As paisagens culturais das Beiras. Entre a Literatura e a Filosofia Ambiental

 


In Beira(s) - Imagens do Ambiente Natural e Humano na Literatura de Ficção (Carvalho & Vieira, 2023), disponível em:

https://run.unl.pt/handle/10362/160729

António dos Santos QUEIRÓS

Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa

adsqueiros@gmail.com

In memoria de Vasco Martins Costa, o último Diretor da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais _DGEM, que dedicou a sua vida à defesa e valorização do património material e imaterial das nossas paisagens urbanas e rurais. 

Resumo

   A revelação da literatura portuguesa como instância e recurso da questão ambiental, é o objeto deste nosso trabalho, na forma de um curto ensaio, mas no contexto de uma mais vasta reflexão filosófica, social e política, enquadrada pela categoria do ambiente.

   Sendo este volume dedicado às Beiras, focalizámos a sua análise nos autores que percecionaram, de forma premonitória, os valores patrimoniais,  estéticos e éticos. das paisagens culturais desta província. Num espaço-tempo literários balizado, a Ocidente, pelo despertar para a conservação da natureza, com o emergir do pensamento conservacionista e a criação dos primeiros Parques e Reservas (Parque Nacional de Yellowstone, 1872, EUA);  e a evolução da Filosofia da Natureza em direção à Filosofia Ambiental e às suas Éticas, que conduziu ao reconhecimento internacional da crise ambiental e da necessidade de criar um novo modelo de civilização ecológica, cujos primeiros passos se materializam com a realização da United Nations Conference on the Human Environment, Estocolmo, em 1972.

Portugal cria em 1971 a Comissão Nacional do Ambiente _CNA, em paralelo com o PN da Peneda-Gerês e logo no ano da Conferência o seu Serviço Nacional de Parques e Reservas,  mais tarde o ICN e o Instituto Nacional do Ambiente, sob a ação destacada dos professores  José de Almeida Fernandes e João Evangelista na área da Educação Ambiental, onde este ensaio também se inscreve.

Fica então traçado o contorno desta reflexão: Tornar visíveis as pistas que possam conduzir à revelação dos contributos dos escritores portugueses deste período de um século  para a génese da moderna consciência ambientalista e à redescoberta das suas obras nesta perspetiva, os quais, permanecem na sombra enquanto mentoras da consciência ambiental. Evidenciando o valor intrínseco_ estético, ético, científico e económico dessas paisagens.

Palavras-Chave: Ecologia da paisagem. Metafísica da paisagem. Antropocentrismo. Etnocentrismo. Património material. Património Imaterial.

Abstract

The revelation of Portuguese literature as mediator and resource of the environmental issue, is the article object, in the form of a short essay, but in the context of a broader philosophical, social, and political reflection, framed by the category of the environment.

This book is dedicated to Beiras, reason why  we must focus our analysis on the authors that first understood  the aesthetic and ethical values of the cultural landscapes of this province. Crossing a literary space-time marked, in the West, between the awakening to the need for nature conservation, with the emergence of naturalistic thought and the creation of the first Parks and Reserves (Yellowstone National Park, 1872, USA);  and the evolution of the Philosophy of Nature to Environmental Philosophy and its Ethics, which led to the international recognition of the environmental crisis and the need to create a new model of ecological civilization. The first steps in this pathway will be done from the realization of the United Nations Conference on the Human Environment, Stockholm, in 1972

In 1971 the National Commission of the _CNA Environment was created in Portugal, in parallel with the National Park of Peneda-Gerês and soon in the year of the Conference its National Park and Reserve Service was also organized, later the ICN and the National Institute of the Environment, under the prominent action of professors José de Almeida Fernandes and João Evangelista around Environmental Education, for which this essay wants to give a contribution.

The perimeter of this essay  is then drawn: To make visible the clues to understanding the contributions of Portuguese writers to the genesis of modern environmental awareness. which remain in the shade as mentors of that environmental consciousness. And the intrinsic value, aesthetic, ethical, scientific, and economic (Environmental Tourism) of those landscapes.

Keywords: Landscape ecology. Landscape metaphysics. Anthropocentrism. Ethnocentrism. Tangible heritage. Intangible heritage.

 

1.    Introdução

Natureza e paisagem são dois conceitos diferentes, já elaborados pelo “nosso” filósofo Bento de Espinosa (Séc. XVII). Por Natureza se prende representar a paisagem selvagem, onde a intervenção humana é reduzida ou praticamente inexistente. E por Paisagem, a natureza humanizada. Com o desenvolvimento civilizacional e os ciclos de globalização, raras são as paisagens que não têm uma forte presença do trabalho e da vivência humana. Por isso os franceses criaram o conceito de “terroir”, paisagem cultural.

          A Filosofia Ambiental reintegra o homem na Natureza, mas sem nenhum estatuto de soberania ou privilégio, como predador, mas também como construtor de habitats e biótopos. Daí a necessidade de uma reflexão filosófica, no planos dos princípios éticos e dos normativos morais, das relações entre o Ser Humano e a Natureza.

          A esta luz, filosófica, a conceptualização de “paisagem” tem nos nossos escritores uma dupla dimensão, que pudemos definir como “ecologia da paisagem” e “metafísica da paisagem”.

