A Economia
do Património e O Turismo
The Economy of heritage and tourism
The Economy of heritage and tourism
n. 7 (2016)
Arquelogia e turismo:
novas abordagens
A economia do
património e o turismo
António Queirós
Resumo
O turismo não é apenas e exclusivamente
uma atividade económica, mas jamais devemos subestimar esta sua dimensão
primordial, e, porventura, a sua crescente importância económica é
indissociável de algumas das mais profundas mudanças políticas e sociológicas
que marcaram o século XX: o crescimento da classe média instruída e da sua
mobilidade, facilitada pela formidável revolução técnico-científica e a mudança
do seu conceito de “gosto”; a institucionalização e ampliação dos direitos
democráticos dos cidadãos; a contenção da guerra; mas também de uma ainda mais
radical mudança antropológica, o reposicionamento do Ser Humano no quadro da
Filosofia da Natureza e do Ambiente e das suas Éticas Ambientais, quer a
atividade turística disso se aperceba ou não, cega pela aparência das formas
económicas tradicionais e pela expansão e sucesso ininterrupto desta atividade
nos últimos cinquenta anos, marcados pelo empirismo e a absolutização do
turismo como atividade económica de serviços.
A economia do turismo, na sua relação
com o património e a constituição e reprodução do capital turístico apresentam
algumas singularidades que pretendemos investigar: como se produz a mercadoria
turística e reproduz o capital turístico, como se processa a formação do seu
valor, preço e concorrência, qual a natureza e a essência económica da
atividade turística, questionando simultaneamente os conceitos tradicionais de comum
sector de serviços ou indústria do turismo, tourism
industry.
Palavras-Chave: Gosto. Turismo Cultural. Externalidades.
ABSTRACT
Tourism
has been studied as an economic activity, from their products and businesses
activities. But why are travelling peoples and for what? What’s happen in the
tourism world under the iron hand of the modern market, analysed from the both
sides, demand and offer, with the emergence of the society of knowledge and
information, with their new middle class growing with more education and
culture, a young people predisposed to the e-learning and a increasing segment
of tourists who anticipate the middle-aged and retire?
A
new conceptual research framework emerges and a new tourism paradigm:
Environmental Tourism (Cultural tourism and tourism of nature).
This
paper wants to discuss the connection between heritage and tourism economy.
Researching how is create and reproduced the capital of tourism and recognising
the cultural values and products penetration in the tourism activity, in the
framework of the changing taste (preferences) and ethical values of middle
class.
KEYWORDS: Taste. Cultural tourism. Externalities
Veja aqui a edição digital da revista
Enquadramento
Metodológico e Enunciado dos Temas
Adotamos aqui o quadro conceptual proposto no ensaio “Turismo Cultural e
Economia do Património”:
“Toda a teoria científica tem como suporte
um conjunto de axiomas. A metodologia do trabalho científico consiste no
desenvolvimento desses axiomas para deles retirar consequências “físicas”, isto
é, no caso do turismo, para analisar a sua fenomenologia. Tal significa, no
estudo da evolução prática da atividade turística, explicar e prever os seus
resultados, através da prática da observação dos seus fenómenos ou da
experimentação dos seus processos. Para que a concetualização formal do turismo
se conforme com a construção de uma hermenêutica científica, ela deve ser capaz
de estabelecer uma relação dialógica entre a observação e os conceitos
matemáticos (em sentido amplo) e esforçar-se por identificar os fenómenos que
correspondem aos conceitos abstratos elaborados pela investigação na área do turismo.
“ (Queirós, 2014: 108)
É óbvio que neste texto a dimensão da pesquisa se deve confinar quer à
natureza quer aos limites de um artigo. Pelo que o autor optou por
circunscrever o número de axiomas e dirigir o desenvolvimento teórico do artigo
em duas direções, para a comunidade académica, mas também para os decisores
políticos e económicos, procurando demonstrar a estes que estamos em presença
de questões teóricas de vital importância para o bom andamento da sua
governação e dos seus negócios.
São assim dois axiomas a problematizar:
_ Estamos face a face com o desafio de “repensar” as relações entre
património e turismo, particularmente na sua dimensão económica ?
_ Existem atualmente no mercado turístico “estranhos fenómenos”, não
explicáveis pelas leis tradicionais do mercado, que indiciem a configuração de
uma economia específica do turismo, no quadro da emergência de um novo
paradigma, onde o património é fator decisivo da mudança!?
Iniciemos a reflexão.
A economia do património e o turismo. Investing in success
O
tema tem sido objeto de estudo nos países mais desenvolvidos em matéria de
turismo e valorização do património e os dados adiante citados referem-se ao
Reino Unido, conforme recensão realizada pelo engenheiro Vasco Costa, o último dos
diretores da Direção Geral do Património. A importância do património para o
sucesso da nova economia do turismo está aqui bem documentada. Tomamos como
referência a publicação da obra Investing
in success. Heritage and UK tourism economy (2010), que cita inicialmente o
estudo encomendado à Oxford Economics, Economic impact of the UK
heritage tourism economy, em 1999.
“The popularity of heritage is well understood,
and we have long had the numbers that confirm this. Some 53% of the population makes a trip to
experience the atmosphere of a historic town or city at least once a year, and
42% visit a museum or gallery. The total number of visits to museums and galleries has been estimated
at over 40 million a year, whilst 1.2 billion visits are made to the countryside. Over 10 million visits are made to historic parks,
more than 38 million to historic houses, cathedrals and castles, and more than 250 million to Britain’s inland canals and waterways. Historic
houses in private ownership play a crucial part in supporting this essential national resource, welcoming 14 million visitors each year…
The economic impact of the heritage sector has been underestimated by
politicians, economists and business leaders trying to get the British economy
moving again. Part of the reason is that the data to make our case hasn't been
available…
This report is the first to provide those missing numbers. It
demonstrates that the heritage-based tourism economy is bigger than other
studies have previously suggested, contributing an estimated £20.6billion to
the gross domestic product and that investing in our heritage makes sense now
more than ever.”
Retiremos
dos artigos da obra citada alguns quadros e citações, para os comentar:
Fig 1 e 2. Quadros comparados do Valor Acrescentado pelo património à
renda do turismo e a sua contribuição para o PIB. Fonte: Heritage Lottery Fund.
