The Chinese international
tourism and Portugal
António dos Santos Queirós
Researcher and Professor
Philosophy
Center of Lisbon University
and
Aveiro University
Portugal
Centro de Filosofia.
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade
1600-214 Lisboa
Portuga
1600-214 Lisboa
Portuga
adsqueiros@gmail.com
Resumo:
O emergir da China como o
principal destino turístico mundial, mas também a sua liderança enquanto país
emissor, são inseparáveis do crescimento da sua classe média e da mudança na
motivação e gosto das viagens turísticas.
Este artigo fornece informação
estatística sobre os destinos mais procurados pelos turistas chineses e analisa
o seu perfil, considerando que são sobretudo consumidores do turismo cultural.Apresenta uma análise sobre as principais disfunções da oferta turística em Portugal face às características da procura que identifica os novos turistas chineses e propõe uma estratégia ibérica para as superar e promover o intercâmbio turístico com a China.
Abstract:
The rising of China as a major world tourist
destination, but also its leadership as the outbound tourism ranking, are
inseparable from the growth of its middle class and the changing in their motivation
and taste.
This article provides statistical information
on the most popular destinations for Chinese tourists and analyzes his/her
profile, concluding that are mainly consumers of cultural tourism.
The article presents an analysis of the main
problems of tourism in Portugal concerning demand characteristics that
identifies the new Chinese tourists and proposes an Iberian strategy to
overcome those obstacles and promote tourist exchanges with China.
Key Words: China market. Cultural tourism. Iberian strategy
Uma nova classe média instruída e culta. E a sua importância
para a consolidação e prosperidade do destino turístico
O crescimento da classe
média no Brasil e em Angola, ocorre simultaneamente com o desenvolvimento desta
classe na América Latina, na Índia e na África do Sul, a sua recuperação na
Rússia e, à escala de centenas de milhões, a sua ascensão na China. A crise
atual, afeta sobretudo a classe média europeia e americana.
A relevância da classe média
como chave da consolidação e progresso do destino turístico pode ser observada,
a título de “case-study”, no mercado
internacional de Espanha.
O
peso desta classe média e o seu nível cultural e de instrução emerge em
paralelo com a emancipação da mulher contemporânea pelo trabalho, uma juventude
cada vez mais instruída e a antecipação da reforma ativa em segmentos da classe
média, gerando uma mudança na categoria do “gosto” (conceito quase ausente na
literatura académica sobre turismo) e na “motivação” das viagens.
O
mercado de Espanha era até 2008 o segundo mercado do Mundo e nele encontramos
87,8% de turistas internacionais com um nível de rendimentos classificados
entre a classe média e a classe média alta, 46,5 % turistas femininos, 50,7%
dos turistas com estudos superiores e 42,3 % com mais de 45 anos.
No ano de 2011, as estatísticas mostram que
continuou a elevar-se o nível de instrução dos turistas internacionais chegados
à Espanha: 62% com estudos superiores, 33% com estudos secundários e 5% com o
ensino básico (Egatur, 2011). A classe com renda média situou-se nos 60%
(ligeira quebra) e a média-alta a 29%, elevando em conjunto o seu peso no
destino turístico Espanha para 89%, enquanto a classe com renda alta subia
ligeiramente para os 6%.
E observamos
o maior ritmo de crescimento dos gastos dos turistas seniores, 12,6 %, sendo
estes os que permitem maiores valias per
capita, 1.009 €.
Podemos
afirmar em tese: A prosperidade de uma “região destino” depende da conquista
dos segmentos de público da classe média-média e da classe média-alta,
considerando a sua relevância económica e capacidade de influência social e o seu
papel como " modeladoras do consumo social ".