Definimos ecologia da paisagem conceptualmente, como uma visão sistémica interdisciplinar de carácter científico, que engloba os grandes quadros naturais, caracterizados e diferenciados, seja pelos diversos domínios da ciência - que vão das ciências do ambiente às ciências exatas; seja pela presença transformadora do homem no seu esforço de agricultor, pastor e arquiteto da paisagem e daí também o concurso das ciências históricas e humanidades. Visão científica, física, plurissensorial, da paisagem humanizada, mediatizada pela arte literária, ou seja, ecologia da paisagem. Paisagem que desde o advento da Humanidade deixou de ser, progressivamente, paisagem selvagem, para se tornar paisagem cultural.

E conceptualizamos metafísica da paisagem, como o domínio da “espiritualidade”, da “alma” das coisas, dos sentimentos estéticos da “beleza” e do “belo” ou do “sublime”, e das correspondentes categorias estéticas positivas (belo, sublime, maravilhoso, monumental, épico, trágico, dramático…) e das categorias estéticas negativas (feio, horrível, repugnante…), que compreendem também uma valoração moral e ética.

Neste quadro teórico, o conceito de ambiente engloba tudo o que respeita à diversidade natural e à cultura humana plasmadas nessa paisagem, que é um lugar físico, mas também espiritual onde se sobrepõe o devir do pensamento e a multiculturalidade das nossas civilizações. Ambiente é, assim, também um conceito diferente do de natureza, sendo, em síntese dialética, natureza mais cultura.

Completemos este quadro conceptual com uma breve síntese do pensamento de Vasco Costa sobre o conceito de património:

  A noção de monumento histórico engloba a criação arquitetónica isolada, bem como o sítio, rural ou urbano, que constitua testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. (Carta de Veneza,1964) Este conceito postula a conservação e valorização do monumento e da sua paisagem envolvente. Esta noção aplica-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas do passado que adquiriram, com a passagem do tempo, um significado cultural. (Carta de Veneza,1964)

Este outro conceito ultrapassa as visões não científicas e ideologicamente preconceituosas, acerca da superioridade de uns objetos culturais sobre outros, tal como sobre a existência de culturas superiores e inferiores e, numa perspetiva histórica, de períodos de esplendor e decadência das artes, assim, o período clássico seria o expoente da arte e o período medieval, por exemplo, de ocaso e por aí em diante.[i]

 

2.    Filosofia e Literatura

Frederico Nietzsche considerava a arte como sendo“...a missão superior e a atividade propriamente metafísica desta vida ”[ii] Veremos como os princípios que presidem à sua conceção da “tragédia ática” parecem irromper na obra de Aquilino Ribeiro quando nos retracta a alma profunda dos seus concidadãos perdidos nas Terras do Demo, seres humanos reduzidos à dupla condição de sátiros (os faunos Aquilinianos) e anacoretas (condenados ao martírio), que afogam nos prazeres da carne e na bebedeira alcoólica ou mística o terror da existência, sonhando não com o Olimpo mas com uma vida sem míngua de sustento e de paz, sem carência de terra para cultivar e, no entanto, capazes também de perseguir o sonho apolíneo (Volfrâmio, Uma Luz ao Longe), pelo qual atravessam oceanos, escavam montanhas, carregam o diabo às costas em busca do seu individual e libertário destino, longe do fausto e da nobreza dos gregos (sem nada de comum com o novo homem, que a filosofia alemã elevou á condição de “espectador estético,” mas com um autêntico sentido de dignidade, consubstanciada  na  procura da material espiritualidade que a luta pela terra, a casa e o pão representam.[iii]

Simples seres humanos carentes dos benefícios da civilização, mas que lá, onde os Lobos Uivam não conseguirão sobreviver sem a conservação do ambiente sublime das montanhas agrestes, lugar onde a alma serrana se une ao espírito universal.[iv]

 

A Cidade e as Serras

O primeiro protesto do século XX, face ao emergir da crise ambiental, vem do próprio Eça de Queirós e da sua obra A Cidade e as Serras (1901).

A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz, dá-nos o testemunho dos malefícios da civilização, representada pelas grandes metrópoles, onde o consumismo excessivo conduz ao tédio, depois ao pessimismo e ao vazio existencial. Só o regresso à Natureza, que a paisagem humanizada da Beira Douro e as serras simbolizam, pode fazer renascer a natureza humana que existe em Jacinto, como uma segunda pele liberta dos artifícios da vida urbana.

A cidade representa, tradicionalmente, a passagem da natureza à cultura. Mas a cultura da cidade começara a ser entendida como artificial, responsável por uma desnaturalização do homem.

Estamos em presença, no plano social e político, de uma consciência conservacionista, de uma visão específica do mundo rural, que corresponde à camada intelectualizada dos proprietários deslocados para a cidade.

Testemunhos partilhados pelo grupo da Renascença Portuguesa e a sua revista A Águia, em torno da qual se aglutinaram Teixeira de Pascoaes, o seu diretor literário entre 1912 e 1917, António Correia de Oliveira, Afonso Lopes Vieira, Afonso Duarte, Augusto Casimiro, Mário Beirão e Jaime Cortesão, entre outros.[v]

De Pascoaes, o seu guia, doutrinador e poeta maior, vai emergir uma outra emoção estética e uma nova leitura da paisagem, através do retorno metafísico à natureza, como paradigma reencontrado; filiar-se-á numa linha espiritualista, que sonha e deseja a comunhão dos homens com a terra-lar; símbolo original de Pascoaes que é reminiscência dos afetos e da função protetora do lar, associada ao eterno retorno ao seio da terra, de onde se nasce e sob a qual se deposita a morte. E a comunhão surge da “romaria espiritual ao Tâmega”, às montanhas e rochedos que são o lugar sagrado da união cósmica do ser individual com o universo.

