico de Pequim é definido pelo recurso convergente de três canais político-diplomáticos: o do Fórum de Cooperação China-África, o do Fórum de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (CPLP) e o das relações bilaterais. [13]

Esta análise global não considera em regra o caso da África do Sul, parceiro nos BRIC e no âmbito das relações Sul-Sul, aponta como excecional o fato de o saldo da balança comercial da China com o Brasil favorecer este último país.

Questionar a atualidade deste paradigma é um exercício de filosofia e economia política que pode ser relevante, não apenas para o futuro da nossa relação com a China, o Brasil e com os PALOP, mas também para o nosso destino comum europeu. Ou ainda mais para o mundo, já que as teorizações sobre a advento da III Guerra Mundial vão desde a revelação da mudança da natureza da guerra até à localização no continente africano subdesenvolvido um dos seus mais prováveis cenários. .[14]

No contexto desta reflexão, teremos de cingir-nos ao emergir de novos fenómenos políticos de influência global, questionando-nos sobre a sua relevância para o surgimento de um novo paradigma na Cooperação Sul-Sul.

Primeiro_ Em 2006 durante Conferência China África para a cooperação, perante mais de 40 chefes de estado e governo, a China fez o balanço de 50 anos de cooperação e propôs uma declaração conjunta e um plano a dois anos, onde se comprometia a duplicar os financiamentos e a conceder perdões parciais ou da totalidade das dívidas soberanas, além de destacar o reforço do apoio na área da educação.

Na última década, o número de africanos matriculados nas universidades chinesas cresceu em média 35% ao ano, atingindo em 2017 cerca de 60 mil. [15]  

A partir de janeiro de 2009, foram instituídas tarifas preferenciais unilaterais para 41 países menos desenvolvidos e traçado o objetivo de cobertura deste benefício para 95% das importações dos PMDs, abrangendo praticamente toda a África.

Segundo_ O perfil das empresas chinesas neste continente transformou-se.

É a conclusão do estudo da McKinsey, “Dance of the Lions and Dragons”. Um terço dos ‘dragões’ dedica-se à produção industrial. Sim: também há empresas chinesas que deslocalizam as suas fábricas. (10.000?) Na África do Sul, Angola, Costa do Marfim, Etiópia, Nigéria, Quénia, Tanzânia e Zâmbia…, oito países que, no conjunto, representam dois terços do Produto Bruto da África Subsariana e metade do investimento chinês no continente.

90% das empresas chinesas estabelecidas em África são privadas e empregam “vários milhões de trabalhadores africanos”: Há 258.920 chineses a viver em Angola (a comunicação social anunciava dois milhões), 258.391 dos quais com ‘vistos de trabalho e estima-se o número de um milhão para toda a África. ’” “Normalmente os trabalhadores chineses ficam apenas três ou quatro anos em África”.

44% dos quadros das empresas chinesas estabelecidas em África são africanos.

Cerca de 5% da manufatura chinesa já terá sido transferida para África, o que “está a mudar a economia africana”, estima Irene Sun: “Muitas das coisas que os americanos compram nos centros comerciais são feitas por companhias chinesas, não na China mas em África.” A mesma investigadora cita o caso do Lesoto, com dezenas de fábricas que produzem vestuário para a Levi’s e a cadeia Walmart.

Terceiro_ A assistência da China desenvolveu-se não apenas nas áreas das infraestruturas, agricultura e desenvolvimento de recursos humanos, bem como através da isenção de direitos aduaneiros e do “perdão da dívida”, concedido aos países africanos e também ao conjunto das nações menos desenvolvidos (PMDs). Mas e sobretudo, ampliou-se à indústria e aos serviços, tendo a Etiópia como parceiro fundamental. [16]   

África do Sul e Etiópia tornaram-se os protagonistas dessa inflexão estratégica. 

Há razões económicas, a África do Sul é uma das maiores potências económicas africanas. Contudo a Etiópia não tem nem matérias-primas nem mercado para os produtos chineses. A resposta deve ser procurada sobretudo em razões políticas, partilhadas entre os três países:

Etiópia e África do Sul identificam-se com a estratégia política proposta por Xi Jinping para construir uma Nova Era, ao enfatizar que “…a China oferece uma alternativa ao modelo ocidental de modernização aos países em desenvolvimento, que procuram encontrar o seu próprio caminho para a modernidade.”