Os seus jovens são os principais difusores dos novos paradigmas do turismo cultural e turismo da natureza na sociedade e mobilizam outros grupos de classe juvenil. Os seus professores são os primeiros veículos de informação e formação do gosto social e os mais importantes "agentes de turismo informal", quando promovem e organizar as visitas e viagens de estudo criadoras do gosto pelo turismo cultural e pelo turismo de natureza, durante todos os ciclos académicos.
A
prosperidade de uma região-destino dever ter como base a captação do
público-alvo da classe média-média e da classe média alta, pela sua superior
capacidade económica e peso social e pelo seu papel de modelador social do
consumo, no quadro de ascensão de um novo paradigma de turismo cultural e do
turismo de natureza, que coexiste com outros paradigmas já em decrescimento.
Os BRICS e a China
O relatório 2013 do PNUD
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), que analisou a economia de 187 países e
territórios nos últimos 20 anos, conclui que a China e Índia duplicaram a renda
por habitante. Essa duplicação ocorreu num espaço de tempo duas vezes mais
rápido do que o verificado durante a Revolução Industrial na Europa e na
América do Norte, sendo necessário atender, ao mesmo tempo, na diferenciação
entre salário nominal e real. Assim, os 150 euros de salário mínimo nominal na
China representam de facto um poder de compra que não é inferior ao nosso país,
enquanto, ao mesmo tempo, uma diária num grande hotel chinês de 5 estrelas pode
custar um valor próximo de 50 €. Na verdade, nas cidades chinesas já não é
possível contratar um trabalhador por menos de 400 ou 500 € e um turista chinês
da classe média que demanda a europa durante uma semana não espera gastar mais
de 2.000 € nos serviços de transporte, alojamento e alimentação.
Até 2020, o PIB combinado da
China, Índia e Brasil vai ultrapassar as economias de nações ricas como os
Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá. Com a melhoria
da renda em países mais pobres a percentagem de pessoas em situação de pobreza
extrema de rendimento caiu de 43% em 1990 para 22% em 2008, incluindo mais de
500 milhões de pessoas que, só na China, foram resgatadas da pobreza e, no
Brasil, cerca de 28 milhões.
A parceria económica, técnico-científica
e cultural da China com o Brasil, a América Latina e a África_ com base numa
relação comercial mais justa, fornecendo capital a juros baixos, investindo nas
estruturas base da economia moderna e valorizando as matérias-primas, numa
lógica de reciprocidade e benefício mútuo, tem permitido a estas regiões,
outrora empobrecidas pela dominação colonial e neocolonial, um elevado ritmo de
crescimento e de melhoria dos índices de desenvolvimento humano.
A
chegada, em grande número, dos turistas brasileiros e chineses à Europa tem nas
estatísticas do Louvre, barómetro do turismo mundial, a sua melhor ilustração.
O turismo cultural transformou-se em turismo de massas, como o documenta o
crescimento das entradas no Louvre para 8.880.000 em 2011.
O quadro seguinte, dos
visitantes internacionais do Museu do Louvre, é o melhor símbolo desta viragem
na estrutura da procura turística mundial:
A
soma dos turistas internacionais que demandam a China e as suas regiões
administrativas especiais de Hong Kong e Macau ultrapassa as 80 milhões de
chegadas, situando-a na liderança do turismo mundial. A Espanha, por troca com
a China caiu pra o 4º lugar mas sem nunca perder o 2º lugar nos rendimentos do
turismo, que atingiram um valor recorde em 2011, perto dos 60.000 milhões, logo
a seguir aos EUA e à frente da França,, enquanto o número de turistas se
elevava aos 56,7 M.
Portugal vem descendo no raking e ocupa agora o 27º lugar no que respeita às receitas, com
8,1 mil milhões €, correspondendo a 7,432 M de turistas.
A China
subia então ao terceiro lugar dos gastos turísticos enquanto país emissor,
correspondendo à criação e expansão de uma nova classe média que deverá estar
próxima dos 400 Milhões de cidadãos.