Mas é sobre as Beiras que este texto deve falar e por isso voltemos à Beira Douro Na descrição dos céus noturnos do Douro na Quinta de Tormes, feita por Jacinto ou nos versos daquele poeta sobre o Marão, emerge um turbilhão de sensações onde “brilha” a reminiscência platónica da harmonia e da beleza que o filósofo atribui á imanência das coisas: “E é impossível não sentir uma solidariedade perfeita entre esses imensos mundos e os nossos pobres corpos.”[vi]

Assim, neste texto, se retoma a “metafísica a paisagem” e se partirá, para a “ecologia da paisagem”, num processo analítico encadeado ao longo de todo o percurso temático deste ensaio.

Esta abordagem permitir-nos-á reconhecer, ao longo das diversas obras e autores, as grandes questões colocadas pelo emergir da crise ambiental no texto literário e procurar, paralelamente, as raízes que determinam a configuração da cultura contemporânea e prenunciam as suas linhas evolutivas. Apreciaremos ainda a sua influência na questão social e como o ambiente determina decisivamente o devir da nossa sociedade globalizada, desde a ciência à política e à ética.

 

Virgílio Ferreira, com a alma na Estrela

A obra de Virgílio Ferreira estrutura-se em torno de uma única e reiterada questão: o sentido da existência pessoal num universo sem sentido.

Quando o autor aborda a natureza é como alegoria, da vida ausente na paisagem coberta de neve que cobre a aldeia da Beira Baixa, definitivamente deserta, consubstanciando a única alegria breve (título da sua obra maior) que é permitida ao homem, mas com a particularidade de, para além da persistente metáfora da angústia existencial, emergirem da própria estética do texto as imagens realistas… da neve na serra natal, dos estorninhos voando a uma figueira, da morte piedosa de um cão…

Enfim, angústia existencial perante a morte de todos os deuses, mesmo daquela ideia do divino imanente ao devir da natureza e da natureza humana para o Bem, que em Antero de Quental substituiu os cultos religiosos e que significa o fim do esplendor que “…irradiava da criação vivida como obra de Deus.”[vii]

 

Torga, Pascoaes e o sublime das serranias

A Beira e a sua Serra da Estrela, espelho da relação telúrica entre as pedras e os seres...

 

Há rios na Beira? Descem da Estrela. Há queijo na Beira? Faz-se na Estrela. Há vento na Beira? Sopra-o a Estrela. Há energia elétrica na Beira? Gera-se na Estrela. Tudo se cria nela, tudo mergulha as raízes no seu largo e materno seio. Ela comanda, bafeja, castiga e redime. Gelada e carrancuda, cresta o que nasce sem a sua bênção; quente e desanuviada, a vida à sua volta abrolha e floresce. O Marão separa dois mundos - o minhoto e o transmontano. O Caldeirão, no polo oposto de Portugal, imita-o como pode. Mas a Estrela não divide: concentra. O muro cresceu, alargou, e transformou-se na extensão que teria de partilhar. O pouco que ficou desse abraço, são flancos, abas, encostas e escorrências de aluvião.[viii]

 

          Numa viagem lunar entre o Vouga e o Douro, agora com Teixeira de Pascoaes, encontramo-nos em presença do seu arquétipo da união espiritual com a montanha-mãe, mediuna do próprio universo: “Em derredor da montanha tudo é sonho, silêncio e crepúsculo, espraiando-se numa onda circular, até às estrelas remotas do horizonte. Todo o vasto mundo é feito de matéria imponderável; mágoas nublosas formas espirituais, cingindo a densa cristalização da serra.”[ix]

 

Aquilino Ribeiro, notável e premonitório escritor ambientalista

É igualmente extraordinário e surpreendente encontrar na obra de Aquilino Ribeiro a constante presença dessa Via Sinuosa ambiental, desde os contos de  Jardim das Tormentas  (1913) até ao  Livro da Marianinha  (1967), com destaque para alguns escritos de onde emerge uma premonitória e nítida temática ambientalista.[x] Tais são as obras de reflexão sobre a ética antrópica e a ética animal, do ciclo animalista que inclui O Romance da Raposa (1923), Arca de Noé, III Classe (1935) e O Livro de Marianinha.

Os romances nos quais se analisa o impacto no mundo rural da expansão do capitalismo internacional, onde se pugna pela conservação da natureza e a favor do desenvolvimento sustentável, em Volfrâmio (1944) e Quando os Lobos Uivam (1958).

E aqueles outros em que se revela uma aguda conceção da ecologia global, da infinidade das relações entre os seres vivos e a terra, que percorre a totalidade da sua obra, e atravessa claramente os livros Terras do Demo (1919) e A Casa Grande de Romarigães (1957). Este romance conta a história de três séculos de paisagem humanizada do Noroeste, retomando a tese aquiliniana de 1923”…A natureza não tem simpatias especiais por nenhum dos seus seres”, inscrita no seu comentário ao Romance da Raposa e desenvolvida no posfácio do segundo destes livros, quando a precariedade da vida e da obra do homem se confronta com a neutralidade da natureza “…em matéria do bem e do mal, sem privilégio de carinhos para ninguém,” traduzindo neste postulado o princípio filosófico que sustenta toda a crítica coeva ao antropocentrismo egocêntrico.