(Page 9)
O seu
contributo para o rendimento económico é superior aos principais ramos
industriais e, como sector charneira da economia, apresenta múltiplos impactos
na criação de riqueza e de emprego. Ao património construído soma-se um peso
equivalente do denominando património natural, que é de facto a sobreposição
dos valores da paisagem humanizada com os valores da denominada vida selvagem.
Esta realidade explica os comentários seguintes, que a sublinham e ilustram. O
primeiro, de Dame Jenny Abramsky, Chair of the Heritage Lottery Fund:
“Investing in success:
With the tourism economy estimated to grow even more
over the next 10 years, investing in our heritage makes sense now more than ever. …Every £1million of HLF funding leads to an increase in tourism revenues
for regional economies of £4.2million over 10 years.” (Abramsky, 2010: 2,20)
Trata-se
de uma taxa de rentabilidade económica absolutamente notável, catalisadora do merchandising tradicional e cultural. O
segundo, de Sandie Dawe MBE, Chief
Executive of VisitBritain:
“Valuing heritage tourism:
Our heritage economy is vibrant, and a crucially important part not just
of the £114 billion visitor economy, but of our local, regional and national
economies as well.
Our heritage attractions are the very product of travel and tourism;
built according to international influences, filled with souvenirs and
artefacts, suffused with stories of characters all drawn from international
travel.” (2010, Dawe:
3.4)
Fig. 3 e 4.
O património como fator de motivação do turismo internacional e do turismo
nacional. Fonte: Heritage Lottery Fund, Page11.
Um
sector que apresenta uma grande resiliência à própria crise económica. Como sublinha
Simon Thurley, Chief Executive of English
Heritage
“Heritage tourism and the post-recession
Economy:
We believe that heritage tourism can become an
increasingly important sector of them UK economy as we come out of recession
and move towards recovery.” (Thurley, 2010:13)
Roy Clare CBE, Chief Executive of the Museums, Libraries and
Archives Council, destaca o papel dos museus como estruturas orgânicas do
Turismo Cultural e da sua economia:
“Museums, flagship libraries and archives play
a central role in supporting the visitor economy… All museums, including those
in local-authority ownership, need support to make stronger contributions to
tourism economies.”
(Clare,210:15,16)
A
paisagem cultural e os seus valores associados à vida selvagem como novos
produtos do turismo de natureza e do turismo em espaço rural, segundo Ian
Jardine, Chief Executive of Scottish Natural Heritage:
“The role of natural heritage in driving tourism:
The country’s stunning landscapes and wildlife attract tourists from
near and far, and are consistently cited as the most important factor in
drawing visitors to Scotland….The country’s stunning landscapes and wildlife
attract tourists from near and far, and are consistently cited as the most
important factor in drawing visitors to Scotland.
There is no single report that quantifies the economic benefits of
nature-based tourism, although various different studies give an indication of
the importance of the sector. For example: • whale-watching in Scotland is
estimated to bring in £10.7million a year;
• anglers spend an estimated £113million a year on fishing in Scotland’s
famous rivers including the Spey, Dee, Tay and Tweed; • wild geese attract
birdwatchers, wildfowlers and tourists, who contribute £3.5million a year; •
sea eagles bring £1.69million a year to the Mull economy; ospreys have become a popular tourist
attraction, bringing in 125,000 visitors who spend an additional £2.2million
every year; • watching seabirds
at the Scottish Seabird Centre, North Berwick, brings over £1million a year
into the local economy; • wild
deer are a great attraction for tourists, with deer-management generating
£105million a year; • outdoor
activities such as walking and cycling are growing in popularity. Over 330
million visits were made to Scotland’s outdoors for recreation purposes in
2007. “(Jardine,
2010:23)
Para concluir com Stephen Johnson, Chair of
the Broads Authority, sobre a importância dos parques naturais como
estruturas orgânicas do Turismo de Natureza:
“Enhancing the visitor experience through the heritage:
Almost a quarter of all tourists walk as their
main activity or as part of a trip enhancing the visitor experience through
heritage. The
Broads’ value to residents and visitors is well researched and established.
In 2008, the wetland attracted around
11 million visits, which generated a total spend in the area of £413million.” (Johnson, 2010:25)
UMA NOVA ECONOMIA ESPECÍFICA DO TURISMO
A nova economia do turismo pode ser percecionada
através de estudos monográficos sobre o valor e impacto económico do
património. O “estudo de caso” da Parques de Sintra, Monte da Lua (PSML), do
Museu do Relógio, de Serpa e do Palácio de Versalhes, conduziu-nos a uma comum
matriz de gestão: São entidades gestoras do património, com uma situação económica
e financeira sustentável, que cobre praticamente a totalidade do seu orçamento
com os resultados da exploração e até criam superavit, que aqui apenas anotaremos, limitados que estamos pela dimensão de um artigo.
A que
associamos, nesta introdução à nova economia do turismo, três outros exemplos
merecedores de um artigo autónomo; aqui os mencionamos sumariamente e como
referência para o leitor empenhado, que deseje ir mais longe na sua pesquiza
neste tema:
A
realização pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto do estudo do “Impacto Económico da Fundação de Serralves. Relatório Final”), coordenado pelo
professor José Costa, o qual conclui (em 2010), que Serralves, apesar de longe
do autofinanciamento alcançado pelas três entidades anteriores, pois na trajetória de 2000 a 2010 os Subsídios
do Estado e de O.E. Públicos elevaram-se de 52,25% a 65,44%, (5,08 milhões de euros) gera em contrapartida um impacto global sobre o PIB de
cerca de 40,56 milhões de euros.
A
tese de doutoramento de José Maria da Cunha Rego Lobo de Carvalho, “Conservação do
Património. Políticas de sustentabilidade económica (orientação do Professor
Catedrático José Lamas). Lisboa: IST, 2009”, na linha de investigação orientada
para a zona monumental de Belém, em Lisboa, que realizou em 2003 onde se
evidenciam os efeitos multiplicadores das visitas turísticas sobre a economia
local.
E, finalmente,
a investigação que parte do Museu Monográfico de Conimbriga e do seu Centro de
Formação, o Cefop.Conimbriga: O “estudo de caso” de Conimbriga, como microcosmo
do turismo nacional, fundamenta-se na sua capacidade de atração nacional e
internacional, na natureza dos seus visitantes, onde o predomínio dos turistas
sobre os excursionistas é significativo, na segmentação dos dados disponíveis
sobre os seus públicos_ integrando jovens escolares e outros jovens, turistas
de outros países (cerca de 30%) e turistas nacionais de todo o país, em
equilíbrio de género, de todas as classes sociais e etárias, e na existência de
um inquérito sistemático (ao longo dos últimos vinte anos) aos seus públicos
que engloba, no mínimo,12 itens: Idade. Forma de organização da viagem.