Mas,
antecipando todas as previsões, atingiu a primeira posição já em 2012, com
78.000 milhões de euros, ultrapassando a Alemanha, que caiu para 68.000 milhões.
O
crescimento do número hóspedes e dormidas é, respetivamente, de 30,4% e 26%,
mas o número total de turistas representa uma quota de apenas 0,1%, cerca de
40.000/ano.
A imagem de marca do turismo português, “Sol e Praia”, com as respetivas cadeias de alojamento, restauração e diversão, não possui nenhuma capacidade de atração para a classe média e a classe alta chinesas.
Aliás, se regressarmos aos anos 50, também assim acontecia a ocidente, antes da bem-sucedida campanha das cadeias de hotelaria californianas e europeias que associaram os valores do vigor e do prazer juvenis ao surf e ao lazer das praias.
Numa república que está a fazer a sua transição de país continental e rural para um país urbano internacionalizado, tal como aconteceu na europa da segunda metade do século XX, é normal que as atitudes e valores das suas elites partilhem o mesmo estado de alma que o nosso grande antropólogo Jorge Dias observava, equacionando simultaneamente os riscos de rotura cultural e do desaparecimento do património do mundo rural face à predominância na cultura contemporânea do elemento dinâmico, como produto da revolução técnico-científica e da comunicação, em paralelo com uma atitude de menosprezo "pelas formas de vida rústica" (Dias, 1990) das elites dos países essencialmente agrícolas.
Também a ideia que a economia e o turismo ocidentais estão a perder a batalha da concorrência com a China devido às restrições e custos acrescidos das políticas e legislação ambientais comunitárias, constitui um erro duplamente grosseiro: ignora a viragem estratégica que a China realizou no final de 2012, sob impulso do XVIII Congresso do Partido Comunista Chinês, no sentido de aproximar o desenvolvimento rural e urbano, segundo um novo paradigma de transição para uma economia sustentável, assente na cultura científica e na defesa do ambiente; e não entende que só a qualidade ambiental dos produtos e do turismo europeu podem constituir uma mais-valia no mercado mundial desregulado.
Em contrapartida, em seis meses, o programa de vistos de residência dourados para estrangeiros que invistam em Portugal conseguiu atrair para a economia nacional cerca de 20 milhões. Indianos, chineses, angolanos, russos, brasileiros e venezuelanos estão entre os principais investidores.
Conclusão: A criação de produtos turísticos ibéricos
E, sobretudo, devemos dirigir o nosso esforço estratégico para as províncias com menor grau de desenvolvimento ou de desenvolvimento médio, que tenderão a crescer mais em função das recentes resoluções da Assembleia Nacional Popular e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
Bibliografia
António, Nelson Santos, 2008. Economia e Gestão Chinesas - Aspectos Fundamentais
Editora: Edições Sílabo. ISBN 9789726185086.
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http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%c3%aas/ProTurismo/mercados/Pages/Mercados.aspx
http://www.ccilc.pt/sites/default/files/docs/china_ficha_mercado_2012_aicep.pdf
Este
fato torna ainda imperativa a elaboração de uma estratégia ibérica para a
captação deste mercado em crescimento exponencial, o qual, no quadro das
chegadas internacionais, é atualmente irrelevante nos dois países.
Portugal e o mercado do turismo
internacional chinês
Analisemos
os dados mais recentes do turismo chinês internacional, segundo as suas
estatísticas de 2011 (Travel China Guide). Nesse ano registaram-se 70,25
milhões de turistas chineses, um crescimento de 22,4% em relação ao ano de 2010. Destes, 6,132
milhões viajaram em missões oficiais e 64,117 milhões como turistas comuns, um
número que cresceu 24,5%. Os principais destinos foram Hong Kong, Macau, Coreia
do Sul, Taiwan, Malásia, Japão, Tailândia, USA, Camboja e Vietnam.