Ou seja, Aquilino afirma que o ser humano não possui nenhum estatuto de superioridade que lhe permita  reinar sobre a restante natureza e dela dispor sem limites, ideia em que a Filosofia Ambiental fundamenta a crítica ao antropocentrismo. A “razão ambientalista” moderna formula um novo imperativo categórico para a ação do homem, mais além da máxima kantiana de conformação dos atos individuais com o princípio de uma lei universal, um novo quadro ético, o qual resulta da necessidade de configurar a conduta humana nos limites que salvaguardem a continuidade da vida e a sua diversidade. Esta mesma ideia serviu de base à formulação de “imperativo da responsabilidade”, que é um contributo das Éticas Ambientais e ao desenvolvimento do conceito de Razão Ambiental. (Ver na Bibliografia as obras citadas de Hans Jonas e António dos Santos Queirós).

 Regressemos à reflexão filosófica e poética de Aquilino: a vida, não sendo mais que um momento de equilíbrio que fulge”…nos laboratórios de integração e desintegração da Natureza , é,  …com a sua beleza e o seu drama, uma razão suficiente, por assim dizer, para  o Mundo existir .”[xi]

A génese da floresta surge-nos, no início de A Grande Casa de Romarigães, como esplendor desse nascimento e fundamento ecológico do sortilégio (da diversidade) da vida:

 

Do pinhão, que um pé de vento arrancou ao dormitório da pinha-mãe, e da bolota, que a ave deixou cair no solo, repetido o ato mil vezes, gerou-se a floresta. Acudiram os pássaros, os insetos, os roedores de toda a ordem a povoá-la. No seu solo abrigado e gordo nasceram as ervas, cuja semente boia nos céus ou espera à tez dos pousios a vez de germinar. De permeio desabrocharam cardos, que são a flor da amargura, e a abrótea, a diabelha, o esfondílio, flores humildes, por isso mesmo trofeus de vitória. Vieram os lobos, os javalis, os zagais com os gados, a infinita criação rusticana…[xii]

 

Enfim, o quadro da evolução da vida, ou o retrato poético da floresta mediterrânica, vista como um ecossistema suporte da diversidade biológica.[xiii]    

A tomada de consciência, na escrita literária, da perda da biodiversidade, em consequência da urbanização cega, que não poupava os melhores solos, aprofundou-se perante o desenvolvimento da industrialização primária dos campos, para a extração de minérios com valor estratégico e militar.  A II Guerra Mundial deu origem à proliferação intensiva da mineração do volfrâmio, com empresas inglesas e alemãs revolvendo as terras de Norte a Sul na procura desse mineral estratégico, provocando impactos brutais no interior do país, mas que o final da confrontação se concentrou nos coutos mineiros de Aljustrel e S. Domingos, Panasqueira, Borralha e Nordeste Transmontano. Deste processo retiraram os livros Minas de S. Francisco, de Namora, e Volfrâmio, de Aquilino, a sua matéria poética. Obras contemporâneas do romance singular de Soeiro Pereira Gomes, Engrenagem, que as precedeu na narrativa dramática do processo de industrialização do velho Portugal, limitado e contraditório, e que Ferreira de Castro prosseguiu no romance A Lã e a Neve, paradigma das transformações modernas do mundo rural, simbolizado na expansão e influência dos lanifícios da corda da Serra da Estrela sobre o modo de vida e os costumes das aldeias serranas, dos seus rebanhos, agricultores e pastores ancestrais.

Como veremos, é a saga destes heróis proletários ou dos seus novos senhores, que está no centro das transformações profundas da paisagem humanizada portuguesa estigmatizada pelo conflituoso avanço da industrialização e das relações de produção capitalistas no mundo rural, e que dariam origem ao romance proibido de Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam.

 

Industrialização e conservação da natureza, o emergir do conflito.

Contra essa engrenagem política, económica e social, escreveu Soeiro Pereira Gomes.

          Mas o que queremos destacar no livro Engrenagem (1944) é o surgimento direto, na nossa literatura, do conflito entre o desenvolvimento industrial e a conservação da natureza e do ambiente, personificado na recusa do camponês Zé Lérias em vender a sua terra aos donos da fábrica e no intercalar na narrativa de painéis dramáticos denunciando os efeitos nefastos da poluição, a destruição caótica da paisagem natural, marcada pelas cicatrizes das grandes obras de engenharia, numa narrativa pontilhada pelos desabafos dos rendeiros-operários que lamentam o abandono das suas courelas e, finalmente, no trágico desenlace do romance, com a crise da indústria e o seu encerramento, deixando apenas um ambiente de desolação e ruína.

O impacto das campanhas do volfrâmio, não apenas na transformação da paisagem, mas ainda e sobretudo no plano ético, emerge das obras Volfrâmio (Aquilino Ribeiro) e as Minas de S. Francisco   ( Fernando Namora ), esta em terras do latifúndio.

Podemos reler hoje esses romances e a trilogia do Ciclo Port Wine (Alves Redol), como paradigmas reveladores do modelo atual das relações económicas desiguais entre os países do Norte desenvolvidos e os países do Sul dependentes e subdesenvolvidos e do caracter volátil do investimento que visa apenas o lucro.[xiv]

Mr. Hinckser, o poderoso alemão (como podia ser Mister Corbert, o representante do império britânico, enfatizava a missão “ecuménica” do capital nazi, que fundia e destilava nos altos-fornos das indústrias de guerra, o níquel da Finlândia, o ferro norueguês, francês e espanhol, o volfrâmio de Portugal, o petróleo romeno, a bauxite de Itália, Hungria e Croácia, e o carvão do Ruhr.[xv] O “volfro“, na expressão de Aquilino…

 

… significava para as populações do Norte, deserdadas de Deus, o que o maná foi para os Israelitas no deserto faraónico. Imagina-se o que seriam os impulsos da horda esfaimada diante do alimento providencial, no afogo do dejejum…”[xvi] As aldeias ancestrais mudavam de fisionomia.