E com o corolário complementar de colaboração pacífica para um futuro comum…”Somente com o progresso dos países em desenvolvimento e dos países menos desenvolvidos do mundo, a China pode crescer. Somente com a prosperidade dos países em desenvolvimento, a China pode ser mais próspera.”

Os seus governos nasceram de processos revolucionários que triunfaram, na África do Sul sobre o regime de supremacia branca do Apartheid, suporte de uma economia capitalista de elevada concentração do capital, e na Etiópia sobre um regime semifeudal a que sucedeu um regime militarizado dependente da URSS, que embora reclamando-se do socialismo, não conseguiu promover o progresso social e unir as diversas etnias do país. No primeiro caso sob a direção política do ANC e no segundo da Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope, entidades políticas que põem em causa o modelo de democracia liberal e a sua base económica capitalista, numa ótica marxista heterodoxa e com base numa estrutura de frente popular, tão cara à tradição da Nova China.

O governo etíope definiu como objetivo estratégico da sua economia transformar-se no hub industrial da África, a fábrica da África, que emerge a partir do emblemático Parque Industrial de Hawassa, construído com a China em 2017, o primeiro parque têxtil sustentável e Parque Industrial especializado no vestuário, de todo o continente africano. Um modelo de Parque assente nos princípios do desenvolvimento sustentável, qualificação e especialização da sua classe operária, de elevado potencial competitivo, orientado para a exportação, que está a ser reproduzido em mais uma dezena de parques etíopes disseminados por todas as províncias deste país, beneficiando da transferência de tecnologias avançadas provenientes da China e diversificando a produção industrial. Investimentos e obras que são acompanhados pela construção e instalação de todas as infraestruturas modernas, como a autoestrada Addis Abeba-Adama.

Nesse ano, a Etiópia anunciou a sua adesão à Rota Marítima da Seda. [17]     

A superioridade do projeto One Belt, One Road, na ótica da China e das entidades aderentes, como afirmámos inicialmente e no caso de África  aqui se documenta, sobre os tratados internacionais em vigor reside, em primeiro lugar, no acesso ao crédito a juros baixos para todos os países, segundo, no respeito pela decisão soberana de cada um sobre a escolha dos seus projetos estratégicos e, terceiro, na posição da China como parceiro que não impõe a sua hegemonia no Asian Infraestruture Investment Bank (2015), onde a China, detém 26% dos direitos de voto.[18]    

A Cooperação Sul-Sul promovida pela China deve ser agora reanalisada pelas suas medidas políticas fundamentai, que podemos traduzir em números: mais isenção de direitos aduaneiros e novos “perdões da dívida” concedido aos países menos desenvolvidos (PMDs). Na contribuição de 3 mil milhões de USD para o Fundo de Cooperação Sul-Sul para o Clima, criado em 2015. De um milhar de milhões de USD para o Fundo da ONU para a Paz e Desenvolvimento, criado também em 2015. Um total de USD $ 100 milhões de ajuda militar gratuita para a União Africana, entre 2015 e 2019…

Mas sobretudo, pela orientação estratégica consignada na última cimeira China-África de 2018 Forum on China-Africa Cooperation_FOCAC (onde estiveram 53 países, menos um do total e pontificou a África do Sul)), assente na adesão de princípio ao projeto da Nova Rota da Seda e ao ideário da construção de um Futuro Comum de praticamente toda a África, na celebração imediata de acordos com 37 países para a edificação sustentável e autónoma da sua própria economia moderna, com uma agricultura modernizada mas também com uma base industrial, servidas por uma componente de serviços de alta tecnologia e diversificada, orientada para bem longe do modelo de troca de matérias-primas por produtos e serviços importados de baixo valor. [19]

A Cimeira de 2018 pode ter constituído um acontecimento de enorme importância para a União Europeia, que, com a ajuda da China ao desenvolvimento sustentado da economia africana e o seu apoio à ação da ONU naquele continente, verá diminuída a pressão dos refugiados e emigrantes africanos que fogem da guerra e da miséria.