Hong
Kong recebeu 28,32 milhões ( + 22,6%) de chineses residentes no continente e
Macau 19,76 milhões ( + 22,7%). Taiwan
1,84 milhões (+ 11%).
As
agências organizaram a viagem de grupos que totalizam 20,21 milhões (+21,5%),
sendo que para os países estrangeiros foram 12,61 milhões (+ 44%) e para Hong
Kong e Macau 7,60 milhões (+3,5%).
Estes
números revelam duas tendências: a viagem turística realiza-se maioritariamente
sem recurso ao serviço das agências, 71%, como vai sucedendo no mercado
mundial. O turismo chinês cresce sobretudo para além do seu território nacional:
a percentagem de crescimento relativa a Macau e Hong Kong, reintegrados na
China segundo o conceito político de “um país, dois sistemas” e Taiwan, a
província que deverá integrar-se no futuro e pacificamente na RPCH, é
claramente menor que a procura de destinos internacionais. Observemos o mapa
oficial de 2011:
Sublinhámos
os países comunitários que figuram na lista e verificamos que dela não consta
nem a Espanha nem Portugal.
Anotemos,
desde já, que o perfil do turista chinês não é monolítico e, desestruturando os
fluxos nos seus destinos, encontraremos não apenas a classe média-média e
média-alta, mas também a classe dos milionários, que, na China, deve rondar globalmente
os 1,7 milhões.
Se
cruzarmos esta estatística com a dos voos diretos para a Europa encontramos uma
imediata correlação.
A
ausência de voos diretos para Portugal cria uma primeira disfunção turística,
pois é condição para o intercâmbio com a China. E reforça a necessidade de
construir uma estratégia ibérica com esse fim.
As estatísticas do turismo chinês em
Portugal e o seu significado
Os rendimentos apresentam um salto qualitativo a
partir de 2009, o que indicia a chegada de turistas de maior nível social.
Está
por realizar o estudo global do perfil destes turistas, pelo que nos
limitaremos a abordar as caraterísticas mais comuns aos novos turistas chineses,
não apenas segundo o critério da “motivação” mas igualmente o do “gosto”.
A imagem de marca do turismo português, “Sol e Praia”, com as respetivas cadeias de alojamento, restauração e diversão, não possui nenhuma capacidade de atração para a classe média e a classe alta chinesas.
O bronze da
pele está socialmente associado à condição de camponês ou trabalhador/operário
ao ar livre, e não ao estatuto ocidental de ascensão social que permite
desfrutar do veraneio nas praias.
Aliás, se regressarmos aos anos 50, também assim acontecia a ocidente, antes da bem-sucedida campanha das cadeias de hotelaria californianas e europeias que associaram os valores do vigor e do prazer juvenis ao surf e ao lazer das praias.
Numa república que está a fazer a sua transição de país continental e rural para um país urbano internacionalizado, tal como aconteceu na europa da segunda metade do século XX, é normal que as atitudes e valores das suas elites partilhem o mesmo estado de alma que o nosso grande antropólogo Jorge Dias observava, equacionando simultaneamente os riscos de rotura cultural e do desaparecimento do património do mundo rural face à predominância na cultura contemporânea do elemento dinâmico, como produto da revolução técnico-científica e da comunicação, em paralelo com uma atitude de menosprezo "pelas formas de vida rústica" (Dias, 1990) das elites dos países essencialmente agrícolas.
O comportamento dos turistas chineses, que ocupam uma
parte do seu tempo da estada na Europa realizando compras, em particular de
artigos de marca, pode conduzir alguns estudos à conclusão que é neste ponto
que reside a principal “motivação” das suas viagens. Na realidade, esta é uma conduta comum a todos os turistas que se deslocam
para muitos milhares de quilómetros de distância da sua casa, sobretudo pelo
apelo de adquirir produtos genuínos e, eventualmente, mais baratos.