 

Em suma:

 

… Formava-se uma moral nova com a nova indústria. Dolo, roubo, mentira, falsidade, desde que constituíssem processos de promover o negócio do volfrâmio, tornavam-se ordinários, por conseguinte, de prática corrente, discutível ainda, mas admitida. Resultava de tal consenso que procuravam todos empulhar-se uns aos outros o mais conspicuamente possível, e que falsificar o minério, fritando-o, desencantando-lhe substitutos falaciosos, era um recurso industrial como outro qualquer…[xvii]

 

Do Ciclo Port Wine, e de um outro olhar sobre a Beira Douro, selecionámos uma passagem do primeiro volume, Horizonte Cerrado, reveladora da trama de sujeição que atinge os pequenos produtores durienses, um diálogo entre o agente intermediário dos exportadores e um dos seus homens de mão…

 

O Dr. Freitas deu uma gargalhada.

_ Pois de quem queria que fosse?… Nosso?!… Você tem coisas!…O lavrador é o burro e o comércio português a albarda; mas quem vai às cavaleiras é o beef. Pois então!…E sem risco de cair, porque o burro é manso e a albarda vai bem presa.”[xviii]

 

O povoamento histórico da terra “... áspera, nua, seca...”, surge poeticamente transfigurado no esforço e sofrimento dos homens na construção da paisagem, que a poesia de José Gomes Ferreira evoca.[xix]

Assim chegamos ao romance de Ferreira de Castro, A Lã e Neve, construído como um fresco clássico, esculpido num frontão aberto sobre as naves da Estrela, de onde emergem os rebanhos e a casa dos homens. É exatamente no Pórtico que fica registado o percurso histórico da manufatura dos lanifícios e se destaca o papel da evolução tecnológica na transformação da natureza e das relações sociais.

A lenta transformação da paisagem rural, pelo esforço camponês de arroteamento da terra inculta e o esbulho desse património secular, em proveito dos novos proprietários capitalistas, das monoculturas industriais e do mercado das rendas fundiárias, que marca a viragem económica e social dos anos 50, de fomento do capitalismo nos campos, encontrou a sua primeira expressão na narrativa  dramática do Romance A Noite e a Madrugada, de Fernando Namora, sob o pano de fundo da saga dos camponeses e pequenos contrabandistas da raia fronteiriça.

Todos os símbolos elementares da sua relação patriarcal com a terra estão aqui representados: A laranjeira plantada no quintal, que um comerciante de palavra enviara pelo caminho-de-ferro. A seara familiar e o forno comunitário. A lenha roubada do pinhal do novo senhor e transportada furtivamente pela mulher, dona da casa e responsável pela alimária e pela criação doméstica.

Relação patriarcal, mas também anúncio do fim brutal de um período histórico, pressentido na violência crescente que percorre o diálogo entre o camponês e o feitor, cortado abruptamente com a morte a tiro do cão de guarda, alegoria da morte próxima de um mundo antigo que Ti Parra protagoniza. E se fecha no cruel assassinato do velho, enquanto liderava a reclamação dos direitos das suas gentes, aparvalhadas e indefesas, chicoteado até à morte quando pretendia suster o ataque dos mastins açulados pelo feitor.

Mas este protesto dos escritores, solidários com a terra e a vida dos camponeses, retratados como conservadores e agricultores da paisagem, atingiria um eco nacional, num outro romance. A obra de Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam, partindo do conflito, gerado nos anos 50, entre a economia dos povos serranos e a florestação dos baldios para abastecer as novas indústrias das madeiras e da celulose, procedeu a um amplo confronto de posições, questionando os interesses em presença e colocando, no centro do debate, o impacto no ambiente rural do modo de produção do capitalismo contemporâneo.

 

A condição humana: filhos da terra (e do mar) e da sua agricultura

Neste contexto sociopolítico emergiu, em paralelo com os biólogos, geógrafos, físicos e agrários empenhados na proteção da natureza, uma nova classe de cientistas e técnicos capazes de entender toda a complexidade e importância do mundo rural e da sua paisagem humanizada, sob a designação comum de paisagistas. Recordemos o pensamento de um dos seus mais ilustres representantes:

 

É tempo de afirmar que se a cidade é indispensável à organização da sociedade e ao progresso da humanidade, se a indústria muito tem contribuído para facilitar a vida e lhe dar conforto, é da paisagem rural que depende a sobrevivência da humanidade, porque é ela com o mar, a única fonte de alimentos, a única fonte de água potável, e o último suporte de atividade biológica autónoma e equilibrada, indispensável à continuação da vida na terra. Por isso a atividade da Sociedade Rural é a única que continua a ser obrigatória, sendo todas as outras facultativas, quer a sociedade urbana-industrial se aperceba ou não desse facto.[xx]

 

A revalorização do mundo rural surge assim depurada de qualquer sentimento atávico e enquadrada pela preocupação de introduzir no campo, de forma harmoniosa, toda a mais-valia científica da época. Encontramos na literatura uma forma particular dessa cosmovisão, a do reencontro com a terra e o homem do campo, como em Irene Lisboa e Miguel Torga. Tomemos os versos de Irene Lisboa.