Preparação da Visita com recurso à Internet. Outras atividades durante o mesmo
dia e noite. Visitas anteriores. Composição do grupo/Número de pessoas. Gastos
pessoais em Euros €. Tempo da visita/ Horas. Grau de
satisfação. Alojamento/Lugar onde vai dormir. País de Residência. Transporte de
chegada ao país. Os dados objetivos da investigação, com séries anuais de inquéritos da ordem de um a dois ou três milhares, repartidos
pelas quatro estações, as quais representam agregados diferentes de público, demonstram
que o turismo cultural é hoje um turismo de massas e as centenas de milhar de
visitantes que chegam ao Museu Monográfico de Conimbriga e à sua paisagem, a
paisagem do Oppidum de Conimbriga e das Terras de Sicó, onde se instalou o
Circuito da Romanização_ligando Conimbriga à Mãe d’Água do Aqueduto de
Alcabideque, ao Museu e Villa Romana do
Rabaçal e ao Complexo Monumental de Santiago da Guarda ( Villa Romana_Torre Medieval_Solar dos
Caminhos de Santiago), testemunham em primeiro lugar a qualidade do produto e
do serviço, fator determinante do sucesso e do retorno.
Fig. 5. Impacte económico
do turismo de Conimbriga, média anual do período 1995/2014.
Fonte:
Inquérito anual LAC/CEFOP.
Mostram igualmente como o valor
acrescentado dos turistas é largamente superior aos dos excursionistas e como,
com despesas gerais de funcionamento do museu e ruinas, financiadas pelo estado
na ordem dos 500 a 600 mil euros/ano, se obtêm, nas Cadeias de Valor do Turismo,
retornos superiores a 7 milhões de euros/ano.
Externalidades da
economia do Património e do Turismo Cultural
Mas
aqueles exemplos notáveis, que devem ser estudados como fonte de aprendizagem
dos bons métodos de gestão, não podem servir para criar a dupla ilusão de que
todos os museus ou monumentos são suscetíveis de apresentar um resultado
orçamental positivo (em França, só outra instituição cultural, além de
Versalhes, gera receitas diretas que lhe permitem autofinanciar-se) ou que o seu
impacto económico se reduz à contabilidade das receitas próprias: o efeito
multiplicador do seu funcionamento é muito superior a estas receitas e materializa-se
sobretudo nas suas externalidades, potenciando todas as Cadeias de Valor da
atividade turística e a sua economia a montante e jusante.
O que
constitui recurso turístico essencial é a paisagem cultural (ou selvagem, onde
a influência antrópica é menos evidente), paisagem humanizada, onde se inscrevem
museus e monumentos, parques e áreas protegidas, ou simplesmente, os diversos
quadros paisagísticos (do mar à montanha), com os recursos do seu “terroir”. A sua leitura e interpretação constituem
a base da criação do produto turístico e a sua primeira metamorfose de valor. São
a “ecologia da paisagem” (o património material) e a sua “metafísica” (o
património imaterial), que constituem a essência do recurso turístico, mas só a
sua interpretação e leitura lhe confere um novo acréscimo de valor cultural e
económico, transformando o recurso em produto/mercadoria. A paisagem (rural e
urbana) não é um livro aberto, inteligível empiricamente. A sua transformação
em produto turístico passa pela sua legibilidade, que lhe confere valor de uso;
é uma metamorfose que, no plano da economia gera valor, e é também um processo de
literacia cultural, mediado pela construção da linguagem de comunicação
turística, questão pouco estudada; em paralelo, outras estruturas orgânicas, de
outras categorias tipológicas do turismo, como seja o Turismo em Espaço Rural,
o Turismo Gastronómico e Enológico, o Turismo de Mar e Rio… também elas
necessitam de processar os recursos em produtos: o resultado deste processo
altera a forma e a essência dos conceitos tradicionais de recurso e de produto
turístico. Ao leitor interessado em conhecer a estrutura categorial dos
diferentes tipos de turismo, conceptualizados segundo as suas distintas
estruturas orgânicas e diferentes produtos oferecidos, aconselhamos a leitura
do artigo referido em Bibliografia e titulado “Turismo Cultural e Economia do
Património”.
A
principal quota da renda do turismo gerada pelo património (s) é recolhida externamente às suas estruturas
orgânicas nas Cadeias de Valor da atividade turística (alojamento, restauração,
lojas e merchandising, animação, guionamento, transporte, agenciamento..), mas são os museus, monumentos e parques naturais, que hoje atraem os turistas,
constituindo uns as estruturas orgânicas do turismo cultural e outros as
estruturas orgânicas do turismo de natureza. A incompreensão deste paradoxo
económico é a causa do conflito histórico entre turismo e desenvolvimento,
traduzido no falso dilema “economia ou cultura”, mas contém igualmente a chave
da sua superação.
O conceito de externalidade, a=f(p)
Este
conceito de “externalidade”, na relação entre o património e as Cadeias de Valor
da economia do turismo, pode ser transformado num teorema e numa fórmula
matemáticas:
Durante
longos anos os hotéis e afins corporizaram os principais polos de atração
turística. O que mudou deste então?
Seja “a” a variável do alojamento e “p”
a variável que representa o conjunto do património natural e cultural. A lei
matemática assenta na correspondência entre a e p, correspondência unívoca no
sentido a→p. Anteriormente, dizíamos que a variável p é uma função variável de
a e escrevemos simbolicamente p=f(a), sendo que a (alojamento) era a variável
independente e p (património) a variável dependente. Ora, o que resulta do
emergir de uma nova classe média culta, da emancipação da mulher contemporânea
pelo trabalho, de uma juventude cada vez mais instruída e da antecipação da
reforma ativa em segmentos da classe média, é uma mudança de gosto e de
motivação nas viagens, provocando uma inversão funcional. Atualmente a=f(p), isto é, a generalidade das
unidades hoteleiras, na sua uniformidade construtiva e de serviços, deixou de
ser o polo de atração, tendendo a tornar-se dependente da existência na sua
área funcional de mercado de valores patrimoniais conservados e acessíveis ao
público. Esta nova relação unívoca tornou o alojamento uma variável económica
dependente do património. No campo da matemática, em rigor, a um valor de “p“ corresponde
um só valor de “a” e, no mercado turístico, o mesmo monumento, sítio ou
paisagem é visitável a partir da existência de várias unidades hoteleiras,
relativamente próximas. E, ao alterar a relação funcional, põe em causa a
própria natureza do alojamento tradicional, pelo menos em quatro dimensões:
1ª: A
exigência de qualidade construtiva no que concerne ao valor arquitetónico da
obra, correta inserção paisagística e gestão ambiental.