 

IV.             6 razões pelas quais começar uma guerra comercial com China é uma má idéia

 

Finalmente, não é uma boa notícia para o mundo, iniciar uma guerra comercial com a China.

Por razões que a opinião política democrática dos EUA e da União Europeia e as ciências económicas compreendem bem:

1) A China tem capacidade de resposta

Muitos produtos de consumo moderno estão hoje a preços acessíveis no mercado graças à China. O PIB da China apenas depende em 18,26 % (2018) da exportação, numa tendência decrescente que, num período de 10 anos baixou de 31,15% para aquele valor;  ao contrário, o PIB europeu depende em grande medida Veja-se o caso das suas maiores economias: a Alemanha, 38,71% (2019), França, 21,04% (2019), Itália, 26,62%, Espanha, 23,94%, mas não do Reino Unido, 16,61% (2019). Tal como os produtos de menor valor acrescentado da economia americana, dependem muito da exportação.

2) A prosperidade de muitas grandes empresas depende da China, nomeadamente, americanas

Starbucks (SBUX), Boeing (BA) and Apple (AAPL, Tech30).

3) A China é um grande investidor nos EUA e na União Europeia

4) As multinacionais não promovem o regresso dos empregos ao seu país, dirigem-se agora aos países de baixos salários

5) A moeda chinesa não está subvalorizada,

6) A Nova Rota da Seda constitui uma alternativa democrática aos tratados internacionais injustos e a adesão da China à OMC concede-lhe o direito de usufruir na Europa e no Mundo o estatuto de economia de mercado.

 

“Sem a China a economia mundial cairia em recessão” (Relatório do FMI e do BM, 2016)

 

Mas sobretudo, e estou a citar o próprio FMI e o Banco Mundial, porque sem a China a economia mundial cairia em recessão. O desenvolvimento das relações económicas internacionais e regionais, impulsionadas pela China, constitui o fator decisivo para controlar os ciclos de crise económica e financeira que acompanham a nova globalização: as crises modernas, quaisquer que sejam as formas assumidas, continuam a ser crises de superprodução e agora de endividamento nacional agravado por juros especulativos, a RPCh, o seu imenso mercado, ininterrupto crescimento que atingiu os dois dígitos e imensas reservas de capital, torna-se, paradoxo do nosso fim de século (e de modelo económico dominante), a tábua de salvação para as economias capitalistas da Ásia…e do Mundo! E não nos referimos apenas ao pico da crise financeira de 2007-2008, que evoluiu nos países mais dependentes para crise da dívida soberana e depois crise austeritária: é o FMI quem enfatiza o diagnóstico, no ano de 2017, “Without China, the world will be in recession”!

 

According to the International Monetary Fundthe official arbiter of global economic metricsthe Chinese economy accounts for 17.3 percent of world GDP (measured on a purchasing-power-parity basis). A 6.7 percent increase in China's real GDP thus translates into about 1.2 percentage points of world growth. Absent China, that contribution would need to be subtracted from the IMF's downwardly revised 3.1 percent estimate for world GDP growth in 2016, dragging it down to 1.9 percentwell below the 2.5 percent threshold commonly associated with global recessions...

In 2016, China was the world's largest economy for the second year in a row. It produced $21.3 trillion in economic output.

The European Union was in second place, generating $19.2 trillion.

The United States fell to third place, producing $18.6 trillion.[20]

 

E o mundo empobreceria, pois é a China quem passou a liderar o ranking mundial do PPP_ o Poder de Compra Comparado, lugar que os EUA ocupava desde 1872, o índice que melhor revela o nível de bem-estar da população de um país, aqui representado neste quadro.

Termino, repetindo a mensagem de Xi aos seus compatriotas e às nações de todo o mundo:

 

Somente com o progresso dos países em desenvolvimento e dos países menos desenvolvidos do mundo, a China pode crescer. Somente com a prosperidade dos países em desenvolvimento, a China pode ser mais próspera. (19º Congresso do PCCh)

 

V.                Referências bibliográficas

 

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[1] Xi Jinping na cerimônia do 95 º aniversário da Fundação do Partido Comunista da China_ PCCh, Pequim, 1 de julho de 2016.