 

Quem não sai da sua casa,

Não atravessa povos, montes, vales,

Não vê as cenas bíblicas das eiras,

…Cria mil olhos para nada... [xxi]

 

São os mil-olhos do Poeta e é nesta linha que evoluiu a ficção neorrealista, mas o seu fio condutor, a Terra e o Homem, não é exclusivo dessa corrente literária, antes constitui um dos arquétipos que percorre as obras mais representativas da nossa literatura contemporânea. Vejamos como se manifesta essa constante, através da diversidade dos autores e textos.

A propósito do Diário escrito por Torga, a professora Maria Lúcia Lepecki assinala o “…encontro eucarístico, também ele nutricional e energético…do escritor… com a Terra Mater”.[xxii] E enfatiza: Vendo e dizendo a Terra Mater, Torga escreve a sua peculiaridade de português, continente e conteúdo da sua peculiaridade de pessoa. Faz a ponte da comunhão com o sofrimento do seu povo, com o que ele foi, é e poderá vir a ser”.

Com Aquilino… “É o mesmo povo, que vive em terras onde... nunca Cristo ali rompeu as sandálias, passou el-rei a caçar, ou os apóstolos da Igualdade em propaganda. Bárbaras e agrestes, mercê apenas do seu individualismo se têm mantido, sem perdas nem lucros, à margem da civilização…”[xxiii]

Celebradas na sua biodiversidade, são as Terras do Demo, em que...” Quando se ergue uma lancha em terra húmida de lameira, acontece fervilhar aos nossos olhos toda uma fauna prodigiosa multicor.”[xxiv]

Personagens e ambientes que se erguem nas páginas de Ferreira de Castro como “pão levedado” entre o contraste da paisagem e as almas que as povoam.“... Apanhei o contraste da paisagem e procurei surpreender a atmosfera das almas...”[xxv]

 

O Romance da Raposa

A propósito desta obra, escrita em 1924 como literatura infantil, Aquilino Ribeiro produziu o seguinte comentário.

 

… Os meus assuntos vou buscá-los à história natural racionalizando-os. Nós inventamos, para explicar a mecânica da nossa inteligência, esta palavra mágica: razão. Ao complexo de fenómenos, de que o nosso cérebro é Teatro, preside esta espécie de deusa, ou melhor, fada. Que mais não seja é um expoente.  Para os animais, o instinto é a origem e faculdade acima dos seus atos. Mas eu, por experiência, tenho verificado que há atos da vida animal, o homem à parte, que superam o âmbito de tal potência.  Ora são esses atos que eu transponho, humanizo, no que imagino tais bichos movidos pelos mesmos móbiles vitais que nos animam a nós.[xxvi]

 

Sublinho a afirmação de Aquilino, baseada na sua experiência, de que há atos da vida animal que superam o instinto e a aproximam da vida humana. E atente-se na reflexão posterior, acerca da raposa Salta-Pocinhas.“… É evidente que a minha personagem tem este encanto: existir, ser conhecida, e eu pôr à vista a sua relojoaria íntima, engenhosa e arteira, e cada criança admirar nela as habilidades da nossa espécie para subsistir e impor-se na natureza, que não tem simpatias especiais para nenhum dos seus seres.”[xxvii]

Retenhamos aqui o pensamento final: “… A natureza não tem simpatias especiais para nenhum dos seus seres.”

Eis uma conclusão notável, do ponto de vista científico, sobre as relações entre a natureza e o homem de consequências revolucionárias para fundar uma nova visão ética, onde a capacidade de sentir (alegria e tristeza, dor e felicidade, prazer …) enfim, toda a dualidade do ofício de viver, se transforma num critério com relevância moral.

A aproximação à filosofia lorenziana, que lhe foi posterior, é também aqui sugerida: o homem encarado na sua ligação umbilical com o comportamento dos animais superiores, mas sem as capacidades naturais que esses seres adquiriram na sua relação com o meio ambiente.[xxviii]

 

Os Bichos

A ética animal, num enquadramento humanista e a valorização da experiência do sentir, como critério moral e moralizador das relações do homem com a sociedade e a natureza, atravessam a obra de Aquilino Ribeiro e também de Miguel Torga.

Este outro autor prossegue na linha aquiliniana de humanizar a vida dos Bichos, abordando todas as emoções e sentimentos que marcam a condição humana nos retratos que traçam de diversos animais. Vamos reproduzi-los em rápido esboço, escolhendo quatro deles:[xxix]

Bambo

O sapo que conhecia a ciência da germinação da vida e a ensinava aos homens… Morto pela ignorância e a estupidez humanas.[xxx]

Cega - Rega

Humilde criatura, nascida num monturo, embrião, larva e crisálida que se eleva até à crista do castanheiro. Ícone da renovação eterna da vida, metamorfose da nossa própria existência efémera, transmitindo a mensagem dos poetas que celebram a dignidade humana perante o grande e supremo mistério…[xxxi]

Miura

O touro nobre e livre encurralado na arena e que prefere a morte à humilhação, num combate desigual com a violência irracional do ser humano.[xxxii]

Vicente

Hiper símbolo da autonomia das criaturas face ao arbítrio dos deuses, o corvo Vicente encarna todos os arquétipos do esforço de libertação dos homens dos seus limites naturais. Encurralado na Arca de Noé, metáfora da Terra fustigada pela cólera de Deus contra a Babel dos Homem.[xxxiii] Ele desafia o próprio criador, reclamando o direito a decidir o seu destino.[xxxiv]