2ª A
necessidade de conformar os seus serviços com os valores patrimoniais da
paisagem cultural onde se insere, oferecendo os seus produtos mais genuínos na
construção, restauração e no merchandising.
3ª A
diversificação da oferta, complementando o serviço de alojamento, restauração e
merchandising, com o de animação, e
em especial com a proposta de Rotas e Circuitos de Turismo Cultural e de
Natureza.
4ª A
eliminação das barreiras arquitetónicas, de modo a acolher todos os hóspedes
com necessidades especiais e a criação de estruturas paramédicas e de lazer
adequadas, sobretudo aos turistas seniores: desde o acesso rápido a serviços de
saúde aos parques gerontológicos.
Mercado de concorrência ou mercado cooperativo?
Os
novos produtos do turismo cultural e de natureza, como mercadorias que são,
possuindo embora um valor acrescentado e de troca comparável às mercadorias
comuns, comportam-se face à concorrência de um modo peculiar, que importa pôr
em evidência. Cada novo turista ganho para o “gosto” (aqui considerado como
categoria) por um determinado produto do turismo cultural ou de natureza,
tenderá a procurar e consumir todos os produtos afins, isto é, visitar todos os
outros museus, monumentos, parques naturais, etc… Esta concorrência, pela
diferenciação, gera complementaridade e redes de cooperação, em vez de exclusão
do concorrente.
Assim,
os pequenos municípios que concorrem entre si pela primazia dos fluxos
turísticos e que não têm escala de competição e as entidades regionais de
turismo assentes na promoção baseada na diferenciação administrativa municipal,
podem ganhar essa escala de competição através da constituição de “unidades
territoriais de turismo ambiental” (turismo de cultural e de natureza),
organizadas como Circuitos ( intermunicipais e transmunicipais) integradores de
todo o património, oferecido sob a forma de grandes Rotas que integram os
diversos Circuitos, com itinerários e percursos que atravessam sucessivas vezes
o seu concelho, atraindo os turistas pelos valores do património material e
imaterial e transformando excursionistas em turistas.
A
esta luz também as noções de competitividade ganham aqui um significado próprio
e o desenvolvimento económico das novas formas de turismo cria uma dinâmica
singular e aglutinadora que determina a evolução de outras áreas económicas a
montante e a jusante, como seja, a necessidade de promover uma economia de
conservação da natureza e dos patrimónios culturais, e, em paralelo, a promoção
da agricultura sustentável e da reforma da construção civil em favor da
reabilitação arquitetónica e dos conjuntos urbanos ou a disseminação das
infotecnologias e da cultura cibernética.
Podemos
agora sistematizar a questão ultrapassando a falácia económica: A visão
dominante na atualidade, que soma os proveitos obtidos com as entradas nos
museus e afins, com os resultados da sua loja, restaurante, do guionamento e
outros serviços proporcionados pelas estruturas do turismo cultural ou do turismo
de natureza, constitui uma perspetiva redutora que não tem em conta as
externalidades positivas e a mudança de carácter da relação funcional entre as
Cadeias de Valor da atividade turística e o Turismo Cultural e de Natureza, que
designamos genericamente como Turismo Ambiental.
Acresce
que às receitas diretas e induzidas do turismo ambiental ( turismo cultural +
turismo de natureza) se deve somar, no âmbito da economia, as receitas fiscais,
que devolvem ao estado, à administração central e local, o financiamento e
investimento realizados.
A
partir de inquéritos e estudos nacionais aos visitantes dos Museus e monumentos
(definição do ICOM), bem como de informação recolhida da experiência de
Conimbriga/Liga de Amigos de Conimbriga, concluiu-se que este elemento do
mercado (Museus e Monumentos), que estrutura o Turismo Cultural, atingiu em Portugal entre 1998 e 2002 um número de visitantes equiparado aos
melhores níveis internacionais, e, como adiante se
detalha e se analisa, foram revelados os quatro fatores desse progresso:
_ O
aumento da oferta desencadeou vagas sucessivas de visitantes.
_ Desenvolveu-se
em Portugal um amplo processo de democratização e qualificação das estruturas
museológicas.
_ Os
professores e as escolas, em paralelo com as autarquias, trouxeram aos museus
novos públicos, o escolar e o das classes populares. Neste contexto,
classificam-se os professores como os principais “agentes informais do
turismo”. As associações de Amigos dos Museus desempenharam também um papel
positivo neste processo.
_ As
crianças e jovens transformaram-se, eles próprios, em promotores das visitas
aos museus.
A
publicação, no espaço de quatro anos, de dois trabalhos sobre a evolução
nacional dos públicos dos museus e afins, em paralelo com os estudos de público
e mercado realizados a partir de Conimbriga, põe em causa a visão do “senso
comum” instalada não apenas na generalidade dos cidadãos mas também a nível dos
decisores políticos e económicos.
Portugal emerge, já em 1998, como dispondo de valores de procura deste
segmento de mercado, que estrutura o Turismo Cultural, ao nível europeu e
internacional:
E
sublinhamos que estamos utilizar a definição internacional de museu adotada pelo ICOM, que
inclui os monumentos e jardins botânicos, assim como todo o tipo de parque
temáticos e museus, conceito que na sua aplicação prática engloba, por exemplo, o Jardim
Zoológico e a Aldeia de João Franco, o Portugal dos Pequenitos, mas não os
monumentos (Jerónimos, etc, que, como veremos adiante farão ampliar largamente
estes valores)…Acresce que os números expressos não incluem os visitantes dos
Parques e Reservas Naturais, geridas pelo atualmente designado ICNF_ Instituo
de Conservação da Natureza e das Florestas.
1998
►8.541.060 Número de
visitantes dos museus e afins, em Portugal…mas, 69,6% na Região de Lisboa,
11,7% no Norte, 5,8% no Centro, 3,8%no Alentejo, 1,4% no Algarve, 0,8% nos
Açores e 6,9% na Madeira. (Fonte: Inquérito aos Museus de Portugal, IPM, 2000)
2002►13.609.609
Número de visitantes dos museus e afins, em Portugal…53,1% na Região de Lisboa, 19,9% no Norte, 11,6% no Centro, 3,9% no Alentejo, 5,5% no Algarve, 1,0% nos Açores e 5,0% na Madeira. (Fonte: O Panorama Museológico em Portugal 2000-2003. IPM, 2005.)