[2] Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 36 - Set-Out de 1951. Artigo, O Regime Estatal da República Popular da China, de O. A. Arturov. S. Paulo.

[3] Da entrevista que o Dalai Lama concedeu à Deutsche Welle, edição brasileira, retirámos os seguintes extratos sobre o Iraque e sobre a questão do Tibete:

A crise no Iraque: “…Veja a crise no Iraque e o presidente Bush. Eu sei que sua motivação era bastante boa: a democracia no Iraque. Mas o método foi errado…se as políticas americanas para derrubar Saddam Hussein tivessem sido conduzidas de uma maneira menos violenta, acredito que a situação hoje seria um pouco melhor.”

A questão da independência do Tibete: “Nós decidimos em 1974 que não estamos atrás de independência. Nós só buscamos aqueles direitos que são mencionados na Constituição. Eles deveriam ser implementados. Este é o nosso pedido.”

Na entrevista existem ainda várias referências positivas ao respeito pela liberdade religiosa na República Popular da China. O seu governo nunca quebrou o diálogo diplomático com os representantes do Dalai Lama, regularmente, são autorizados a visitar a China. O reconhecimento da unidade deste país, constitui a base de princípio para diminuir a tensão política e credibilizar o "caminho do meio" que o Dalai Lama agora propõe, enquanto a propaganda Guerra Fria continua a reclamar “Free Tibete” (!?)

https://www.dw.com/pt-br/mantenha-a-esperan%C3%A7a-mas-prepare-se-para-o-pior-diz-o-dalai-lama/a-17879877

[4] Consultar o testemunho de um monge tibetano, publicado na Inglaterra: Tsering, T. (1999). The Struggle for Modern Tibet: The Autobiography of Tashi Tsering by Melvyn C. Goldstein and gvb William R Siebenschuh. UK: Routledge.

[5] Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 36 - Set-Out de 1951. Artigo, O Regime Estatal da República Popular da China, de O. A. Arturov. S. Paulo

[6] A autoridade política de Mao, intacta nos primeiros anos da RPCh e os sucessos económicos e sociais, que, partindo da entrega da terra a 350 milhões de camponeses, permitiram minorar as tremendas destruições provocadas pela guerra e iniciar o combate à fome milenar que, naquela época, as desgraças do conflito agravaram ao extremo, a ajuda técnica, financeira e em especialistas da URSS, a contribuição dos “empresários patriotas” que tinham encontrado refúgio nos países vizinhos, encorajaram a direção do PCCh a lançar uma campanha nacional de industrialização e coletivização aceleradas, que visava multiplicar a produção de aço e alimentos, fomentar a indústria e reconstruir as infraestruturas do país, a qual ficou conhecida como “O grande salto em frente (1956/1960)”.

A coletivização extrema nos campos, com a criação de gigantescas comunas populares, aumentou temporariamente os níveis de produção, mas conduziu igualmente a graves desequilíbrios ambientais. O baixo nível científico e tecnológico como base do desenvolvimento industrial resultou em progressos efêmeros e numa baixa qualidade dos produtos. Cumulativamente, a perda de apoio da URSS, que o PCCh criticava por evoluir para uma política “social imperialista” e a violência das calamidades naturais que atingiram a China nesse período, deixaram um rasto de fracasso, crise ambiental e não erradicaram a fome.

Os críticos do regime político chinês falam de milhões de mortos provocados pela fome e miséria que sobreveio, como se estes flagelos não fossem uma herança do feudalismo chinês, da pilhagem internacional dos seus recursos e do saque e destruição infligidos por quinze anos de ocupação japonesa. Aquela estatística não tem nenhuma fonte credível e faz tábua rasa da história contemporânea da China e dos avanços sociais que acompanharam todos os períodos de evolução da República Popular da China. A crise do período do Grande Salto em Frente não impediu que, durante esse espaço temporal, fosse sendo construído um sistema básico de saúde e educação, de repartição social da riqueza produzida e de avanço científico e tecnológico. Como se documenta no mapa de evolução do PIB da China, hoje reconhecido por todas as instâncias internacionais, este não caiu durante este período nem no da “revolução cultural”, embora a sua subida seja muito pequena