 

A paisagem urbana. As cidades

As cidades têm Alma e é a escrita de Miguel Torga que nos revela as cambiantes das três grandes urbes do Portugal contemporâneo. Situemo-nos em Coimbra: onde o seu ambiente mediterrâneo, sob o impulso de novos produtos agrícolas trazidos pela expansão, como o milho, criou condições favoráveis à produção de excedentes agrícolas, utilizados para erguer os monumentos renascentistas e pagar o soldo dos artistas estrangeiros. Mas, escreve Torga, à escala da pobreza e da mediania cultural que marcaram os primeiros séculos da nossa nacionalidade e, em regra, a conduta das nossas classes dominantes e círculos do poder: com a expulsão dos judeus, a perseguição dos árabes, cristãos-novos e estrangeirados e o mau governo das especiarias, do ouro e dos diamantes, deixando-nos quase sempre afastados ou em atraso face às grandes revoluções científicas, culturais, económicas e sociais da Europa.

 

…Nenhuma outra cidade como Coimbra testemunha tão completamente, na sua pobreza arquitetónica, na sua graça feita de remendos e pitoresco, nos seus recantos sujos e secretos, os limites da nossa capacidade criadora, a solidão da nossa alma, e o jeito camponês com que nascemos para tirar efeitos cénicos do próprio gesto de erguer uma videira…[xxxv]

 

Ao mesmo tempo, Afonso Lopes Vieira questionava os responsáveis municipais sobre a evolução contemporânea do urbanismo, produzindo reflexões de uma prodigiosa lucidez e dramaticamente atuais.  Dirigindo-se aos autarcas de Coimbra, em particular, recomendava-lhes”… que tivessem cuidado em que a alma da cidade, que guarda a sua expressão no conjunto panorâmico e arqueológico, se não embaciasse pouco a pouco, até ficar muito menos expressiva…”  Para concluir com uma surpreendente e radical advertência. De que seria preferível que “…as indústrias de Coimbra se extinguissem, a que secassem os choupos das margens do Mondego.” 

Mais adiante e em defesa do modesto, mas precioso Arco de Almedina, relíquia das portas medievais da muralha, denunciava a confraria dos especuladores urbanos”… Mestres destruidores de Coimbra… delirantemente inspirados no imitar do ideal da civilização hodierna.

A apóstrofe do poeta surgiu nove anos antes das conclusões da Conferência Internacional de Atenas sobre a Restauração dos Monumentos, vulgarmente conhecida como Carta de Atenas. Publicada em 1931. A leitura de alguns dos seus princípios e sobretudo do capítulo dedicado à Valorização dos Monumentos permite-nos evidenciar a lucidez das preposições do poeta Ruben A. E do seu protesto contra a destruição da Alta de Coimbra, pelo camartelo municipal do “estado novo”.

 

… De uma cajadada matavam a casa do Eugénio de Castro, a velha Associação Académica na Bastilha, o Pirata, as ruas pitorescas como mais não havia na Europa. Os aselhas e os pataratas de Lisboa, aliados aos colaboracionistas traidores, avançavam metodicamente na destruição da coisa mais bela do nosso património - o musgo quente de nomes que por ali viveram e sentiram. [xxxvi]

 

Um novo paradigma de turismo emerge e torna-se hegemónico à escala do mundo: O Turismo Ambiental, que integra o Turismo Cultural, o Turismo de Natureza e o Turismo em Espaço Rural.

O património cultural e natural que esta literatura revela, constitui o recurso crítico que permite configurar os produtos e a oferta do Turismo Ambiental.

Em tese, os museus, monumentos e afins, são as estruturas orgânicas do turismo cultural. Os parques e reservas, os monumentos naturais, constituem as estruturas orgânicas do turismo de natureza, em conjunto com as paisagens culturais. O turismo em espaço rural, organizado a partido de casas vernáculas, aldeamentos, quintas… partilha com o turismo de natureza os recursos existentes nessas paisagens culturais.

Sem a sua conservação e valorização, as 7 cadeias de valor da economia do turismo já não conseguem obter mais-valias sustentáveis, correspondendo à mudança de “gosto” da classe média, o gosto como categoria económica, mas que integra os novos valores estéticos e morais da Filosofia Ambiental e das suas Éticas.

 

3.    Conclusões

A questão ambiental, enquanto crise multilateral, económica, política, social e ética, desempenha agora um papel vital na transformação da cultura e da identidade nacionais, assumindo uma dimensão filosófica, social e política de crítica ao atual status social, ao seu modo de produção e troca de mercadorias, à sua amoralidade empreendedora, enunciando princípios e linhas de força de um novo projeto de democracia participada e de desenvolvimento sustentável, servidos por uma nova ética ambiental que nasce da crítica ao antropocentrismo e ao etnocentrismo, mas também ao fundamentalismo anti-humanista. 

Acompanhando as tendências mais avançadas da economia do turismo e para além delas, o testemunho literário dos nossos escritores convoca a consciência cívica nacional e a razão ambiental, para o imperativo ético de defesa e valorização das paisagens culturais, hoje danificadas pela desordem urbana, e, no campo, condenadas ao abandono e à devastação provocada pelos incêndios, colocando-nos face a uma opção histórica: o renascimento do mundo rural ou a derrocada da nossa própria civilização.