Número de visitantes dos museus e afins, em Portugal…53,1% na Região de Lisboa, 19,9% no Norte, 11,6% no Centro, 3,9% no Alentejo, 5,5% no Algarve, 1,0% nos Açores e 5,0% na Madeira. (Fonte: O Panorama Museológico em Portugal 2000-2003. IPM, 2005.)
Se o ano de 1998 representa uma relação de procura
elevada, ela concentra-se, no entanto, na região da Grande Lisboa, sendo
relevante o número de visitantes na Madeira, a confirmar as potencialidades do
seu turismo cultural. Mas já em 2002, fica registada uma efectiva
disseminação da procura pelo todo nacional.
Para esta profunda mudança, contribuíram, na nossa
opinião, quatro fatores fundamentais que analisaremos de seguida, a partir de
um primeiro quadro.
Fig.6. Principais
segmentos de público: Monumentos. Jardins Zoológicos, Botânicos e
Aquários. Fonte: O Panorama Museológico em Portugal.
Em
primeiro lugar, verifica-se que o aumento da oferta desencadeou vagas
sucessivas de visitantes. Nos vinte anos decorridos entre 1980 e 1999, cresceu
em 50,1 % ( + 57 unidades) o número de museus abertos. Sendo que o segmento dos
Jardins Zoológicos, Botânicos e Aquários, representam, só por si, 23,1% do
público e os Monumentos Musealizados 26,5%. Na década seguinte, o crescimento
continuaria com mais uma centena de museus e um acréscimo superior a 35%.
Assim e seguindo um sábio preceito da economia
clássica, “ a produção da mercadoria, cria a necessidade de a consumir” (Marx),
mesmo que o marketing nos queira convencer que é o gosto do público que
determina a produção, sendo dialéctica esta
relação, atrevo-me a afirmar que predomina a vontade da produção sobre a
necessidade do consumo.
Em
segundo lugar, desenvolveu-se em Portugal um amplo processo de democratização e
qualificação das estruturas museológicas. Ao contrário da ideia comum de que os
nossos museus e monumentos fecham ao fim de semana, a verdade é que, na sua
maioria, e na totalidade dos que eram geridos pelo recém extinto Instituto de Museus e Conservação
_IMC, eles abrem anualmente seis dias por semana e apenas à 2ª feira fecham,
como em todo o mundo, para manutenção. Nesta matéria, a nota negativa vai para a maior parte dos museus das Universidades, que, por força de contingências orçamentais, estão fechados ao domingo e a positiva para o Museu Monográfico
de Conimbriga.
Em Conimbriga
desenvolve-se uma experiência singular, com a abertura das ruínas e museu abertas 7 dias por semana. Os
grupos escolares e os professores que os enquadram têm em regra entrada
gratuita, e ao domingo de manhã, uma vez mais os museus do ex-Instituto
de Museus e Conservação_ IMC dão o exemplo de democratização
com o acesso gratuito. Generalizou-se igualmente o desconto nas entradas para
os mais velhos e grupos especialmente carenciados (lares de 3ª idade, centros
de reabilitação).
O
funcionamento regular e democrático dos museus e monumentos, servidos pelas
novas TICs_Tecnologias de Informação e Comunicação, constitui o eixo fundamental
da animação turística, complementadas com as outras atividades
integradas na sua programação_ exposições temporárias, teatro, música, etc., constituem um complemento em crescente.
Em
terceiro lugar, os professores e as escolas, em paralelo com as autarquias,
trouxeram aos museus novos públicos, o escolar e o das classes populares.
Trata-se de visitas de estudo, melhor ou pior organizadas, e excursões apoiadas
pelos transportes municipais. Não obstante, seria completamente errado
interpretar o crescimento do número de visitantes como reportando-se sobretudo
aos grupos escolares. Dois dados chegam para o demonstrar: O estudo de 2002
indica que esse valor é de 19%; o gráfico de visitantes de Conimbriga, nos
últimos 10 anos, aponta para uma média variável de 20% a um terço.
De
qualquer modo, o trabalho de campo e a experiência que recolhemos em Conimbriga
e na cooperação com outros museus e afins, nomeadamente, o Museu Nacional de
História Natural da Universidade de Lisboa _MNHN e o Visonarium, Centro de
Ciência promovido pela AEP; permite-nos concluir que hoje os
professores são os principais agentes informais do turismo. Foi decisivo o seu
contributo, em Conimbriga, para o crescimento regular do número de visitantes,
entre 1991 e 1999, atingindo então o seu ponto mais alto, com 216.517.
Os estudos realizados pelo Museu/IMC//LAC assinalam em 1999 52.560 (24,4%) estudantes nacionais e 858 (0,5%), estudantes estrangeiros. E, num ciclo de quatro anos do Visionarium, já na década seguinte, o número de visitantes escolares ultrapassou os 150.000.
Os estudos realizados pelo Museu/IMC//LAC assinalam em 1999 52.560 (24,4%) estudantes nacionais e 858 (0,5%), estudantes estrangeiros. E, num ciclo de quatro anos do Visionarium, já na década seguinte, o número de visitantes escolares ultrapassou os 150.000.
Já no
MNHN a primeira exposição científica sobre os Dinossáurios, ainda em 1993, atingiria um número recorde superior a
300.000!
Em
quarto lugar, as crianças e jovens transformaram-se, eles próprios, em
promotores das visitas aos museus. Trata-se de um fenómeno recorrente, por
exemplo, mos museus e centros de ciência e, em particular, nas exposições
científicas. Da colaboração entre a Liga de Amigos de Conimbriga e o seu Centro
de Formação de Professores e Profissional _ CEFOP.Conimbriga, com o MNHN, nas
exposições de Dinossáurios Robot de 1993 e 2002, foi notório que os jovens
escolares e dos jardins-de-infância
que as visitavam durante a semana, enquadrados pelos professores e educadores
das suas instituições, regressavam ao fim de semana acompanhados por todas as
gerações familiares, pais, avós, tios, ou irmãos, e o seu peso económico é de
tal ordem que, na Loja que continha o merchandising
das exposições referidas, as receitas se elevavam 5 ou 6 vezes no período de
sábado a domingo, e subiam a mais de 30.000€/mês. Esta análise é igualmente
válida para as áreas protegidas, embora aqui a dinâmica de visitas encontre nas
associações ambientalistas o primeiro grande impulso. Infelizmente a maior
parte dos Centros de Interpretação dos nossos parques e reservas naturais estão
fechados ao fim de semana.