[7] Cinco Princípios da Coexistência Pacífica (1954): 1) respeito mútuo da soberania e integridade nacional; 2) não-agressão
3) não intervenção nos assuntos internos de um país por parte de outro; 4) igualdade e benefícios recíprocos e 5) coexistência pacífica entre Estados com sistemas sociais e ideológicos diferentes. Adotados pelo Movimento dos Países Não Alinhados (1961)

[8] “A China abraça a via do desenvolvimento pacífico. Esse é o compromisso assumido, mantido e promovido pelo sistema socialista da China, pela política externa de paz independente e pela tradição cultural que valoriza a paz e a harmonia. A China seguirá o caminho do desenvolvimento pacífico. Esse o nosso compromisso solene com o povo da China e do mundo. Assim está posto em letra na Constituição do Partido Comunista da China e na Constituição da República Popular da China, está reafirmada como a vontade do PCC e do Estado. Se não basta isso para convencer algumas pessoas, em que, afinal, acreditariam? Nos últimos 70 anos, desde a fundação, a República Popular da China jamais provocou guerra ou conflito, nem jamais invadiu outro país ou tomou uma polegada de terra alheia. No futuro, por mais forte que seja, a China nunca ameaçará ninguém, não buscará hegemonia nem estabelecerá esferas de influência. A história provou e continuará a provar que a China não seguirá o caminho batido pelas grandes potências que, basta crescer, passam a buscar obsessivamente a hegemonia. A hegemonia não está de acordo com os valores e interesses nacionais da China.” General Wei Fenghe, Ministro da Defesa Nacional e Conselheiro do Estado da República Popular da China, 2/6/2019, Discurso perante o 18º Diálogo Xangrilá, Global Times, Pequim.

Sobre a política militar da China e os conceitos fundamentais das ciências militares que a enquadram, recomendamos na Bibliografia os excelentes trabalhos do Tenente-Coronel António Carriço, nomeadamente, People’s Republic of China Defense White Papers (1998-2010).

[9] Xi, no Boao Forum for Asia, Hainan, 28 de março, 2015.

[10] Optámos pela versão original em inglês, para conceder mais rigor ao texto.

[11] O documento em que se baseia a Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD, sigla da designação inglesa) surgiu de um mandato concedido aos presidentes da Argélia, do Egipto, da Nigéria, do Senegal e da República da África do Sul pela Organização da Unidade Africana (OUA), que congrega praticamente todos os países desde o Cairo ao Cabo. E procura dar origem a um esquema de desenvolvimento socioeconómico para o continente.

Foi a trigésima sétima cimeira da OUA, em julho de 2001, que aprovou o documento básico da NEPAD.

[12] Consultar: A longa reportagem de Serge Michel e Michel Beuret, publicada em Portugal com o título “Safari Chinês,  Pequim à Conquista do Continente Negro”. E Irene Sun, Harvard Business Review.

[13] Os seus presidentes reúnem-se anualmente. Na ONU, votam muitas vezes juntos, como aconteceu no caso da Síria.

Representam 25% do território, 41% da população, 23,5% do PIB e mais de 50% das reservas internacionais do mundo.

China e Brasil são, respetivamente, o segundo e o quinto maiores credores dos Estados Unidos.

O comércio Brasil-Índia passou de 4,6 US$ mil milhões em 2006 para US$ 15 mil milhões em 2015.

Comércio, cooperação para a ciência e o ensino, a transferência de tecnologia para fins pacíficos, são os domínios de cooperação prioritários.

Por crescerem mais que a Europa e os Estados Unidos, e terem mais reservas internacionais, os BRICS querem maior poder no Banco Mundial e no FMI. Como isso lhes tem sido negado, criaram (2015) o próprio banco, com capital inicial de US$ 100 milhares de milhões, the New Development Bank (NDB).

E pretendem constituir a sua própria Agência de Rating.

Na área de internet, Rússia e Índia já declararam o seu apoio ao regulamento que o Brasil propõe para a rede mundial.