Mas o que
realmente motiva os turistas chineses, pertencentes à classe média instruída e
culta é o “gosto” por usufruir dos produtos do turismo cultural, em primeiro
lugar. Os grandes museus e monumentos são o polo de atração e, neste contexto, os
chineses acompanham as motivações e o gosto da classe média de todo o mundo.
Igualmente, a
ideia de superficialidade na conduta desses turistas, mais atentos ao melhor
ângulo da foto que regista o património que às explicações dos guias, representa
sobretudo a dificuldade de vencer a barreira da língua e da cultura, quando não
a banalidade do discurso de guionamento matrizado por datas e lugares comuns
sobre a história e a arte. Quando os guias falarem mandarim receberão toda a atenção
dos turistas chineses. E é neste contexto que os menus, quartos e toda a
logística da estadia dos turistas chineses devem incluir os alimentos, as comodidades,
os horários e ritmos biológicos e os produtos culturais que a cultura chinesa
criou e difundiu entre os seus concidadãos, cultura essa desconhecida a
ocidente, a par da oferta equilibrada de novas experiências de gastronomia,
conforto e, sobretudo, produtos de turismo cultural e de turismo de natureza,
oferecidos a partir do próprio hotel, o que determina a criação (ou reciclagem)
de novas categorias profissionais e de novos métodos de gestão e promoção
hoteleiras.
Também a ideia que a economia e o turismo ocidentais estão a perder a batalha da concorrência com a China devido às restrições e custos acrescidos das políticas e legislação ambientais comunitárias, constitui um erro duplamente grosseiro: ignora a viragem estratégica que a China realizou no final de 2012, sob impulso do XVIII Congresso do Partido Comunista Chinês, no sentido de aproximar o desenvolvimento rural e urbano, segundo um novo paradigma de transição para uma economia sustentável, assente na cultura científica e na defesa do ambiente; e não entende que só a qualidade ambiental dos produtos e do turismo europeu podem constituir uma mais-valia no mercado mundial desregulado.
O Turismo
Residencial de Longa Duração é um segmento que pode captar a classe alta
chinesa, sobretudo porque permite a aquisição de visto de residência e abre a
porta da Europa, mas, por ora, entre os 20 mil cidadãos que adquiriram, em
2012, autorizações de residência em Portugal, contam-se sobretudo cidadãos
oriundos do Reino Unido, Espanha, Holanda e Alemanha. O programa Living in Portugal ignorou o idioma
chinês e a China como mercado estratégico.
Em contrapartida, em seis meses, o programa de vistos de residência dourados para estrangeiros que invistam em Portugal conseguiu atrair para a economia nacional cerca de 20 milhões. Indianos, chineses, angolanos, russos, brasileiros e venezuelanos estão entre os principais investidores.
Enfim, a China
não se está a ocidentalizar ou aculturar. Como sempre fez, absorverá as
culturas e a ciência ocidentais, produto da mesma árvore de conhecimento
milenar que partilha com a humanidade, assimilará o que lhe permite prosperar e
desenvolver-se e fará coexistir na sua cultura nacional, produto de 56
diferentes nacionalidades, um nicho cultural para os seus cidadãos que interiorizem
os novos valores. Esse é o significado da sua consigna internacional: “China Forever”.
Conclusão: A criação de produtos turísticos ibéricos
Vimos
anteriormente algumas das principais disfunções do destino turístico que é
Portugal: a ausência de voos diretos para a China. Uma imagem de marca do
turismo nacional associada ao modelo de “Sol e Praia”. O desconhecimento
generalizado da língua e da cultura chinesas, e dos valores morais e éticos que
lhe estão associados, substituídos pela visão etnocêntrica e pelo preconceito.
Registámos também a vantagem, na Europa, que outros destinos já têm sobre
Portugal e Espanha.
Coloquemos
então o problema? Como podemos competir no mercado mundial para que entre
Portugal e a China se estabeleça um efetivo intercâmbio?