De
acordo com o inquérito realizado pelo INE em 2011, os 397 Museus, jardins
zoológicos, botânicos e aquários registaram um total de 13,5 milhões de
visitantes e detinham um acervo de 21,7 milhões de bens em 2011. Do acervo
total, 38,2% pertencia aos Museus de Ciências e de Técnica. Os mais visitados
foram os Jardins zoológicos, botânicos e aquários, com 24,6% do total de
visitantes.
Em
2011 as galerias de arte e outros espaços de exposições temporárias (887 espaços)
promoveram 7 304 exposições e apresentaram 297 836 obras de 53 951 autores. O
número de visitantes foi de 8,8 milhões, significando em média, 1 210
visitantes por exposição realizada. O INE não nos diz qual a natureza deste
público, no domínio do turismo e do excursionismo, e não sabemos quantas destas
galerias estão integradas em espaços musealizados, mas é óbvio que não podemos
resumi-lo aos residentes locais.
Podemos
agregar ainda a panorâmica dos Espetáculos ao Vivo e aos Recintos de
espetáculos, sem podermos estabelecer a sua conexão com a atividade turística: No
conjunto dos espetáculos ao vivo, em 2011 realizaram-se 25 871 sessões, com um
total de 8,5 milhões de espetadores/as e uma receita de 55,7 milhões de euros.
O teatro liderou o número de sessões (47% do total), mas foram os concertos de
música rock/pop que tiveram maior número de espetadores/as (1,5 milhões) e geraram
mais receitas (23,7 milhões de euros).
De
acordo com informação do Orçamento Geral do Estado, a despesa consolidada do
Ministério da Cultura em 2011 ascendeu a 215,5 milhões de euros, significando
um decréscimo de 8,8% em relação a 2010 ( um valor equivalente ao do orçamento
de um único grandes estabelecimento museológico de Paris, ou melhor, um Centro
de Ciência e das Indústrias, La Villete).
Segundo
os dados recolhidos através do Inquérito ao Financiamento Público das
Atividades Culturais, em 2011 as Câmaras Municipais afetaram um financiamento
de 406,8 milhões de euros às atividades culturais, fundamentalmente para os seguintes
domínios: património cultural (19,7%), publicações e literatura (15,4%),
atividades socioculturais (14,7%), recintos culturais (12,3%) e música (7,7%).
A
descentralização do acesso aos museus pode ser documentado pela sua localização
regional: Norte 108, Centro
98, Lisboa 80, Alentejo 53, Algarve 20, Região
Autónoma dos Açores 20, Região Autónoma da Madeira 18.
2011►Agregação
dos visitantes e espetadores das estruturas orgânicas do turismo cultural
Museus,
jardins zoológicos, botânicos e aquários_13,5 milhões
Galerias
de arte e outros espaços de exposições temporárias_ 8,8 milhões
Espetáculos
ao Vivo e aos Recintos de espetáculos_8,5 milhões
Faltam-nos
ainda os monumentos e sítios.
Fig. 7. Tipologia dos museus. Fonte: Instituto
Nacional de Estatística.
O pessoal a tempo completo era de 4.470 pessoas e a
tempo parcial 692.
Fig. 8. Quadro de visitantes dos museus. Fonte: Instituto Nacional de Estatística.
O
mito de que os visitantes dos nossos museus são sobretudo estrangeiros e jovens
escolares, cai aqui. Os grupos escolares representam cerca de 20% e os
estrangeiros um pouco mais de 30%. Analisemos então a distribuição
geográfica dos visitantes dos museus uma década depois dos inquéritos que
referimos anteriormente, deixando entre parênteses os dados anteriores:
2011►13
495 187
Número de visitantes dos museus e estabelecimentos
afins em Portugal…50,9% (53,1%) na Região de Lisboa; 25,8% (19,9%) no Norte;
8,8% (11,6%) no Centro; 2,9% (3,9%) no Alentejo; 4,9% no Algarve (1,0%); 0,9
(1%) nos Açores e 5,6 (5,0% ) na Madeira.
O desenho de uma estrutura descentralizada, com maior
incidência em Lisboa, consolida-se, com a subida do Norte e um crescimento
importante no Algarve, mas que partiu de um nível muito reduzido. O Centro
retrocede claramente, em termos de peso relativo e também o Alentejo. A
importância turística do Algarve e a sua elevada sazonalidade justifica o desenvolvimento
destas estruturas do turismo cultural, mas também da possibilidade e
necessidade de levar a cabo um plano de reestruturação das suas estruturas de
apoio ao turismo, complementando os produtos de sol e praia e lazer, com os
novos produtos do turismo cultural e de natureza, sob pena de se tornar menos
atrativo para a classe média-média e média-alta e tender para receber sobretudo
os turistas da classe média-baixa e das classes populares, que pesam no
rendimento dos principais destinos turísticos internacionais apenas 7%, mesmo
que consiga captar alguns segmentos da classe alta, os quais, apenas
representam na generalidade dos destinos turísticos pouco mais de 5%. Veja-se o
caso do destino turístico Espanha, quando ocupava o 2º lugar no ranking mundial.
Fig. 9. O peso esmagador da classe média no
destino turístico. Espanha. Fonte: Instituto de Estudios Turísticos, 2007-2008.
Analisemos agora as outras estruturas orgânicas do
Turismo Cultural, Monumentos, Conjunto histórico-monumentais e Sítios: Tomemos o resumo estatístico da evolução verificada no número de visitantes dos museus e monumentos nacionais tutelados agora pela Direção Geral do Património Cultural_ DGPC, que extinguiu e integrou muitas das instituições ligadas ao património que atrás mencionámos, um total de 16 museus e 8 palácios, Conventos, Mosteiros e outros monumentos.
Em 2012, 3.175.585 visitantes, com destaque para Museu Nacional dos Coches_184.105; o Museu Nacional de Arte Antiga_ 119.951; o Mosteiro dos Jerónimos_ 694.156; A Torre de Belém_520.061; o Mosteiro da Batalha_ 271.912: o Palácio Nacional de Mafra_ 235.670.