 

 

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Notas:

[i] Consultar o seu último trabalho: Costa, Vasco (2020). From an Inventory to a Heritage Information .On Examining a New Paradigm of Heritage With Philosophy, Economy, and Education, edited by António dos Santos Queirós. IGIGlobal, Hershey, USA.2020

[ii] Frederico Nietzsche, Prefácio a Richard Wagner, da obra O Nascimento da Tragédia, escrito em 1871, pág. 22

[iii] Referência a Schiller.

[iv] Ver as obras de Aquilino Ribeiro: Andam Faunos Pelos Bosques, São Bonaboião, Anacoreta e Mártir, Terras do Demo, Volfrâmio e Uma Luz ao Longe e a nossa análise do romance Quando os Lobos Uivam, mais adiante.

[v] A partir de 1912

[vi] Contos de Eça de Queirós, Civilização, pág. 269. Este conto é, na estratégia literária de Eça, o ensaio preparatório de A Cidade e as Serras.

[vii]Antero, citado por Fernando Catroga e Paulo A. M. Archer de Carvalho, no Manual da Universidade Aberta, Sociedade e Cultura Portuguesa II, 1994,  pp 294 - 295, afirma que Michelet lhe ensinou  “… a ver e a amar na Natureza uma existência espontânea, uma vida universal, e não uma sucessão de formas inertes, e a Humanidade, uma razão e uma consciência coletivas, uma alma e não um mecanismo ou uma abstração.

[viii] Ibidem, pág. 72.

[ix] Guia de Portugal, Tomo de Entre Douro e Minho, I- Douro Litoral, pág. 507.

[x] Como afirma Urbano Tavares Rodrigues: “Não há talvez em toda a literatura portuguesa quem, como Aquilino Ribeiro, sinta e exprima o campo em todas as suas dimensões, sem cisco bucólico no olhar que lhe tolde a visão das violências, dos  medos, das ferocidades, da terrível luta pela sobrevivência, mas sempre maravilhado ante a beleza ardente de um arrebol ou da erva geada e do caramelo a brilhar nos rios e nas lamas em manhã límpida e azul. Familiar dos animais e das plantas, das amplas carvalhas, das flores subtis, dos próprios alcantis quedos e rudes. Deslumbrado não só perante os quadros que a natureza a todo o passo compõe, para os que sabem vê-los, mas sobretudo perante o milagre da vida a suceder-se, a nascer, a vibrar em alta tensão ou em suave murmúrio, a brotar da próprio morte.” Aquilino Ribeiro, Romances Completos,  A Via Sinuosa, pág. XVIII do Prefácio.

[xi] Aquilino Ribeiro,  A Casa Grande de Romarigães, pág. 285, 1957.

[xii] Ibidem,

[xiii] Carlos de Oliveira, na crónica intitulada Na Floresta, escrita e reescrita entre 1966 e 1970, publicada em  O Aprendiz de Feiticeiro, traça um largo quadro da utilização da floresta como metáfora e símbolo, na literatura portuguesa.

[xiv] Esta dependência aflora também noutras narrativas romanescas, em torno do ciclo de recessão que acompanha sempre as monoculturas, do cacau, na Nau de Quixibá, de Alexandre Pinheiro Torres, da borracha, em A Selva, de Ferreira de Castro…

[xv] Aquilino Ribeiro, Volfrâmio, pág. 125, 1943.

[xvi] Ibidem, Prefácio.

[xvii] Ibidem.

[xviii] Alves Redol, do Ciclo Port Wine, o romance Horizonte Cerrado, pps. 274 e 275, três volumes publicados entre 1949-53. A este título seguiram-se  Os Homens e as Sombras  e  Vindima de Sangue.  

[xix] José Gomes Ferreira, Heroicas, Poema XXV, pág. 148, 1936/3.

[xx] Intervenção do Prof. Francisco Caldeira Cabral no Congresso da Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas, organizado em Tóquio no ano de 1964.

[xxi] Irene Lisboa, Pequenos Poemas Mentais, in Revista Portugal, nº 3, 1938.

[xxii] Maria Lúcia Lepecki, Sobreimpressões, pág. 144.

[xxiii] Aquilino Ribeiro, Terras do Demo, pág. 1 do Prefácio, 1918

[xxiv]. Ibidem, pp. 3 e 4 do Prefácio.  

[xxv] Ferreira de Castro,  Terra Fria, pág. 3 do Pórtico, 1934.

[xxvi] Aquilino Ribeiro, O Romance da Raposa, 1924, pág. 169.

[xxvii] Ibid., pág. 171

[xxviii]  Konrad Lorenz - A Agressão. Uma História Natural do Mal. Lisboa: Editor: Relógio D'Água Editores, 1992

[xxix] Miguel Torga, Bichos, pág. 12, 1940.

[xxx] Ibid., pp. 65, 66 e 67.

[xxxi] Ibid., pág. 67.

[xxxii] Ibid., pp. 109, 11, 116 e 117.

[xxxiii] Ibid., pp. 128 e 131.

[xxxiv] Ibid., pp. 133 e  134.

[xxxv] Miguel Torga, Portugal, pág. 87.

[xxxvi] E ampliado depois pela Carta de Veneza (1966) e a Carta Europeia do Património Arquitetónico, adotada em Outubro de 1975 em Amsterdão, sob a iniciativa do Conselho da Europa. Fernando Namora  identificava-se com os seus princípios e como por eles se bateu com a sua escrita.


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