Pela
diferenciação e complementaridade do destino Portugal no contexto do destino
Península Ibérica, e pela construção, passo a passo, de uma estratégia
inovadora, a qual, a par da superação daquelas disfunções, contenha as
seguintes linhas de força:
- Identificar as províncias da República Popular da
China com maiores necessidades de desenvolvimento turístico, mais baixo
grau de internacionalização e potencialidades de crescimento dos seus públicos-alvo,
perante as quais as capacidades turísticas das nossas empresas, regiões e
escolas/universidades possam ser concorrenciais, numa base de intercâmbio
e reciprocidade. Partir deste projeto-piloto como “case-study” para o país.
Tal
significa que não disputaremos diretamente os mercados provinciais atualmente
mais desenvolvidos, onde é maior a concorrência internacional e mais elevado o
poder de compra, só que apostaremos apenas nas suas cidades estratégicas.
E, sobretudo, devemos dirigir o nosso esforço estratégico para as províncias com menor grau de desenvolvimento ou de desenvolvimento médio, que tenderão a crescer mais em função das recentes resoluções da Assembleia Nacional Popular e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
- Identificar os problemas e encontrar as soluções
de contato, promoção, transporte, alojamento, investimento e estância
turística, que permitam criar uma cultura de negócios e desenvolver o
volume de trocas.
- Criar e ou operacionalizar as Rotas de Turismo Cultural e de Natureza a utilizar comercialmente nas grandes regiões do país.
É certo que não dispomos de monumentos e
grandes museus como Madrid, Barcelona ou Paris, mas, o nosso território
continental e marítimo configura-se como um mosaico de paisagens humanizadas
que congregam e conservam a diversidade geológica, a biodiversidade e a
diversidade histórica, artística e etnográfica europeias, com destaque para os
monumentos e paisagens classificados como património da humanidade e para uma
vasta rede de áreas protegidas e biótopos. Essa nova imagem de marca, de um
país que é um mosaico da diversidade do património europeu, natural e cultural,
material e imaterial, e uma finisterra das culturas das duas margens do
mediterrânio e do atlântico, do oriente e das américas, atribui-nos uma entidade
turística autónoma e única.
- Criar uma Rede de Rotas e Circuitos Turísticos,
enquanto produtos turísticos integradores, concebidos como interfaces
comerciais entre a oferta de alojamento, restauração, gastronomia e
enologia e a oferta do património regional em produtos de Touring Cultural
e Paisagístico, que preferimos definir como Turismo Cultural, Turismo de
Natureza e Turismo em Espaço Rural integrados e aqui designados em comum
como Turismo Ambiental (Ambiente é natureza mais cultura, paisagem
cultural urbana e paisagem cultural rural).
- Programar e organizar o intercâmbio de missões e
visitas de reconhecimento e negócio que permitam estabelecer relações
institucionais e realizar as primeiras viagens e estadias turísticas.
- Inventariar as necessidades de formação e
transferência tecnológica com as províncias, empresas e escolas chinesas
do ensino médio e superior, na perspetiva das mudanças em curso nos
paradigmas do turismo internacional, com a ascensão dos produtos de
turismo cultural e de natureza, de modo a criar uma “Friendship association” luso-chinesa.
- Criar uma cultura de negócios adequada ao
ambiente empresarial, social e político específico da República Popular da
China e à situação particular das suas diversas províncias, difundindo-a
sob a forma de seminários de divulgação e atividades de consultoria no
mercado ibérico e europeu.
- Criar Rotas e Circuitos transfronteiriços com as regiões autónomas de Espanha, como complemento das estadias em Portugal ou naquele país, para ganhar escala de concorrência e inovação, criando um novo produto de turismo ibérico, mas descentralizado nas diferentes regiões.