Em 2013_ 3.440.818 visitantes, com destaque para Museu Nacional dos Coches_ 189.015; o Museu Nacional de Arte Antiga_ 138.166; o Mosteiro dos Jerónimos_ 722.758; A Torre de Belém_ 537.855; o Mosteiro da Batalha_ 291.455: o Palácio Nacional de Mafra_ 244.489 .
Em 2014_ 3.577.433 visitantes, com destaque para Museu Nacional dos Coches_ 206.887; o Museu Nacional de Arte Antiga_ 221.675; o Mosteiro dos Jerónimos_ 807.845; A Torre de Belém_ 530.903; o Mosteiro da Batalha_ 300.565: o Palácio Nacional de Mafra_ 274.255.
Em 2012, 3.175.585 visitantes, com destaque para Museu Nacional dos Coches_184.105; o Museu Nacional de Arte Antiga_ 119.951; o Mosteiro dos Jerónimos_ 694.156; A Torre de Belém_520.061; o Mosteiro da Batalha_ 271.912: o Palácio Nacional de Mafra_ 235.670.
Em 2013_ 3.440.818 visitantes, com destaque para Museu Nacional dos Coches_ 189.015; o Museu Nacional de Arte Antiga_ 138.166; o Mosteiro dos Jerónimos_ 722.758; A Torre de Belém_ 537.855; o Mosteiro da Batalha_ 291.455: o Palácio Nacional de Mafra_ 244.489 .
Em 2014_ 3.577.433 visitantes, com destaque para Museu Nacional dos Coches_ 206.887; o Museu Nacional de Arte Antiga_ 221.675; o Mosteiro dos Jerónimos_ 807.845; A Torre de Belém_ 530.903; o Mosteiro da Batalha_ 300.565: o Palácio Nacional de Mafra_ 274.255.
É
óbvio que carecemos de um estudo autónomo do número de visitantes dos
monumentos nacionais. Tomemos alguns valores parcelares: Na cidade do Porto, o Palácio da Bolsa incorpora
288.705 visitas guiadas. Outro grupo de monumentos classificados pela UNESCO,
no centro de Portugal, Universidade de Coimbra – Alta e Sofia, regista 355.000
visitantes de 60 países diferentes. Na mesma cidade de Coimbra, o Portugal dos
Pequenitos assinala 228.000 visitantes em 2014. As principais estruturas
orgânicas de um dos segmentos do turismo cultural, o turismo religioso, são os santuários; os serviços
religiosos para peregrinos no Santuário de Fátima representam 3.209.000 participantes
em 2014.Juntemos estes valores aos do quadro seguinte:
Fig.10 . Visitantes dos Monumentos nacionais. DGPC, 2014
Palácio Nacional da Ajuda
53.534
Palácio Nacional de Mafra 274.255
Panteão Nacional
89.629
Total
417.418
World
Heritage List of UNESCO
Convento
de Cristo Convent of Christ in
Tomar
209.294
Mosteiro de Alcobaça Monastery of Alcobaça 187.499
Mosteiro da Batalha Monastery of Batalha 300.565
Mosteiro
dos Jerónimos Monastery of the Hieronymites 807.845
Torre
de Belém Tower of
Belém 530.903
Total
2.036.106
Ficamos com um valor de cerca de 8,5 milhões de
visitantes portadores de bilhete. Podemos estimar, à escala nacional, tendo
como base os quadros seguintes, que revelam a existência no nosso país de 3.859
monumentos, conjuntos histórico-monumentais e sítios, um número global acima de
12 milhões de visitantes,
Fig.11. Distribuição nacional de Monumentos, Conjuntos
histórico-monumentais e sítios. Fonte: Instituto Nacional de Estatística
O que ressalta deste quadro é a sua disseminação por
todo o país: Lisboa já não é a capital macrocéfala da cultura nacional. As
estruturas orgânicas do Turismo Cultural possuem os recursos potenciais para
generalizar no nosso país toda a gama de produtos do turismo cultural.
Paradoxalmente, o Algarve surge no fim da lista, com apenas 121. Estão
classificados como Monumentos Nacionais 786,
como Imóveis de Interesse Público 2.360 e como Imóveis de Interesse
Municipal 713. Constituem propriedade pública
1.299 desses bens, propriedade privada 571, mista 52, faltando
determinar a posse de 1.937.
Também o quadro das galerias e exposições de arte,
tal como dos seus visitantes, mostra a sua efetiva regionalização por todo o
país, sendo notória, pela negativa, a sua escassa presença no destino turístico
Algarve.
Fig.12.
Distribuição geográfica das exposições. Fonte: Instituo Nacional de
Estatística.
Concentrando
agora a análise apenas nos museus e monumentos ( 28 museus e 5 palácios)
tutelados pelo ex-IMC no período 2007 – 2010, a partir do estudo denominando de
“Estatísticas de Públicos de Museus”, foi possível extrair as seguintes
conclusões:
_ O
visitante é maioritariamente nacional (57%), embora o público estrangeiro tenha
um peso muito significativo (42%).
_ Nos
museus, acentua-se a predominância de público nacional (66%) sobre o público
estrangeiro (33%), enquanto nos palácios se registou o contrário:
preponderância do público estrangeiro (52%) em relação ao nacional (47%).
Ora,
como o turismo internacional contribui diretamente para o setor exportador e
para a melhoria balança de pagamentos, é significativa tal percentagem, quando
a relacionamos com o número total dos seus visitantes: 2.368.562 em 2010 e
2.490.241 em 2011, distribuídos conforme o quadro anexo:
Fig.13. Visitantes dos museus e palácios tutelados
pelo ex-IMC. Fonte: Direção Geral do Património Cultural.
►Agregação
dos visitantes e espetadores das estruturas orgânicas do turismo cultural
Museus,
jardins zoológicos, botânicos e aquários_13,5 milhões
Galerias
de arte e outros espaços de exposições temporárias_ 8,8 milhões
Espetáculos
ao Vivo e aos Recintos de espetáculos_8,5 milhões
Monumentos, conjuntos histórico-monumentais e
sítios_ 12 milhões
Falta
contabilizar o número de visitantes das áreas protegidas, para avaliarmos a
dimensão da procura do turismo de natureza. O ICNF regista apenas o número de
visitas guiadas 28.896,
em 2015. Só no Parque Natural da Serra da Estrela, segundo fonte da GNR,
contam-se por ano mais de 3 milhões de visitantes, a maior parte excursionistas
de um só dia. O Parque Nacional da Peneda Gerês não terá um número inferior. Mas
não existem estatísticas fiáveis, apenas alguns estudos parcelares,
relacionando património e turismo e o seu impacte económico.