Está a ser planeado o BRICS Cable, um cabo ótico submarino de 34 mil quilômetros que, sem passar pelos Estados Unidos ou pela Europa, ligará o Brasil à África do Sul, Índia, China e Rússia, em Vladivostok.

Através do desenvolvimento da Cooperação Sul-Sul, a China tem aproximado dos BRICS muito outros países, da África, da América Latina e da Ásia.

[14] António José Telo, professor e Historiador na Academia Militar. Martin Levi van Creveld. The Transformation of War, New York: Free Press.  Project for the New American Century, PNAC), substituído pelo Foreign Policy Initiative, também fundada por Kristol e Kagan, em 2009.

[15] Em 2003 não chegavam a dois mil. No mundo inteiro, apenas a França tem mais estudantes oriundos de África.

[16] Angola, sobretudo com a escolha de nova liderança política, mas mesmo antes, integra este pelotão da frente, apesar do dumping petrolífero promovido pela Arábia Saudita e apoiado pelos EUA, que visa manter a hegemonia daquele país no mercado e afeta sobretudo os países que o governo americano considera que põem em causa os interesses americanos.

[17] A Estratégia de Segurança Nacional, ESN [National Security Strategy (NSS)] do Governo Trump afirma que "China e Rússia desafiam o poder, a influência e interesses dos EUA, tentando erodir a segurança e a prosperidade dos EUA."

A Estratégia de Defesa Nacional, EDN [National Defense Strategy (EDN)] do Governo Trump afirma que a China "almeja a hegemonia regional no Indo-Pacífico no curto prazo, e a apear os EUA para alcançar a hegemonia global no futuro."

Compare-se com o discurso do Ministro da Defesa da RPChina, que anteriormente transcrevemos.

[18] A China anunciou que já foram planeados mais de 1 trilião de yuan (USD $ 160 milhares de milhões) de projetos de infraestruturas. O Banco tem um capital autorizado de US $ 100 milhares de milhões, dos quais 75% serão provenientes de países asiáticos e da Oceânia. Mais de 100 países e organizações internacionais têm manifestado apoio ou participado na Belt and Road Initiative.

Adicionalmente a China constitui o Silk Road Fund com 4 milhares de milhões de USD.

[19] “…The two sides believe that Africa is an important partner in Belt and Road cooperation, and pledge to leverage the strengths of the Forum and support China and Africa in jointly building the Belt and Road.

China will, on the basis of the ten cooperation plans already adopted, launch eight major initiatives including an industrial promotion initiative, an infrastructure connectivity initiative, a trade facilitation initiative, a green development initiative, a capacity building initiative, a health care initiative, a people-to-people exchange initiative and a peace and security initiative in close collaboration with African countries in the next three years and beyond, to support African countries in achieving independent and sustainable development at a faster pace. The content of the eight major initiatives will be reflected in the following articles of this Action Plan.”

Este plano (2019-2021) está desdobrado em medidas concretas relativas a nove áreas: Agriculture, Food Security and Food Safety; Industry Partnering and Industrial Capacity Cooperation; Infrastructure Development; Energy and Natural Resources; Ocean Economy; Tourism; Investment and Economic Cooperation: Trade; Finance;

[20] Citado de Stephen S. Roach. “The author, a faculty member at Yale University and a former chairman of Morgan Stanley Asia, is the author of Unbalanced: The Codependency of America and China.”





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FICHA TÉCNICA 图书数据 TÍTULO 书名 Diálogos Interculturais Portugal-China 2 Vol. I: Rotas e raízes de um diálogo distante 葡萄牙-中国跨文化对话 (第二辑) 远程对话之路径与源起 上册 EDITORES 主编 Carlos Morais Guo Zhiyan Jorge A. H. Rangel António Manuel Ferreira Maria Fernanda Brasete Ran Mai Rosa Lídia Coimbra CAPA 封面设计 Nuno Dias AUTOR DO CARIMBO 印章篆刻 Lihui Guo PAGINAÇÃO 排版 carlosgoncalves.net CONCEÇÃO GRÁFICA 版面设计 Década das Palavras IMPRESSÃO/ACABAMENTO 印刷 Clássica, Artes Gráficas EDIÇÃO 出版社 Instituto Internacional de Macau (IIM) Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro (IC-UA)

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