Esta orientação estratégia,
salvaguardadas as diferenças, é igualmente válida para os países
ibero americanos e da lusofonia, com o Brasil e Angola à cabeça. O mercado
russo surge aqui intercalado como uma prioridade equivalente, Índia e África do
Sul como mercados potenciais.
A criação de pacotes/produtos
de visita e estadia ibéricos, corresponde também a um desejo quer da diáspora
portuguesa quer da diáspora de Espanha no mundo e, sobretudo dos seus
descendentes, como se pode reconhecer nos contatos espontâneos que estas
comunidades fazem com os respetivos escritórios de turismo situados nas grandes
cidades do mundo, de New York ao Rio de Janeiro.
Os mercados regionais portugueses são relevantes sobretudo para as regiões autónomas fronteiriças da Espanha, pois estamos em presença de comunidades que apresentam baixos índices de turistas de outros países, muito por força da estratégia do turismo espanhol que projetou sobretudo o sul mediterrânico e as grandes capitais do turismo cultural, de Madrid a Barcelona.
Os mercados regionais portugueses são relevantes sobretudo para as regiões autónomas fronteiriças da Espanha, pois estamos em presença de comunidades que apresentam baixos índices de turistas de outros países, muito por força da estratégia do turismo espanhol que projetou sobretudo o sul mediterrânico e as grandes capitais do turismo cultural, de Madrid a Barcelona.
O interesse é obviamente
recíproco e permite-nos aceder não apenas aos turistas espanhóis, ma também aos
fluxos internacionais de turismo que demandam este país irmão.
Tal perspetiva conduz-nos de novo quer à medida estruturante da criação da rede de aeroportos regionais de low cost quer para a reformulação política de entidades regionais de turismo, que necessitam de ser duplamente autónomas, face ao poder central e ao poder municipal, com autoridade política e recursos para desenhar as grandes Rotas e Circuitos, promover acordos e intercâmbios bilaterais, que não tenham que passar pelo centralismo do Terreiro do Paço.
Tal perspetiva conduz-nos de novo quer à medida estruturante da criação da rede de aeroportos regionais de low cost quer para a reformulação política de entidades regionais de turismo, que necessitam de ser duplamente autónomas, face ao poder central e ao poder municipal, com autoridade política e recursos para desenhar as grandes Rotas e Circuitos, promover acordos e intercâmbios bilaterais, que não tenham que passar pelo centralismo do Terreiro do Paço.
As
Cadeias de Valor do turismo, com as suas micro e PME, não apenas os hotéis, mas
também os restaurantes, lojas, agências, transportadoras, guias e outros mediadores,
funcionam na economia nacional como entidades exportadoras e, com um baixo
nível de investimento, são as principais criadoras de emprego, mobilizando a
montante e a jusante os serviços e produções associados ao desenvolvimento
turístico.
A Regiões não litorais de Portugal não estão condenadas a ser meras região de passagem, e podem vir a tornar-se, se diretamente servidas por aeroportos regionais de proximidade, e estruturadas com Rotas e Circuitos do Turismo Cultural e de Natureza, novos segmentos do destino europeu dos mercados americano, africano e asiático, e uma ponte estratégica para o mercado ibérico e para a europa turística.
A Regiões não litorais de Portugal não estão condenadas a ser meras região de passagem, e podem vir a tornar-se, se diretamente servidas por aeroportos regionais de proximidade, e estruturadas com Rotas e Circuitos do Turismo Cultural e de Natureza, novos segmentos do destino europeu dos mercados americano, africano e asiático, e uma ponte estratégica para o mercado ibérico e para a europa turística.
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http://www.iet.tourspain.es/es-es/estadisticas/egatur/paginas/default.aspx
Musée du Louvre
http://www.louvre.fr/
PhilosophyÉticaPhilosophie
http://philoetichal.blogspot.pt/
Travel China Guide
http://www.travelchinaguide.com/
Muito bom!
ResponderEliminarObrigado. Havia um primeiro quadro mal transcrito, agora corrigido.
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