Um
exercício de comparação com o número de espetadores dos estádios de futebol,
permite perceber como existe uma falsa perceção acerca do peso social e
económico dos espetáculos desportivos face aos espetáculos e outras
manifestações associadas ao turismo cultural. É que o número oficial de
espetadores dos clubes de futebol, divulgados pela sua Liga, não ultrapassa os
3 milhões, face aos mais de 42,8 milhões envolvidos em atividades culturais.
Sendo certo que a diversidade dos expetadores de futebol é seguramente muito
menor do que a dos visitantes dos museus, e, provavelmente, estamos a falar de
um núcleo de algumas dezenas ou escassas centenas de milhar que se repetem nos
estádios domingo a domingo. O quadro anexo dá-nos apenas uma pálida imagem
dessa realidade, comparando os espetadores dos principais estádios de futebol
com os visitantes dos monumentos referidos.
Fig. 14. Top 5 dos espetadores dos estádios de futebol e visitantes dos
monumentos. Fonte: Federação Portuguesa de Futebol. IGESPAR.
1º
|
722.506*
|
Benfica
|
Mosteiro dos Jerónimos
|
644.729**
|
2º
|
570.766
|
Porto
|
Torre de Belém
|
530.903
|
3º
|
558.649
|
Sporting
|
Palácio Nacional de Sintra
|
360.756
|
4º
|
235.634
|
Braga
|
Mosteiro da Batalha
|
336.249
|
5º
|
189.105
|
V.Guimarães
|
Paço dos Duques
|
287.499
|
6º
|
92.189
|
G.Vicente
|
Palácio Nacional de Mafra
|
262.291
|
*Dados
de 2010/2011 ** Dados de 2010 Sendo os da Torre de Belém de 2014
Não
obstante, o Turismo Desportivo e de Desporto deve ser reconhecido como uma das
categorias tipológicas do turismo contemporâneo com relevância económica e
social, mas a sua projeção, muito restrita aos níveis superiores do futebol, surge
desmesurada e irreal no nosso país, e, provavelmente, insustentável no atual
modelo de negócios: entre os organizadores do Euro 2008, a única entidade que
exibiu lucros significativos foi a empresa multinacional denominada FIFA, que
toma forma jurídica de uma associação sem fins lucrativos! Esta questão tem
relevância para o investimento estratégico do país e põe em causa as suas
prioridades políticas: basta lembrar os 10 estádios construídos para o Euro
2008, que deixaram para trás além de um investimento improdutivo do governo de
muitas centenas de milhões de euros, dívidas de outros milhões das autarquias e
défices acumulados de gestão desses estádios aos clubes e às suas SAD e de novo
às autarquias, na ordem dos milhões/ano. E levanta ainda o problema da
veracidade e tratamento desigual da comunicação social destas duas facetas da
nossa vida social, já que a divulgação e o marketing em geral constituem
poderosos estímulos à procura social.
CONCLUSÕES
Analisámos
primeiro como na economia do turismo se processa a geração do valor e a produção
de mais-valias nas suas Cadeias de Valor. Para chegarmos mais tarde ao conceito
das suas externalidades, que é fundamental para a compreensão do carácter
específico da economia do turismo, da sua produtividade e competitividade.
Concluímos
que o que constitui recurso turístico essencial é a paisagem cultural ( ou
selvagem, onde a influência antrópica é menos evidente), humanizada, com os
seus museus, monumentos, áreas protegidas e quadros paisagísticos, que contêm
outros recursos no seu “terroir”. A transformação da paisagem em produto
turístico passa pela sua legibilidade, que lhe confere valor de uso: é uma
metamorfose que, no plano da economia gera valor, e é também um processo de
literacia cultural, mediado pela construção da linguagem de comunicação
turístico; em paralelo, outras estruturas orgânicas, de outras categorias
tipológicas do turismo, também elas necessitam de processar os recursos em
produtos: o resultado deste processo altera a forma e a essência dos conceitos
tradicionais de recurso e de produto turístico.
Durante
longos anos os hotéis e afins corporizaram os principais polos de atração
turística. Ora, o que resulta do emergir de uma nova classe média culta, da
emancipação da mulher contemporânea pelo trabalho, de uma juventude cada vez
mais instruída e da antecipação da reforma ativa em segmentos da classe média,
é uma mudança de gosto e de motivação nas viagens, provocando uma inversão
funcional. Atualmente a=f(p), isto é, a generalidade das unidades hoteleiras,
na sua uniformidade construtiva e de serviços, deixou de ser o polo de atração,
tendendo a tornar-se dependente da existência na sua área funcional de mercado
de valores patrimoniais conservados e acessíveis ao público. Esta nova relação
unívoca tornou o alojamento uma variável económica dependente do património.
O
capital turístico não se constitui apenas com o investimento imobiliário e em
equipamentos de turismo (capital fixos), e em capital variável ( quadros e trabalhadores
especializados, planeamento, gestão e marketing), mas cada vez mais com a
adição de investimento intelectual, científico, cultural, na criação de
produtos turísticos, como são hoje os do turismo cultural e os de turismo da
natureza ( também denominado ecoturismo).
Estes
novos produtos turísticos, como mercadorias que são, possuindo embora um valor
acrescentado e de troca comparável às mercadorias comuns, comportam-se face à concorrência
de um modo peculiar. Esta concorrência, pela diferenciação, gera
complementaridade e redes de cooperação, em vez de exclusão do concorrente. E o
desenvolvimento económico das novas formas de turismo cria uma dinâmica
singular e aglutinadora que determina a evolução de outras áreas económicas a
montante e a jusante, como seja, a necessidade de promover uma economia de
conservação da natureza e do património cultural.
A
autonomia financeira e de gestão dos museus, monumentos e parques, acompanhada
pelo apoio e investimento do estado na retribuição dos serviços educativos e
culturais prestados, a sua orientação
estratégica para conquistar os públicos jovens, democratizar o acesso e
projetar o marketing do turismo
ambiental ( turismo cultural + turismo de natureza) no mercado global,
constituem uma das chaves múltiplas do sucesso destas entidades orgânicas do
turismo cultural e de do turismo de natureza, e da sua eficiência turística,
mas também do desenvolvimento da
atividade turística como placa giratória da criação de riqueza e da promoção de
mais emprego e novos perfis
profissionais.
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